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Educação

"Idioma é primeiro passo para conseguir emprego na Alemanha"

20 de dezembro de 2017

Conseguir uma vaga na Alemanha implica conhecer regras e vencer desafios, entre eles a língua. Em entrevista, um especialista do órgão oficial de emprego dá dicas de como se preparar para o mercado de trabalho alemão.

Livros de alemão abertos
Nível de alemão exigido depende da área de atuação do profissionalFoto: picture-alliance/dpa/J. Kalaene

Os caminhos para se conseguir um emprego no exterior costumam ser pontuados por uma série de obstáculos, a começar pelos trâmites legais para a concessão de um visto. No caso da Alemanha, o idioma costuma ser uma das barreiras mais desalentadoras, para se dizer o mínimo, mas isso não deve ser encarado como impedimento.

Uma feira de empregos na Alemanha realizada no Rio de Janeiro e em São Paulo no mês de novembro – a primeira no país feita por iniciativa da Bundesagentur für Arbeit (BA), a Agência Federal de Emprego da Alemanha, e em parceria com o Instituto Goethe do Rio de Janeiro e com a Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha – serviu para mostrar como as chances são altas em determinadas profissões e que não há razão para desanimar.

Leia também: Instituto oferece curso de alemão para profissionais brasileiros

A fim de identificar quais são as áreas mais promissoras, e também para conhecer o passo a passo na busca de um visto de trabalho na Alemanha, a DW conversou com o brasileiro Marcel Vieira Fernandes, agente internacional de empregos da BA.

DW: Quantos interessados compareceram nos dois eventos realizados no Brasil?

Marcel Vieira Fernandes: No total, cerca de 450, mas nós tivemos mais de 2 mil inscrições.

Por que o Brasil foi incluído no roteiro da BA deste ano?

São vários os fatores. Por um lado, o fato de o país ter uma formação de boa qualidade e com uma mão de obra com grandes conhecimentos de alemão em relação a outros países. Por outro lado, existe um interesse enorme, por parte dos brasileiros, em viver e trabalhar na Alemanha. E por fim, também pelo momento econômico que o país passa.

Quais foram as ocupações mais procuradas no evento?

Nós procuramos tudo o que se busca no mercado alemão; ou seja, as áreas com escassez de mão de obra. Os enfoques, basicamente, foram as áreas da saúde em geral (com exceção de odontologia e psicologia); tecnologia da informação (TI), especialmente desenvolvimento de software e de programação; engenharias, como automação e elétrica; e as áreas de formação técnica.

Quais seriam essas áreas técnicas?

Soldadores, encanadores, eletricistas, técnicos em mecatrônica, metalurgia, etc. E eu diria que é a mão de obra mais difícil de se encontrar no exterior por dois motivos: primeiro porque a formação técnica alemã é muito específica, geralmente com três anos de formação; e segundo, pelo nível de alemão, que, via de regra, é menor entre quem vem dessas áreas. Mas as chances para essas pessoas são ótimas, pois são as áreas em que mais recebemos pedido de empregadores. O problema é que, quando se fala em profissões técnicas, subentende-se sempre o reconhecimento do diploma. É necessário educação formal, por um lado, e também certa experiência, além do alemão. Essa que é a dificuldade.

Quais foram as experiências trazidas pelos candidatos no evento?

Pelo fato de estabelecermos um bom nível do idioma alemão como pré-requisito, a maior parte já tinha alguma experiência com Alemanha, fosse de trabalho, de turismo ou de intercâmbio. O que surpreendeu é que, via de regra, não conseguimos fazer muitas entrevistas em alemão, e no Brasil, isso foi possível em quase todos os casos.

E para quem não fala alemão? Essas pessoas também têm chance?

Menos. A gente costuma dizer que a única área em que existe, parcialmente, uma possibilidade maior de se trabalhar em inglês é a área de TI (desenvolvimento de software em especial). Mas é importante dizer: o mercado alemão ainda é muito fechado para o trabalho em língua inglesa. O alemão não é um diferencial; ele é um pré-requisito.

Qual foi a impressão geral que os brasileiros deixaram no evento?

