ONG Human Rights Watch aponta que número de presos passa de 150 e que paradeiro de muitos é desconhecido. "Protestar é um direito, não um crime", afirma diretor. EUA pedem fim aos cortes na internet na ilha.
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A organização Human Rights Watch (HRW) denunciou nesta terça-feira (13/07) que o número de detidos nos protestos ocorridos em Cuba "passa de 150", e exigiu o fim das violações aos direitos humanos no território cubano.
"A lista inicial de detidos nos protestos em Cuba passa de 150. Não se sabe o paradeiro de muitos deles. Exigimos o fim dessas violações aos direitos humanos. Protestar é um direito, não um crime", escreveu no Twitter o diretor da divisão das Américas da HRW, José Miguel Vivanco.
Milhares de pessoas saíram às ruas de Cuba para protestar contra longas filas para compra de alimentos, a falta de medicamentos e a alta dos preços, nas maiores manifestações antigoverno em décadas.
Várias foram detidas e alguns confrontos ocorreram após as declarações televisionadas do presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, que pediu para seus apoiadores defenderem a Revolução.
Vivanco divulgou uma lista de desaparecidos cuja autoria atribuiu à ONG Cubalex, que contabiliza 171 pessoas reportadas como desaparecidas, das quais 17 já foram libertadas ou encontradas.
A lista inclui nomes e sobrenomes das pessoas, o local onde foram vistas pela última vez, a hora e a data da detenção e o "último relato sobre sua situação".
Esses protestos, os maiores em Cuba desde o chamado "Maleconazo" de agosto de 1994, ocorrem em meio a uma grave crise econômica e sanitária, com a pandemia de covid-19 fora de controle e uma forte escassez de alimentos, medicamentos e outros produtos básicos, além de cortes de eletricidade rotineiros.
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Jornalista presa
Ainda nesta terça-feira, o ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, confirmou a detenção em Cuba da jornalista Camila Acosta, correspondente do jornal espanhol ABC, e exigiu sua "libertação imediata".
Albares incluiu este pedido em uma mensagem no Twitter, em que defendeu o direito dos cubanos de se manifestar "livre e pacificamente" e pediu às autoridades da ilha para que o respeitassem.
A Federação de Associações de Jornalistas da Espanha (Fape) também exigiu a libertação da jornalista, em declaração onde denunciava sua detenção "por informar sobre as manifestações de protesto que estão ocorrendo na ilha caribenha contra o governo".
A Fape exigiu a retirada das acusações contra Camila Acosta, que pode ser processada por supostos crimes contra a segurança do Estado, e solicitou ao governo espanhol que se interessasse pela situação da correspondente e tomasse as medidas necessárias para que ela fosse libertada sem acusações.
A federação condenou os ataques e outras prisões de jornalistas ocorridos em Cuba nos últimos dias, enquanto cobriam manifestações de protesto.
Um dos agredidos é o fotojornalista espanhol Ramón Espinosa, da agência "Associated Press", disse ele.
EUA exigem que Cuba reative internet
Os Estados Unidos também se manifestaram sobre a crise em Cuba e afirmaram que o regime precisa respeitar a voz do povo cubano.
A exigência foi manifestada em entrevista coletiva pelo porta-voz do Departamento de Estado americano, Ned Price, que criticou a decisão de Havana de provocar apagões na internet e interferir no trabalho de jornalistas.
"Pedimos para os líderes cubanos mostrarem contenção e os convocamos a respeitar a voz do povo, abrindo todos os meios de comunicação", declarou Price.
O porta-voz negou as repetidas acusações do presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, de que os EUA estão por trás das manifestações e de que o embargo imposto pelo país à ilha há 60 anos é o grande culpado pela crise econômica, sanitária e social em território cubano.
"As necessidades do povo cubano são intensas", frisou o porta-voz, que, no entanto, responsabilizou "a corrupção, a má administração e talvez indiferença do próprio governo" pelos problemas, isentando qualquer atitude de Washington. Price ainda exigiu a libertação de qualquer pessoa detida durante manifestações, que segundo ele foram pacíficas.
jps (efe, ots)
Cuba: o clã dos Castro
A árvore genealógica de Fidel Castro é vasta e ramificada. A família ganhou destaque nesta semana após a morte de Ramón Castro, irmão mais velho do ex-dirigente. Conheça nessa galeria os rostos do clã
Foto: picture-alliance/dpa
Onde tudo começou
Ángel Castro Argiz nasceu nesta casa em Láncara, na província galega de Lugo, no noroeste da Espanha. Em 1899 ele chegou a Havana. Após ser bem-sucedido em vários negócios, se converteu em latifundiário e casou-se com sua primeira mulher, María Luisa Argota Reyes. A união fracassou, e Angel casou em 1943 com Lina Ruz González. Eles tiveram sete filhos, entre eles Fidel e Raúl Castro.
