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Horror, a musa imortal da arte e da cultura

Philipp Jedicke
24 de setembro de 2023

Mostra "Morte e Diabo – Fascinação do horror" explora um gênero tão menosprezado quanto ancestral e onipresente. Artifícios do terror atravessam desde a música, cinema e literatura até a moda e a indústria de brinquedos.

Cena do filme "Nosferatu", de F.W. Murnau,
"Nosferatu", de F.W. Murnau, 1922, definiu a estética do cinema expressionistaFoto: Image courtesy Ronald Grant Archive/ Picture Library/IMAGO

Desde tempos imemoriais, o horror encontrou o caminho para várias formas de arte, sejam contos da carochinha, livros, pinturas, esculturas, canções ou filmes. Mas, apesar dessa longa tradição, o gênero costuma ser menosprezado como superficial.

Com a exposição Tod und Teufel – Faszination des Horrors (Morte e Diabo – Fascinação do horror), no Kunstpalast Düsseldorf, a curadora Westrey Page pretende desbancar essa noção. Ela comenta que, nas últimas décadas, o terror só teve presença marginal em grandes mostras, sendo esta única ao explorar o horror como fonte de inspiração para campos culturais que vão da arte elevada à moda, da música erudita a séries de brinquedos.

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A mostra abre com um prólogo histórico, passeando pelas influências do horror nas artes e cultura, desde os demônios fantásticos da Renascença às sinistras sombras nas paisagens do Romantismo e as personagens icônicas do cinema do início do século 20, como o vampiro Nosferatu de Friedrich Wilhelm Murnau.

Ao longo da história, artistas do porte de Albrecht Dürer, Friedrich Wilhelm von Schadow e Francisco de Goya abordaram, em suas obras, medo, visões e pesadelos. "Acima de tudo, minha esperança é que grande parte do público estará, assim, apta a interpretar de forma diferente as atuais manifestações de horror, talvez passando a ter mais respeito por elas", explica Page.

"O Juízo Final", de Friedrich Wilhelm von Schadow (1788-1862) e alunosFoto: Kunstpalast – Horst Kolberg

Horror a serviço do conservadorismo ou da subversão

Através de 120 objetos – quadros, ilustrações e instalações de diversas formas de arte dos últimos dois séculos –, Morte e Diabo comprova como certos artifícios do horror são revisitados repetidamente. Trechos de clássicos do cinema expressionista alemão como O gabinete do Dr. Caligari (1920) Nosferatu (1922), lado a lado com os mais modernos O exorcista (1973) ou Halloween: A noite do terror (1978), testemunham a continuidade do gênero na sétima arte.

Filmes de terror têm o potencial de promover valores tanto conservadores quanto subversivos, por exemplo, advertindo contra o desconhecido ou permitindo uma mudança de perspectiva sobre temáticas sociais, ao colocar a questão: quem é o verdadeiro monstro aqui?

Desde o primeiro King Kong, de 1933, a velha fórmula "herói contra monstro" tem sido questionada. Em vários filmes de vampiro contemporâneos, os sugadores de sangue deixaram de ser os vilões para se tornar os protagonistas buscando seu nicho de sobrevivência numa sociedade cruel.

Escultura "Red rack of those ravaged and unconsenting", de King Cobra, 2018Foto: Doreen Garner / Foto: kunst-dokumentation.com / Manuel Carreon Lopez

Um tema recorrente é uma unidade central estar ameaçada por algo que vem de fora (Os invasores de corpos [1978] ou O enigma de outro mundo [1982]). No entanto, essa estrutura narrativa estabelecida também pode servir a uma troca de papéis, em que "o monstro, a bruxa, o vampiro ou o forasteiro é capaz de afirmar uma alteridade potencializada", ressalva a curadora Page.

"E isso também pode ser usado para questionar normas sociais, sistemas de poder. E, no fim das contas, é o que estamos vendo mais e mais no horror, nestes dias, em diferentes gêneros, inclusive na cultura pop."

Filme "A Bruxa", de Robert Eggers, questiona: quem é o verdadeiro monstro?Foto: A24 Films

"Seja você mesma, seja única, seja uma monstra"

A exposição em Düsseldorf mostra também a influência que a cena goth mais recente teve sobre as criações dos estilistas Rei Kawakubo, Rick Owens e Viktor & Rolf, entre outros. Por sua vez, a estética das bandas gothic, wave e, sobretudo, metal – sejam as capas de seus álbuns, as camisetas ou a letragem de seus logos – é fortemente inspirada nos antigos mitos que tratam de terror e asco. Esse simbolismo também se manifesta na música pop: Lady Gaga se refere a seus fãs como "Little Monsters" (Monstrinhos).

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Nos últimos anos registra-se um renascimento do terror, refletido, por exemplo, no sucesso internacional da série The Walking Dead, ou da franquia Monster High, da Mattel, fabricante da Barbie, em que bonecas como Frankie Stein ou Draculaura horrorizam, sob o slogan: "Seja você mesma, seja única, seja uma monstra".

"Então trata-se de celebrar e aceitar a própria identidade e diferenças", resume Westrey Page. Ao preparar a mostra, ela própria se espantou com a diversidade do gênero de terror: "Pode ser sério, pode ser sociopolítico, mas também pode ser sedutor. O horror pode ser divertido, cheio de humor negro. É simplesmente tão diverso!"

Corpo como local de terror: Lady Gaga entre motocicleta e mulherFoto: Universal Music International, Interscope Records

A escultura de 2018 Red rack of those ravaged and unconsenting, em que a artista americana King Cobra imita carne de açougue, explorando a vulnerabilidade do corpo e o nojo que desperta; a capa do disco Born this way, em que Lady Gaga é parte motocicleta, parte humana; Max Schreck como Conde Orlok em Nosferatu: todos os três transgridem fronteiras e podem abrir a mente dos espectadores através de um momento de choque.

"Acho que o horror nos dá espaço para processar nossos próprios medos e, no fim das contas, ver nossa sociedade de uma perspectiva diferente", conclui a curadora Westrey Page.

Tod und Teufel – Faszination des Horrors (Morte e Diabo – Fascinação do horror) se dirige a maiores de 12 anos e pode ser visitada no Kunstpalast Düsseldorf até 21 de janeiro de 2024.

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