Identificado homem que decapitou professor na França
17 de outubro de 2020
Tchetcheno de 18 anos tinha ficha limpa e nenhum antecedente de radicalização. Nove suspeitos estão detidos, inclusive pais de alunos. Atentado ocorre duas semanas após discurso de Macron contra "separatismo islamista".
Anúncio
Ao todo, nove suspeitos se encontram sob custódia policial no quadro das investigações sobre a decapitação de um professor de história num subúrbio de Paris, na tarde desta sexta-feira (16/10): além de pessoas próximas ao assassino, também pais de alunos do colégio Bois d'Aulne, onde a vítima lecionava.
Rodrigo Arenas, da associação de pais de alunos FCPE, relatou que o docente haveria "convidado os alunos muçulmanos a deixarem a classe", pois iria mostrar uma caricatura do profeta islâmico Maomé. Em seguida, Arenas recebeu uma notificação sobre "um pai extremamente irritado". Um vídeo divulgado nas redes sociais mostra esse homem, indignado por o professor haver exibido "caricaturas de Maomé nu" na classe de sua filha.
O professor assassinado mostrara uma das caricaturas do semanário satírico Charlie Hebdo durante uma aula sobre liberdade de expressão. Sua decapitação ocorreu às 17h00 (12h00 em Brasília) desta sexta-feira próximo ao estabelecimento escolar no subúrbio de Conflans-Sainte-Honorine, no oeste da capital.
Segundo testemunhas, o assassino teria gritado "Allahu Akbar" ("Deus é grande" em árabe), ao ser abatido a tiros pela polícia, a 200 metros do local. Fontes próximas às investigações indicam que sua identidade está confirmada: trata-se de um russo de nacionalidade tchetchena de 18 anos, nascido em Moscou, conhecido por pequenos delitos, mas com ficha policial limpa e sem antecedentes de radicalização.
Consta que a polícia francesa segue também a pista de uma fotografia da cabeça da vítima, postada na rede social Twitter. O usuário responsável encerrou sua conta, e cabe elucidar qual sua relação com o homicídio.
A agência de notícias France-Presse (AFP) relata que a fotografia era acompanhada por uma mensagem destinada ao presidente da França, Emmanuel Macron, enquanto "líder dos infiéis". "Executei um dos cães infernais que ousou menosprezar Muhammad [o profeta Maomé]."
"Obscurantismo não vencerá"
A decapitação do professor de história e geografia nos arredores de Paris foi um "característico ataque terrorista islamista", declarou Macron à imprensa, poucas horas após o assassinato.
Anúncio
"Um dos nossos compatriotas foi morto hoje porque ensinou [...] a liberdade de acreditar e não acreditar", disse, no local do crime, a frente do colégio Bois d’Aulne, onde a vítima lecionava, acrescentando que "o obscurantismo não vencerá". O chefe de Estado frisou que o ataque não pode dividir o país, o que seria o objetivo dos extremistas: "Temos que nos unir enquanto cidadãos."
Em 2 de outubro, Macron fez um discurso à nação contra o "separatismo islamista", declarando o islã "uma religião em crise". Cerca de uma semana antes, um paquistanês ferira dois passantes a cuteladas diante da antiga redação do Charlie Hebdo, alvo de um atentado com 12 mortos em 2015, após publicar caricaturas do profeta Maomé.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, se manifestou sobre o atentado neste sábado, no Twitter: "Fui informada com horror do assassinato [...] Dirijo minhas condolências aos franceses. Meus pensamentos vão também para os docentes da França e de toda a Europa. Sem eles, não há cidadãos. Sem eles, não há democracia."
AV/afp,lusa,ap,ots
A arte responde ao terror
Desde janeiro de 2015, ataques terroristas tentam desestabilizar as sociedades pacíficas, não só na Europa. Diversos artistas têm reagido, com músicas, desenhos ou vídeos, com consolo ou provocação.
