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Igreja Católica alemã admite décadas de abusos

25 de setembro de 2018

Quase 3.700 vítimas em sete décadas, a maioria do sexo masculino e menor de 14 anos, revela estudo oficial. Autores aconselham reavaliação das estruturas eclesiásticas. Cardeal alemão se declara "envergonhado".

Symbolbild Missbrauch in der Kirche
Foto: picture-alliance/ANP

A apresentação oficial de um relatório abrangente forçou a Igreja Católica da Alemanha a confrontar-se com décadas de alegações de abusos sexuais contra menores de idade perpetrados por membros de seu clero.

Segundo o estudo encomendado pela Conferência dos Bispos Alemães e divulgado nesta terça-feira (25/09) durante sua assembleia geral em Fulda, foram documentados 3.677 casos entre 1946 e 2014. O exame de 38.156 dossiês dos 27 bispados alemães revelaram acusações contra 1.670 sacerdotes (4,4%).

Entre 54% dos acusados havia indicações de apenas uma vítima de abuso, em 42,3% esse número era entre duas e 44, com uma média de 2,5 vítimas. A maioria (62,8%) era do sexo masculino, 34,9% do sexo feminino, e em 2,3% das acusações registradas não há indicação de gênero.

O relatório revelou, ainda, preferência por vítimas mais jovens entre os clérigos alemães: 51,6% estavam abaixo dos 14 anos, 24,8% acima, em 22,6% das acusações a idade não foi documentada. Três quartos dos atingidos tinham uma relação litúrgica ou didática com os acusados, por exemplo como ajudantes de missa, alunos de catecismo, ou aspirantes à primeira comunhão ou crisma.

Contra 566 (33,9%) dos acusados foi aberto inquérito eclesiástico por abuso sexual contra menor de idade, o que não ocorreu em 53% dos casos, enquanto em 13,1% faltavam indicações nesse sentido. As investigações resultaram na demissão de 41 dos acusados, 88 foram excomungados.

Cerca da metade dos assédios foram perpetrados durante encontros privados, sendo o local mais usual a residência do acusado, particular ou na igreja. Contudo, grande parte dos abusos também ocorreu em dependências dos templos e escolas, assim como em excursões e colônias de férias organizadas pela igreja.

Segundo o estudo, as consequências para as vítimas são "duradouras e graves", podendo estender-se por décadas. Um terço delas revelou ter dificuldades nos relacionamentos sexuais; um quinto sofre de depressão e retraimento social. Cerca de 24% disseram ter se tornado mais desconfiadas no confronto interpessoal em decorrência do abuso sofrido; 22% apontaram problemas nos estudos ou na profissão.

A esses efeitos acrescentam-se transtornos de estresse pós-traumático (21%), ataques de pânico, abuso de álcool e drogas, assim como distúrbios do sono (16%, respectivamente), tendências suicidas (11%) e dificuldades de concentração (9%).

Os autores do estudo, realizado ao longo de quatro anos, enfatizam que ele se refere exclusivamente aos casos documentados, não havendo dados sobre o "campo escuro" dos abusos sexuais não registrados ou silenciados. Eles aconselham uma reavaliação das estruturas do clericalismo, em especial em relação ao celibato e ao posicionamento da Igreja perante a homossexualidade.

Declarando-se "abalado" pelos resultados, o supervisor do projeto, o psiquiatra Harald Dressing, criticou em especial a falta de disposição ao esclarecimento por parte da instituição católica.

Num ato declarado de autocrítica, o presidente da Conferência dos Bispos Alemães, cardeal Reinhard Marx, admitiu que "por tempo demasiado longo a Igreja negou, ignorou e acobertou o abuso": "Eu sinto vergonha pelos muitos que olharam para o outro lado, que não queriam tomar conhecimento do que estava acontecendo e que não cuidaram das vítimas. Isso também se aplica a mim! Nós não escutamos as vítimas."

AV/kna,dpa

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