Em geral, muito positiva. Pelo nível técnico dos candidatos, pelo nível de alemão, pelo interesse e pela afinidade com o país. Lá nós conseguimos entrevistar 102 perfis e pré-selecionamos mais 320, que agora estão sendo contactados por colegas e entrevistados por Skype para checar a adequação.

Existe um número de vagas reservadas para essas pessoas pré-selecionadas? 

Não necessariamente. A pré-seleção é feita para checar a adequação dos candidatos em receber esse apoio intenso da Agência Federal de Emprego alemã para encontrarem uma vaga aqui. Não existe uma correspondência um para um. Trabalha-se, de um lado, com um pool de vagas de empregadores interessados em mão de obra estrangeira; e do outro, com um pool de candidatos que têm, a grosso modo, as qualificações adequadas para aquelas vagas.

Dicas para o brasileiro que quer trabalhar na Alemanha

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Que espécie de apoio é fornecido pela BA?

Cada candidato recebe um tutor ou uma tutora, que é responsável por todas as questões relativas à busca de emprego no caso dele. Essa pessoa é da área dele, ou seja, é especializada naquele mercado de trabalho, e fornece um apoio na hora de se fazer uma candidatura para Alemanha, ajuda a buscar vagas, apresenta o perfil para empregadores, auxilia com todas as questões de visto, com todas as questões iniciais para se instalar no país. É um serviço bastante abrangente, que facilita muito a inserção do candidato no mercado alemão.

E para quem não vem de nenhuma dessas áreas em escassez na Alemanha?

Para quem tem ensino superior, existem dois caminhos. O melhor e mais interessante é o blue card, concedido a candidatos de qualquer profissão acadêmica que tenham um contrato a partir de 52 mil euros por ano – o que, para a média salarial alemã, é bastante alto.

Para quem não ganha tanto, mas é das áreas "MINT" (Matemática, Engenharias, Tecnologia e Ciências), é possível pedir um blue card com um valor mais baixo de salário, que para o ano que vem é de 40.560 mil euros ao ano, bruto.

Já na área técnica, não tem a opção blue card, mas existe um rol de profissões (Positivliste) para as quais você pode obter um visto. Quem não está nessa lista, em tese, não pode obter um visto de trabalho. No entanto, existe hoje no estado de Baden-Württemberg um projeto-piloto chamado PuMa, que é baseado em pontos. Através dele, é possível que alguém da área técnica, consiga, em tese, um visto para qualquer profissão.

Qual é o procedimento no caso de contratos de renda inferior e/ou fora dessa "lista positiva"?

Nesse caso, tem que pedir um visto de trabalho normal (Arbeitserlaubnis), que tem o empecilho de estar sujeito à checagem da oferta de mão de obra na região do empregador. A BA irá contactar o órgão que concede os vistos na região da vaga em questão, e verificar se há outras pessoas que poderiam fazer o trabalho requisitado e que teriam prioridade.

E quanto a freelancers?

Uma pessoa, por exemplo, que tenha uma formação de um ano em Design ou Fotografia e mais três ou quatro anos trabalhando na área: apesar de não estar nessa lista, ela teria hoje, em Baden-Württemberg, uma possibilidade legal de conseguir um visto de trabalho. Mas, via de regra, não oferecemos esse serviço de auxílio abrangente para quem não é das áreas procuradas. O foco do nosso serviço é atender o empregador alemão que não consegue encontrar mão de obra.

É interessante lembrar que a Alemanha é um dos poucos países no mundo que dá um visto para a procura de emprego. Existe o chamado "Job Seeker Visa", concedido, em geral, por seis meses e exclusivamente a quem tem formação superior, mesmo que não seja da área de escassez de mão de obra. Mas é necessário comprovar a capacidade financeira de se manter nesses seis meses e não pode exercer atividade remunerada no período.

Com quanto tempo de antecedência o interessado tem que começar a planejar?

Varia muito em cada área. No geral, é importante um planejamento de uns seis a oito meses. Quem é da área de saúde, até mais, porque o processo de reconhecimento é truncado. Para uma enfermeira, por exemplo, vaga não falta. O problema é o reconhecimento, que demora. A partir do momento que se tem o reconhecimento, é questão de um a dois meses para achar emprego.

