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Imagem de Cuba é marcada por salsa e ditadura

Jan David Walter (av)28 de julho de 2013

Para uns, ilha comunista é um paraíso da justiça social, para outros apenas uma ditadura de Terceiro Mundo. Os dois conceitos são marcados por velhos clichês e desconsideram as mudanças ocorridas dos anos 90 para cá.

Foto: Flickr/sa-by-Jean Christophe

A Cuba de Fidel Castro sempre foi um foco de saudosismo para os rebeldes de esquerda. A Revolução Cubana começou em 26 de julho de 1953, com o assalto ao quartel Moncada, em Santiago de Cuba. Em 1º de janeiro de 1959, o ditador Fulgencio Batista batia em retirada, e os "barbudos" – como a população apelidava os irmãos Castro, Che Guevara e seus companheiros de luta – assumiram o poder.

O regime Batista tinha fama de ser apoiado pelo governo dos EUA e de ser infiltrado pela Máfia. Assim, já nos anos 60, a rebelião contra ele foi percebida nos Estados Unidos como uma contraproposta ao modelo social usual do Ocidente. Também na Europa, a ilha comunista em meio ao mar capitalista logo encontrou simpatizantes de ambos os lados da Cortina de Ferro, lembra a socióloga Rosa Brandhorst.

"A esquerda da Alemanha Ocidental, encabeçada por Rudi Dutschke, e a esquerda da República Democrática Alemã [sob regime comunista], insatisfeitas com o real-socialismo, viram o movimento anti-imperialista de independência em Cuba como uma alternativa". Também para os intelectuais latino-americanos, o país foi uma grande inspiração, ao "se apresentar como Davi contra Golias".

Saudosismo da Cuba pré-revolucionária no Tropicana ClubFoto: AP

Romantismo renitente

Brandhorst, cuja tese de doutorado pela Universidade de Göttingen trata da transformação da atual sociedade cubana, comenta que muitos esquerdistas insistem nessa imagem romantizada de Cuba. "É a imagem de uma utopia vivida" – completada pelo estereótipo de mulatas dançando salsa e fumadores de charuto de terno listrado.

Na realidade, tudo isso tem relativamente pouco a ver com a Cuba de hoje, a qual, desde os anos 90, se encontra num novo processo de transformação, contrapõe a socióloga.

Este transcorre de forma bem menos radical do que o da Rússia ou da China, mas, ainda assim, poucos na Europa registraram devidamente mudanças importantes como a introdução do sistema monetário dual – no qual uma das duas moedas nacionais é acoplada ao dólar americano –, a possibilidade de uma certa autonomia econômica para a população e, desde 2013, a maior facilidade de viajar para o exterior.

Nova liberdade: para viajar, basta o passaporteFoto: Getty Images

Luta contra a desinformação

Em seu blog Cuba heute (Cuba hoje), o estudante de História Marcel Kunzmann procura fazer frente a essa deficiência. "No panorama midiático alemão, circula uma visão bastante unilateral do desenvolvimento em Cuba, em que se opera bastante com clichês e simplificações."

Assim, Kunzmann procura compilar e ordenar informações concretas. "Acho que essa é a melhor forma de romper com preconceitos." Segundo ele, entre os estereótipos mais comuns está o de que não há possibilidades de consumo; de que o padrão de vida cubano seria comparável ao de países africanos extremamente subdesenvolvidos; e de que o povo é reprimido e não tem coragem de expressar a própria opinião.

O blogueiro tem grande interesse nos Estados socialistas e pós-socialistas. Através de duas viagens, em 2009 e 2012, ele formou sua própria opinião sobre Cuba. Por ocasião da entrevista à DW, Kunzmann se encontrava na Rússia.

A socióloga Brandhorst também é a favor de que se desenvolva uma visão diferenciada do país insular. Por outro lado, ela detecta uma falta de informação sobre os lados negativos das mudanças em Cuba, como "desigualdade social, o colapso do sistema de seguridade social, cortes dos salários-desemprego e a limitação destes a um ano".

"Che" como objeto de consumo no OcidenteFoto: Flickr/sa-by-d>run

Turismo como força econômica

Enquanto isso, os europeus preferem se aferrar aos velhos mitos. Em princípio, data do tempo da revolução a nostalgia de Cuba, com bailarinas de salsa morenas e respeitáveis senhores, que se encontram para fazer negócios nos shows de dança dos estabelecimentos de luxo de Havana, aponta a doutoranda de Göttingen.

Desde 1990 é possível, de fato, matar em parte a saudade dos charutos, do rum e da rumba. Após o fim da União Soviética, o regime castrista voltou a fomentar o turismo como fonte de divisas e substituto para os subsídios de Moscou. Também a prostituição – apesar de rigorosamente proibida – volta a prosperar, disfarçada de namoro de férias.

O outro mito, o da rebeldia, continua vivo na Europa, sobretudo na efígie do revolucionário Ernesto "Che" Guevara e nos bares cubanos, que há cerca de 20 anos brotam nas cidades europeias como cogumelos após a chuva.

Na maioria dos casos, no entanto, constata-se que os proprietários dos bares nem mesmo sabem espanhol, comenta Brandhorst, com base na própria experiência. Da mesma forma, os conhecimentos sobre Che costumam ser modestos. Como diz a socióloga, o slogan é: "Cuba vende".

Isso confere com as observações do blogueiro Kunzmann. "A iconografia de Che Guevara é alvo de muito abuso, fora de Cuba. Especialmente no Oeste Europeu, muitos adolescentes andam com o rosto dele estampado nas camisetas sem nem saber de quem se trata."

Na América Latina e em outras regiões em desenvolvimento é um pouco diferente, acredita o estudante de história. Lá se sabe muito bem que statement político está ligado a Che Guevara e Fidel Castro: anti-imperialismo e solidariedade com outros povos.

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