Huygens supera todas as expectativas
15 de janeiro de 2005As mais ousadas expectativas dos cientistas foram superadas, declarou entusiasmado Jean-Pierre Lebreton, diretor da missão Huygens. E David Southwood, diretor científico da Agência Espacial Européia (ESA), declarou-se boquiaberto. Ambos os cientistas referiam-se aos dados fornecidos pela sonda européia após o pouso em Titã – o maior satélite do distante planeta Saturno –, ao apresentar, neste sábado (15/01), as primeiras imagens e sua avaliação.
Pouso em solo macio
A sonda deve ter pousado sobre uma substância semelhante a areia molhada ou barro, o que permitiu que instrumentos e câmeras a bordo se mantivessem intatos e funcionassem sem problemas.
As imagens da região do pouso mostram uma vasta superfície em que se vêem blocos – provavelmente de gelo – de 15 a 25 centímetros. O que mais impressiona, porém, são as imagens panorâmicas tiradas a 16 quilômetros de altitude. As paisagens onduladas que elas mostram, com cânions e vales recobertos com um substância esbranquiçada, nos parecem familiares.
A impressão é a de correntes ramificadas correndo por uma região montanhosa em direção ao mar, do qual despontam ilhas, descreve Michael Kahn, da equipe de especialistas em Darmstadt. É como olhar "imagens de satélite da Terra, de regiões úmidas na costa, próximas ao mar. Por outro lado, sabemos que não pode ser água. Isto é que impressiona: não pode haver água em estado líquido em Titã, a uma temperatura de 178 graus abaixo de zero!".
Horst-Uwe Keller, do Instituto Max Planck de Pesquisa do Sistema Solar, acredita num ciclo semelhante ao da água na Terra. "Quer dizer, a água evapora, sobe à atmosfera, esfria, forma nuvens e retorna em forma de chuva. Provavelmente ocorra o mesmo com metano. Em vez de água, o que existe lá é o metano."
Fenômenos meteorológicos
O microfone a bordo da Huygens gravou ruídos semelhantes ao vento que levam os cientistas a concluir a existência de fenômenos meteorológicos no satélite de Saturno. Este é o mais importante resultado da avaliação dos dados até agora, opina Michael Kahn, por confirmar a suposição de que as condições em Titã sejam semelhantes ao do planeta Terra num estágio primitivo de seu desenvolvimento, cerca de 3,8 bilhões de anos atrás.
Uma única pane registrou-se nesta missão da sonda Huygens: um de dois canais de transmissão deixou de funcionar, motivando a perda de dados de medição do vento e de 350 imagens. Grande parte das informações perdidas pode, no entanto, ser reconstruída. Os sinais emitidos por Huygens e captados por 18 radiotelescópios terrestres permitirão reconstruir até 90% dos dados relativos ao vento, afirma David Southwood.
O diretor científico da ESA vê um grande potencial no material fornecido pela sonda. Sua avaliação levará meses e, quem sabe, anos. Centenas de cientistas estão envolvidos na tarefa, em diferentes partes do mundo. Só os que trabalham diretamente junto à ESA chegam a 150. "Os cientistas têm muito trabalho pela frente, mas cientistas adoram trabalhar, eles vivem para isso" – o entusiasmo de Southwood manifesta-se em todas as suas declarações.