Qual seria então o passo a passo para se encontrar um emprego na Alemanha?

Quem tem interesse sério na Alemanha, e quer mesmo vir, o alemão é o primeiro passo. Segundo: ter, de preferência, algumas experiências profissionais. Para quem não tem, a dica é focar em estágio, que é algo muito valorizado na Alemanha. Terceiro: investir tempo nos documentos de candidatura, os quais têm um papel muito importante e precisam passar profissionalismo. Quarto: checar como funciona uma entrevista de emprego na Alemanha e ir preparado. No mais, é ter paciência, pois por mais que o país esteja de portas abertas, ainda é muito burocrático. Costumamos dizer que uma busca de trabalho séria, ativa, subentende pelo menos três candidaturas por semana.

Qual costuma ser o nível de alemão mínimo exigido pela BA?

Depende um pouco da área. Por exemplo, quem é da parte da saúde, vai precisar de no mínimo um B2, ou, para o médico, C1. Já no caso de um soldador ou um metalúrgico, o B1 já é interessante. Mas abaixo de B1, em geral, não aceitamos. Acho que convém a cada pessoa pensar na própria profissão e avaliar: você conseguiria fazer a sua própria profissão com alemão B1? Seria possível?

Quais são os documentos para se candidatar a uma vaga na Alemanha?

Os documentos para uma candidatura de emprego na Alemanha têm um peso maior do que no Brasil e precisam ser específicos e diretos.

Em primeiro lugar temos a carta de motivação (Anschreiben), que vem antes do currículo e é o cartão de visita. Diferentemente da chamada cover letter, que faz uma apresentação geral do candidato, a carta alemã dialoga com a vaga. É importante ressaltar que ela não pode ser padrão e precisa mostrar por que o candidato é a pessoa certa para aquela vaga específica, considerando os pré-requisitos que o empregador pede.

Depois disso, vem o currículo, com datas específicas de início e fim (mês e ano) e sempre da última experiência para a primeira. Também é necessário ser específico quanto ao nível de conhecimento de idiomas.

Outra coisa que aqui é bastante comum é a foto, que apesar de não ser obrigação, é quase uma regra. E tem que ser foto professional, de estúdio.

Por fim, algo que também é praticamente um pré-requisito na Alemanha são os chamados Arbeitszeugnisse, que são as cartas dos empregadores anteriores. Cada carta precisa especificar o período de trabalho, as funções exercidas, as atividades principais e, idealmente, incluir uma avaliação por parte do empregador. Isso é muito importante e gera uma certa credibilidade frente ao empregador.

Onde os interessados podem procurar vagas?

O site da BA tem uma Jobbörse (bolsa de trabalho) com cerca de 30% das vagas nacionais em aberto. Também há os sites privados, como StepStone, Jobmonster, LinkedIn, Meinestadt, etc. Para as empresas maiores, as vagas costumam estar nos sites das próprias empresas (ex: Bosch, Siemens). Além disso, é aconselhável – a não ser que a empresa peça explicitamente para não fazê-lo mandar também candidaturas não solicitadas (Initiativbewerbung).

Uma dica: na busca de trabalho, a escassez de mão de obra é, evidentemente, menor em cidades como Munique e Berlim. Para quem está disposto a, pelo menos para entrar no mercado de trabalho alemão, trabalhar em empresas pequenas e de médio porte, fora dos centros urbanos, as chances são melhores.

Onde os candidatos podem se aconselhar a respeito das condições gerais de vida e de trabalho na Alemanha?

Existe o portal Make it in Germany, que é o portal oficial de boas-vindas do Estado alemão. Lá tem uma hotline, onde o candidato pode entrar em contato por telefone, e-mail ou chat, e eles fazem essa primeira orientação sobre vida e trabalho na Alemanha. Isso para todos, independente de área. Quando percebem que a pessoa é de uma área específica, que tem os pré-requisitos, ela é encaminhada para nós e então fazemos a intermediação de fato com o mercado de trabalho.

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