Foto: picture-alliance/dpa/J.M. Castro
Lina Ruz
A mãe de Fidel Castro. Com ela, Ángel Castro Ariz manteve uma relação extraconjugal e teve uma primeira filha, Ángela, quando ainda estava casado com María Luisa Argota, com quem já tinha dois filhos. Nesta imagem, uma funcionária da Casa Museu Fidel Castro mostra uma fotografia de Fidel, Raúl e Ramón Castro. Ao lado, um retrato da mãe do trio, Lina Ruz.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Soler
Fidel Castro
Foi primeiro-ministro (1959-1976) e presidente de Cuba (1976-2008) e se manteve como primeiro-secretário do Partido Comunista até 2011, quando transferiu todos os poderes ao seu irmão Raúl. Fidel tem dez filhos conhecidos: o mais velho, Fidel Ángel, é fruto do casamento com Mirta Díaz-Balart; outros cinco, da união com Dalia Soto del Valle; outros quatro foram gerados em casos extraconjugais.
A segunda mulher de Fidel Castro, com quem ele se casou em 1980. O casal tem cinco filhos. Todos têm nomes iniciados com a letra "A". Alexis, Alexander, Antonio, Alejandro e Ángel. Discreta, Dalia sempre viveu sob a sombra do "comandante". Em 2015, durante uma visita do presidente François Hollande a Fidel, em Havana, muitos a confundiram com uma assessora.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Ernesto
Raúl Castro
É presidente de Cuba desde 2008. Raúl casou-se com Vilma Espín em 1959 e teve quatro filhos. Dois são bem conhecidos: Mariela Catro, uma política e sexóloga de renome que atua como diretora do Centro Nacional de Educação Sexual de Cuba; e Alejandro Castro, que ostenta a patente de coronel e atua como assistente pessoal do pai.
Foto: picture alliance/AP Photo/D. Boylan
Vilma Espín
A falecida mulher de Raúl Castro foi uma destacada dirigente política da Revolução Cubana e membro do Movimento 26 de Julho. Ela estudou engenharia química e foi membro do Comitê Central do Partido Comunista cubano de 1965 até a sua morte. Ela se casou com Raúl em 1959. O casal teve quatro filhos: Deborah, Mariela, Nilsa e Alejandro. Vilma morreu em consequência de um câncer em junho de 2007.
Foto: Imago/GranAngular
Ramón Castro
O irmão mais velho de Fidel e Raúl Castro faleceu no dia 23 de fevereiro de 2016 em Havana, aos 91 anos. Nascido em 14 de outubro de 1924, Ramón Castro cooperou com a guerrilha liderada pelo seu irmão Fidel e o Movimento 26 de Julho. Após o triunfo da revolução, ele desempenhou diferentes atividades no setor agropecuário.
"A última vez que falei com meu irmão Raúl foi em 18 de junho de 1964, um dia antes da minha partida." Após descobrir em primeira mão os excessos da Revolução, Juanita exilou-se no México e depois em Miami. Em 1965, ela obteve a nacionalidade americana. Crítica da política cubana, ela admitiu ter colaborado com a CIA em 1963. Em 2009, publicou "Fidel e Raúl, meus irmãos – a história secreta".
Foto: picture-alliance/dpa/G. De Cardenas
Alina Fernández
Uma das filhas que Fidel teve em seus relacionamentos extraconjugais e que foi reconhecida pelo comandante. Ela passou a sua infância junto com a mãe, Natalia Revuelta, e foi registrada com o sobrenome do marido dela. Por causa da sua crescente insatisfação política, Alina abandonou o país em 1993, contra a vontade do pai. Em 1997 ela publicou o livro "Memórias da Filha de Fidel Castro".
Foto: picture-alliance/dpa/M. Tama
Fidel Ángel Castro Díaz-Balart
É o filho de Fidel com sua primeira esposa, Mirta Díaz-Balart. Após se formar na Universidade de Lomonosov, em Moscou, Fidel Ángel esteve ligado ao Instituto Kurchatov, uma instituição soviética para pesquisa de energia atômica. Na década de 1980, ele esteve vinculado ao desenvolvimento do setor atômico em Cuba, onde fundou o Instituto Superior de Ciências e Tecnologias Nucleares de Havana.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Rusinov
Alex Castro
Nascido em 1963, é um dos três filhos de Fidel com mais exposição pública. É artista e atua como fotógrafo oficial do seu pai. Há algumas semanas, declarou em entrevista que compreende a retomada das relações de Cuba com os Estados Unidos como "algo lógico". Também afirmou que Fidel "sempre esteve de acordo com a reaproximação e o restabelecimento das relações entre os dois países".
Foto: picture-alliance/dpa/E. Mastracusa
Antonio Castro
É filho de Fidel Castro com Dalia Soto. É um cirurgião que atua como médico da equipe nacional de beisebol de Cuba e presidente da federação cubana desse esporte. Ao longo da sua vida foi protagonista de vários escândalos.