Com grito de guerra viking, torcedores islandeses fizeram sucesso na Eurocopa deste ano e aumentaram interesse de turistas pelo país. Mas muitos temem que grande número de visitantes prejudique a natureza.
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A afirmação de que a população da Islândia é pequena demais para que o país alcançasse sucesso num grande campeonato de futebol foi algo que o técnico Heimir Hallgrimsson escutou durante toda a sua vida – e conseguiu provar o contrário. Na Eurocopa de 2016, os islandeses se destacaram.
Junto ao ex-treinador Lars Lagerback, Hallgrimsson estava no comando quando a Islândia chegou às quartas de final.
Os fãs celebraram o sucesso da equipe com um grito de guerra, o "Hu!". Ele se tornou um hype mundial – e impulsionou a imagem do país. "Não acho que se poderia ter encomendado uma propaganda melhor para a Islândia", afirma Hallgrimsson. "Nem mesmo uma erupção vulcânica teria tanta influência."
Futebolistas como embaixadores mundiais
A agência Promote Iceland estima que 152 mil artigos foram publicados sobre o país em meados deste ano. O número de cliques no site Visit Iceland dobrou quando a Islândia eliminou a Inglaterra. Na Alemanha, as buscas por "Islândia" no Google quintuplicaram .
Hallgrimsson, de 49 anos, diz que seu país não precisava dessa promoção. Na pequena ilha, o turismo cresce anualmente entre 25% e 30%. Para 2016, a Islândia espera receber um total de cerca de 1,7 milhão de turistas – um número alto demais, na opinião do técnico de futebol.
"Todo mundo está vindo à Islândia para ver a natureza, e nós a estamos destruindo, sobrecarregando-a com pessoas", disse, destacando a forte pressão sobre as Ilhas Westman (Vestmannaeyjar), um pequeno arquipélago diante da costa sul, de onde ele vem.
Em meados deste ano, a balsa entre o arquipélago e a Islândia esteve sempre superlotada e, algumas vezes, Hallgrimsson não conseguiu um lugar. O treinador de futebol disse que até que o país tenha expandido sua infraestrutura, uma placa de "esgotado" deve ser colocada no aeroporto Keflavik como um aviso para turistas.
No entanto, a indústria do turismo não tem nenhum plano para conter o fluxo de visitantes. Voos com destino à ilha também estão cheios no inverno, com os turistas querendo ver a aurora boreal e as geleiras cobertas de neve. "
No momento, parece que vamos ter um crescimento de 127% em relação ao ano passado", informou Skuli Mogensen, fundador e CEO da companhia aérea de baixo custo Wow.
As empresas aéreas faturaram mais do que o habitual durante a Eurocopa de 2016: mais de 30 mil islandeses foram à França ver a estreia de seu país num grande campeonato internacional de futebol.
É preciso encontrar um equilíbrio, afirmou o ex-jogador de futebol Hermann Hreidarsson. Com o pai, ele administra o Hotel Stracta, na pequena cidade de Hella. O local tem 120 leitos e se localiza próximo ao Golden Circle, uma das principais rotas turísticas do país. "Todo mundo está ciente da situação, mas o turismo se tornou uma indústria enorme", diz o hoteleiro.
Turismo: maldição e bênção
A indústria do turismo já ultrapassou há muito tempo a pesca como principal atividade econômica. Depois da crise financeira e do colapso dos principais bancos, em 2008, a Islândia se recuperou rápida e surpreendentemente, também graças aos muitos turistas. "A ilha vai perder o seu charme?", indagou Hreidarsson, que também vem das Ilhas Westman. "Eu não acho", respondeu.
Hallgrimsson disse ter outras preocupações. Para o treinador, o maior ganho do desempenho sensacional de sua equipe na Eurocopa 2016 foi algo bem diferente. Junho deste ano "será sempre lembrado" como um mês que proporcionou unidade ao povo islandês, afirmou.
"Viu-se inimigos políticos sentados um ao lado do outro, abraçando-se, e uma avó que nunca havia assistido a uma partida de futebol sentada ao lado de seus filhos e netos", diz.
Depois da crise financeira, as pessoas tiveram alguma coisa para desfrutar juntas, em vez de só ficar falando mal dos outros, considera o técnico. O sucesso do time "trouxe alegria para a nação islandesa".
O técnico disse estar confiante de que as aventuras do futebol da Islândia ainda vão durar muito tempo e de que o grito "Hu!" dos vikings também será escutado na final da Copa do Mundo de 2018.
Björk no museu
Em uma viagem ao longo da carreira de "Björk", a retrospectiva no MoMA de Nova York mostra por que a música da excêntrica islandesa ganhou espaço no renomado museu.
Foto: Wellhart Ltd & One Little Indian
Arte multidisciplinar
De 8 de março a 7 de junho, Björk ganha uma extensa retrospectiva no Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova York. Depois de um passeio pela carreira da cantora, fica fácil entender como a islandesa conseguiu, com sua música, conquistar espaço no renomado museu e na história da arte.
Foto: Wellhart Ltd & One Little Indian
Início precoce
Nascida em Reykjavík em 1965, Björk começou a estudar piano e flauta aos seis anos. Aos onze, ela gravou seu primeiro álbum, com composições folclóricas e versões em islandês de grandes sucessos. Durante a adolescência, ela fez parte de diversas bandas punk, até formar o The Sugarcubes em 1986. Especialmente pelos vocais de Björk, a banda alcançou sucesso no circuito alternativo internacional.
