Iceberg gigante ameaça santuário marinho no Atlântico
18 de dezembro de 2020
Com área maior que a de Luxemburgo, bloco gelado se aproxima de ilha britânica após se destacar de plataforma na Antártida em 2017, levando perigo à fauna e à flora aquática da região. Missão científica vai explorá-lo.
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Uma equipe de cientistas partirá no próximo mês em uma missão de pesquisa para descobrir o impacto de um iceberg gigante sobre a vida selvagem e marinha em uma ilha subantártica.
O iceberg monstro de cerca de 4.200 quilômetros quadrados, tamanho maior que Cingapura e Luxemburgo, está flutuando em direção ao norte desde que se separou da plataforma de gelo Larsen C da Antártida em 2017. Agora, está a cerca de 75 quilômetros da ilha Geórgia do Sul, território britânico ultramarino situado no Oceano Atlântico.
Os cientistas estão preocupados com os riscos que isso representa para a vida selvagem na área se o iceberg encalhar perto da ilha. Imagens recentes capturadas do ar mostram que o iceberg está se quebrando, e os pesquisadores estão também receosos com o impacto da água do derretimento do gelo sobre fauna e flora marinha da região.
A Geórgia do Sul abriga colônias de dezenas de milhares de pinguins e seis milhões de focas, que podem ser ameaçadas pelo iceberg durante a época de reprodução. As águas nos arredores da ilha também são uma das maiores áreas marinhas protegidas do mundo e abrigam mais espécies do que as ilhas Galápagos.
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Equipamento robotizado
O navio de pesquisa RRS James Cook deverá partir das Malvinas (ou Falklands) para o iceberg no final de janeiro. Dois planadores subaquáticos robotizados serão enviados a partir do navio e chegarão o mais perto possível da borda do iceberg para coletar dados como temperatura da água do mar, salinidade e sobre quanto plâncton existe na água.
O iceberg, denominado A-68A, está viajando em velocidades variadas, dependendo das condições locais. Mas o mais rápido que chegou foi cerca de 20 quilômetros por dia.
Geraint Tarling, pesquisador do British Antarctic Survey, afirma que o iceberg "causará devastação no fundo do mar ao arrancar as comunidades do fundo do mar, formadas de esponjas, equinodermos e ouriços do mar, diminuindo a biodiversidade local''.
Animação mostra o degelo no oceano Ártico
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"Essas comunidades ajudam a armazenar grandes quantidades de carbono em seus tecidos corporais e sedimentos circundantes. A destruição causada pelo iceberg vai liberar este carbono armazenado de volta na água e, potencialmente, a atmosfera, o que seria um impacto negativo adicional'', prevê.
Povl Abrahamsen, que está liderando a missão, ressalta que normalmente são necessários anos para planejar tais viagens de pesquisa marinha. Mas a missão é possível porque os funcionários reconhecem a urgência de se agir rapidamente. "Todo mundo está fazendo de tudo para que isso aconteça", diz.
A comunidade científica ainda discute se a quebra do A-68A da plataforma de gelo Larsen C é uma consequência da mudança climática, e se mais icebergs monstros ainda estão por vir.
Houve poucos maiores na história recente, sendo que o maior deles é o B-15, que tinha 11 mil quilômetros quadrados quando quebrou da plataforma de gelo.
MD/rtr/ap
Bienal Antártica leva arte ao continente gelado
A equipe da DW acompanhou a primeira bienal realizada na Antártida. Embarque conosco nesta expedição artística pelas águas e terras polares, com direito a pinguins e baleias.
Foto: DW/Sabrina Walker
Da Patagônia rumo ao Polo Sul
Cerca de 80 pessoas de 30 nacionalidades participaram da primeira Bienal Antártica. Idealizada pelo artista russo Alexander Ponomarev, a expedição artística partiu de Ushuaia, na Patagônia argentina, no dia 17 de março. Foram ao todo 11 dias de evento, que contaram com perfomances e instalações sobre as águas e terras polares.
