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ReligiãoAlemanha

Igreja Católica alemã busca solução para falta de padres

22 de setembro de 2020

Devido à diminuição do número de sacerdotes e da arrecadação de impostos, arquidioceses discutem reduzir a quantidade de paróquias. Representantes comunitários temem que reestruturação impulsione abandono da Igreja.

Igreja no centro da cidade de Bonn
Igreja no centro da cidade de BonnFoto: Fotolia/europhotos

Wolfgang Picken é um dos diversos padres de Bonn, no oeste da Alemanha, e também decano da cidade, ou seja, representante das 25 paróquias da antiga capital da Alemanha. A rotina dele, porém, está prestes a mudar. De acordo com os planos da Arquidiocese de Colônia, em breve, Picken deve se tornar responsável por muito mais igrejas da região. Em entrevista à DW, ele disse que será uma "mudança insana".

Reforma estrutural tem sido a palavra de ordem na Igreja Católica. Com a queda no número de clérigos em atividade e a previsível redução da arrecadação de impostos, as dioceses estão em busca de mudanças. Na Alemanha, o imposto religioso é regulamentado por lei, recolhido pelo Estado e encaminhado às autoridades religiosas, a menos que o cidadão se declare "sem religião" ou se desvincule formalmente da Igreja.

A Arquidiocese de Colônia é uma das mais ricas do mundo e a diocese com o maior número de membros na Alemanha. Até 2030, ela planeja transformar as cerca de 500 paróquias da região em aproximadamente 50 grandes congregações - cada uma chefiada por um sacerdote.

A reestruturação é a consequência mais evidente da escassez de padres que há anos atinge a Igreja Católica na Alemanha. O assunto é discutido há muito tempo, e este ano o debate deve ser ampliado durante a Plenária de outono da Conferência Episcopal Alemã (DBK), que está sendo realizada em Fulda, no estado alemão de Hessen. O tema é uma das peças de um grande quebra-cabeça de uma Igreja Católica em crise que discute uma nova forma de futuro, e lida com escândalos sexuais e os debates com Roma.

Em julho deste ano, a declaração do Vaticano sobre a reforma estrutural na Alemanha causou irritação entre muitos bispos alemães. A Congregação para o Clero deixou claro que as congregações da Igreja devem ser sempre lideradas por um padre - uma rejeição direta a qualquer conceito de liderança por equipes de sacerdotes e laicos em igualdade de direitos. 

"Irrealista e absurdo"

Thomas Sternberg, presidente do Comitê Central dos Católicos Alemães (ZdK), afirmou que depois de ler as instruções do Vaticano teve que "engolir seco". E completou: "Eu disse a mim mesmo que, em certas partes, é muito irreal e absurdo." 

Os bispos também se posicionaram de forma clara. O arcebispo de Bamberg, Ludwig Schick, chamou a carta do Vaticano de "teologicamente deficiente" e disse que ela "mais prejudica do que ajuda".

Reestruturação será discutida na Plenária de outono da Conferência Episcopal AlemãFoto: picture-alliance/dpa/F. Gentsch

A Diocese de Trier é a que há mais tempo trabalha na reforma estrutural. Um modelo que previa a transformação de 887 paróquias em 35 grandes paróquias sob a liderança de uma equipe de sacerdotes e laicos foi derrubado pelo Vaticano em 2019. Após o veto romano, o número de paróquias deve ficar em 172 - cada uma chefiada por um padre.

A diocese de Mainz, por exemplo, quer condensar 134 unidades pastorais em 50 paróquias até 2030, cada uma liderada também por um sacerdote. "Encontraremos formas adequadas de compartilhar responsabilidades", afirma o bispo Peter Kohlgraf.

Ainda mais distante dos fiéis

Com a formação de "grandes paróquias", pode ser que diversos aparatos administrativos não sejam mais necessários. Por outro lado, o caminho dos fiéis para a missa dominical deve ficar mais longo. Uma mudança que traz implicações não apenas do ponto de vista religioso, mas também social.

Em entrevista à DW, o diretor da Associação Alemã de Municípios, Gerd Landsberg, cita os feitos das igrejas no campo social - de creches ao trabalho com jovens, a programa de integração para estrangeiros e assistência a idosos.

Ele apela às igrejas para que conversem com seus membros e levem suas preocupações a sério. Landsberg teme que as cidades não consigam realizar por conta própria muitos dos serviços realizados pela Igreja, e apela por ajuda dos governos federal e estaduais: "Se isso [a restruturação] realmente acontecer, daqui a alguns anos precisaremos de uma estrutura social diferente."

Frustração no nível de base

Muitos representantes de comunidades eclesiais de base veem os planos de reestruturação "de forma muito crítica". Na avaliação deles, tudo está relacionado: frustração nas bases, abandono da Igreja, severidade do Vaticano e a orientação da Igreja Católica com relação aos padres.

"No fim, o resultado é uma Igreja feita sob medida para a Igreja", diz Susanne Ludewig, membro do movimento Nós somos a Igreja. Nas últimas décadas, muitos fiéis têm buscado se envolver com as paróquias do próprio bairro: "Se tiver que dirigir 50 quilômetros para ir à missa – não vai ter futuro."

Movimentos defendem "mais coragem" para a reforma da Igreja CatólicaFoto: DW/Christoph Strack

Assim como o movimento Nós somos a Igreja, o grupo Maria 2.0 também estará presente no encerramento da Plenária de outono da Conferência Episcopal Alemã, realizada em Fulda até esta quinta-feira (24/09). Os grupos devem protestar por mais coragem para a reforma da Igreja Católica. A escassez de padres é uma consequência da obrigação do celibato, e é necessária uma abertura ampla da instituição, defendem.

Para o decano da cidade de Bonn, Wolfgang Picken, ao criar novo modelos deve-se buscar por "estruturas que nos são familiares". Ele cita regiões da Ásia, África e América Latina, onde há muito tempo existem paróquias que vivem o cristianismo sem padres e com poucos recursos financeiros.

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