Foto: Glen Luchford
Desde o primeiro álbum
Com o fim do The Sugarcubes em 1993, a cantora se mudou para Londres e começou a trabalhar em seu primeiro álbum com o produtor Nelle Hooper. Concebida e organizada pelo curador Klaus Biesenbach e pela própria artista, a cronológica retrospectiva no MoMA começa com o lançamento de "Debut" em 1993 e vai até seu mais recente trabalho "Vulnicura", lançado no começo de 2015.
Foto: Jean Baptiste Mondino. Image courtesy of Wellhart Ltd & One Little Indian
Grandes parcerias
"Debut" marcou a independência de Björk como artista solo. Musicalmente, o disco traz uma mistura de pop com toque islandês e a efervescente música eletrônica britânica da época. O disco também marcou o início da parceria de Björk com artistas visuais inovadores, como o cineasta Michel Gondry. Um conceito levado à perfeição pela cantora em seu segundo disco, "Post", lançado em 1995.
Foto: Stéphane Sednaoui. Image courtesy of Wellhart Ltd & One Little Indian
Sonoro e visual
Como poucos artistas, Björk (na foto com o filho Sindri) criava uma viagem visual para cada um de seus singles, em parcerias com cineastas, fotógrafos e designers. O fotógrafo Jean-Baptiste Mondino é responsável pela capa de "Debut" e pelo vídeo de "Violently Happy". Stéphane Sednaoui criou a capa de "Post", onde a cantora usa uma roupa de papel feita por Hussein Chalayan, exposta no MoMA.
Foto: Jürgen Teller
Além da cultura popular
Em seus discos seguintes, Björk levou ao extremo a música eletrônica e começou a trabalhar com elaboradas orquestrações. "Homogenic" (1997) é uma viagem pelas paisagens sentimentais da Islândia e conta com a parceria do estilista Alexander McQueen. A ousadia sonora do discos se desdobrou em um labirinto de minimalismo eletrônico e complexas composições de seu próximo álbum, "Vespertine" (2001).
Foto: Inez van Lamsweerde & Vinoodh Matadin. Image courtesy of Wellhart Ltd & One Little Indian
Relacionamento conceitual
A relação de Björk com o artista americano Matthew Barney tornou o trabalho da cantora mais conceitual. "Medúlla" (2004) é um álbum quase todo construído em cima de vocais. Para criar os sons dos discos, Björk processou essas vozes para criar as canções. O disco contou com a participação de Mike Patton, do lendário Robert Wayatt, dos artistas de beatbox Rahzel e Dokaka, além de diversos coros.
Foto: Inez van Lamsweerde & Vinoodh Matadin. Image courtesy of Wellhart Ltd & One Little Indian
Rave política
Apesar da complexidade de sua música, Björk também trabalhou com grandes nomes da música pop. Ela escreveu "Bedtime Stories" para Madonna. Seu disco "Volta" (2007) teve canções produzidas por Timberland. Com sonoridade agressiva e forte mensagem política, o disco ficou marcado por uma extensa turnê, em que Björk brincou com o potencial sonoro e visual de suas apresentações ao vivo.
Foto: Nick Knight. Image courtesy of Wellhart Ltd & One Little Indianh Matadin. Image courtesy of Wellhart Ltd & One Little Indian
Cinema e moda
Além da música, Björk também estrelou o filme "Dançando no escuro" (2010) de Lars Von Trier, pelo qual ganhou prêmio de melhor atriz em Cannes. Ela se apresentou no Oscar em 2001 com o icônico vestido de cisne, criado por Marjan Pejowski. A peça está exposta no MoMA ao lado da roupa tribal mongol, que ela usou no vídeo de "Wanderlust" (foto), e de criações de McQueen e Iris van Herpen.
Foto: Wellhart Ltd & One Little Indian
Música em outros formatos
O delicado "Biophila" (2011) foi composto como álbum conceitual durante a crise financeira que devastou a Islândia e explora as conexões entre a natureza, a música e a tecnologia. Mais do que um disco, "Biophila" foi um ambicioso projeto multimídia, lançado também em forma de um aplicativo interativo, com animações e jogos que complementavam as canções, que tratavam de meio ambiente e do universo.
Foto: M/M (Paris) Photographed by Inez van Lamsweerde & Vinoodh Matadin. Image courtesy of Wellhart Ltd & One Little Indian
Coração aberto
Depois de álbuns com forte apelo conceitual, a islandesa abriu seu coração em "Vulnicura" (2015). Marcada pelo fim de seu relacionamento com Barney, Björk criou orquestrações contemplativas para ilustrar letras diretas e cheias de sofrimento. Com a ajuda do jovem produtor venezuelano Arca, as batidas eletrônicas sobrepostas marcam o retorno de Björk à vanguarda da música pop.
Lago negro
Criada especialmente para a retrospectiva do MoMA e dirigida por Andrew Thomas Huang, a vídeoinstalação "Black Lake" é uma viagem visual e auditiva dentro de uma das mais emocionais músicas de "Vulnicura". Com uma experiência de muitas camadas musicais e visuais, "Björk" está em cartaz no MoMA de Nova York até 7 de junho de 2015.