Foto: DW/Sabrina Walker
Curiosidade animal
Um pinguim curioso resolveu trocar uma ideia com a câmera 360º. Registro da Ilha Cuverville, na Antártida.
Foto: DW/Sabrina Walker
Baleias por todo lado
Durante a passagem pelo continente gelado, nosso navio pernoitou entre baleias. No Canal Errera havia 50 delas, segundo levantamento de cientistas.
Foto: DW/Helena Coelho
Muitos pinguins
O navio da Bienal Antártica passou alguns dias no Canal Errera, conhecido não somente pela diversidade de baleias, mas também pelas colônias de pinguins.
Foto: DW/Sabrina Walker
Turismo sustentável
A Antártida recebe cerca de 30 mil visitantes todos os anos. O turismo é coordenando principalmente pela Associação Internacional de Operadores Turísticos da Antártida, que zela pela preservação do território. Nada pode ser deixado nem tirado do continente gelado.
Foto: DW/Helena Coelho
A natureza é quem manda
Na Antártida, é obrigatório manter uma distância mínima de 5 metros da vida selvagem. A não ser que os animais se aproximem por conta própria: neste caso, aproveite para pegar a câmera e registrar o momento!
Foto: DW/Sabrina Walker
Trabalho a quatro mãos
Na foto, Yasuaki Igarashi (esquerda) apresenta sua instalação ao idealizador da Bienal, Alexander Ponomarev. Juntos eles trançaram uma corda que seria usada para empinar uma pipa. O entrelaçamento dos fios simbolizou o encontro das 30 nacionalidades que participaram do evento.
Foto: DW/Helena Coelho
"Somos apenas hóspedes"
Inspirado pelo caráter nômade desta Bienal, o arquiteto alemão Gustav Düsing montou um barraca: "Nós somos apenas hóspedes aqui. Procurei me adequar às condições do meio e criar algo temporário com a menor quantidade de material possível – esta é, para mim, a resposta mínima à questão arquitetônica da Antártida."
Foto: DW/Sabrina Walker
Impossível estar mais à vontade
Em pleno frio antártico, o russo Andrey Kuzkin se apresentou ao público como veio ao mundo. A performance consistiu em ficar nu de ponta-cabeça com os ombros enterrados no chão. Andrey ficou assim por cerca de 20 minutos, respirando através de uma mangueira. O plano dele é realizar a performance 99 vezes ao redor do mundo – e ele já está na de número 50.
Foto: DW/Helena Coelho
O céu sobre a Antártida
O chamado "albedo", a reflexão da luz solar pela imensidão branca coberta de neve, inspirou diversos trabalhos apresentados nesta bienal.
Foto: DW/Sabrina Walker
A ameaça climática
Entre os temas abordados na Bienal Antártica também esteve a preservação dos glaciares. Os gigantes brancos têm sofrido retração acelerada nas últimas décadas.
Foto: DW/Sabrina Walker
Um espetáculo de luz e gelo
O brasileiro Alexis Anastasiou fez uma projeção de luz sobre um iceberg na Antártida. Mesclando uma estética contemporânea com a de desenhos rupestres, o artista recriou momentos marcantes da história da humanidade.
Foto: DW/Helena Coelho
30 minutos de silêncio
Na Baía Paraíso, a curadoria da Bienal propõs um happening aos participantes: permanecer meia hora em absoluto silêncio para contemplar e absorver a grandeza do local.
Foto: DW/Sabrina Walker
A equipe da DW na Antártida
A repórter Helena Coelho e a cinegrafista Sabrina Walker embarcaram nesta expedição pelo continente gelado.
Foto: DW/Sabrina Walker
A cena final
Nossa aventura terminou com o retorno à América do Sul, que nos recebeu com este pôr do sol digno da Terra do Fogo.