Foto: Reuters/R. Krause
Primeiro sinal de paz
No dia seguinte aos atentados de novembro de 2015 em Paris, que deixaram mais de 130 mortos, a cidade estava de luto. Mas logo uma multidão se reuniu quando Davide Martello começou a tocar, diante de um dos alvos, o clube Bataclan, "Imagine", de John Lennon, num piano trouxera da Alemanha. Mais tarde o músico comentaria: "Eu queria estar lá para tentar consolar e dar um sinal de esperança."
Foto: Getty Images/AFP/K. Tribouillard
Quando faltam palavras
Em seguida ao caos de uma tragédia, uma simples imagem pode ser um consolo eloquente. Igualmente após os atos terroristas de Paris, o artista gráfico francês Jean Jullien postou nas redes sociais o símbolo da paz, incorporando nele o contorno da Torre Eiffel. Logo o desenho se consagrou como ícone da solidariedade com as vítimas.
Foto: Jean Jullien
Desenhos como arma
O papel dos artistas nem sempre é pacífico. O caricaturista francês Charb era famoso por suas charges ofensivas sobre temas religiosos, inclusive o islamismo. Depois que radicais muçulmanos o abateram e a seus colegas na redação do tabloide "Charlie Hebdo", em janeiro de 2015, manifestantes usaram os desenhos irreverentes para desafiar os atacantes e seus apoiadores.
Foto: Getty Images/E. Cabanis
Música entre ruínas
O pianista sírio-palestino Aeham Ahmad também foi alvo da fúria terrorista. Tendo estudado música em Damasco e Homs, ele passou grande parte da vida num alojamento de refugiados. O vídeo em que toca piano numa rua bombardeada da Síria atraiu atenção internacional no Youtube. Depois que militantes do "Estado Islâmico" (EI) incendiaram seu instrumento, Ahmad refugiou-se na Alemanha, onde hoje vive.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Hitij
Catarse teatral
A noção do filósofo grego Aristóteles de catarse, a purgação das emoções, no teatro, continua provando sua validade. A dramaturga austríaca Elfriede Jelinek elaborou a peça "Wut" (Raiva) ainda em choque devido aos atentados de 2015 em Paris. O título não se refere apenas à fúria dos atacantes, mas também ao ódio de algumas das reações, e à agonia dos que se veem presos entre os dois extremos.
Foto: picture-alliance/dpa/C. Fürst
"Même pas peur"
Em 13 de março de 2016, militantes da Al Qaeda fuzilaram 19 pessoas numa praia da cidade Grand-Bassam, na Costa do Marfim. Dez dias mais tarde um grupo de cantores pop nacionais divulgou um vídeo para retomar seu espaço de vida. "Même pas peur" (Nem deu medo) é o nome da canção, cujas palavras de desafio ganham força extra na dança em meio à areia branca, livre de qualquer sinal de sangue.
Foto: DW/J.-P. Scholz
Apenas cor e linhas
Nem todas as reações artísticas à violência são literais. As cores vivas e formas dinâmicas da arte abstrata de Guillaume Bottazzi falam por si, contrapondo-se aos atentados de 22 de março de 2016 em Bruxelas. No fim de outubro, o artista começou a realizar um mural na Place Jourdan da capital belga, como memorial permanente às vítimas.
Foto: DW/M. Kübler
Homenagem gigantesca e colorida
O americano Jeff Koons é um dos artistas mais ricos do mundo, que contrata operários para construir seus projetos. Numa cerimônia em novembro, em Paris, ele apresentou seus planos para uma enorme escultura: "Bouquet of Tulips 2016", doada em homenagem às vítimas dos múltiplos atentados terroristas de 2015, na capital francesa, será instalada diante do Palais de Tokyo.
Foto: picture-alliance/AP Photo/M. Euler
Together Berlin!
Em 20 de dezembro de 2016, dia seguinte ao ataque com um caminhão a uma feira natalina de Berlim, que custou 12 vidas, o Portão de Brandemburgo foi iluminado com as cores da bandeira alemã. Três dias mais tarde, o local foi palco do show de música "Together Berlin!", sinal de resistência à tentativa dos terroristas de instaurar medo e insegurança na sociedade pacífica.