Imagens mostram fuga dramática de soldado norte-coreano
22 de novembro de 2017
Apesar de alvejado por guardas de fronteira, desertor consegue alcançar a Coreia do Sul. ONU acusa norte-coreanos de terem violado acordo de armistício ao tentar impedir fuga.
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O Comando das Nações Unidas (UNC) em Seul divulgou nesta quarta-feira (22/11) imagens da fuga desesperada de um soldado norte-coreano que desertou para a Coreia do Sul. Apesar de alvejado pelos guardas de fronteira, ele conseguiu atravessar para o país vizinho.
As imagens mostram um jipe militar em alta velocidade numa rodovia nas proximidades do local normalmente visitado por turistas, no único ponto da fronteira na zona desmilitarizada (DMZ) onde soldados dos dois países ficam frente a frente.
Ao perceberem que um de seus colegas tentava desertar, os soldados da patrulha de fronteiras saem imediatamente em seu encalço. O jipe se aproxima da fronteira, mas acaba preso numa vala.
Quatro soldados norte-coreanos correm para tentar impedir a fuga. O desertor abandona o jipe e prossegue a pé rumo à linha de fronteira e por pouco não é alcançado pelos soldados, equipados com fuzis AK-47 e pistolas, que abrem fogo. Segundo Seul, 40 rodadas de munição foram disparadas. Um dos soldados chega a cruzar momentaneamente a linha que divide os dois países.
Em seguida, o desertor aparece caído junto a um pequeno muro do lado sul-coreano. Ele foi atingido por ao menos quatro tiros. Cerca de 40 minutos depois, imagens de uma câmera de visão noturna mostram soldados sul-coreanos que se aproximam e o arrastam até um local seguro. Ele foi levado por um helicóptero militar americano até um hospital em Suwon, ao sul de Seul.
Em fuga para a Coreia do Sul, norte-coreano é baleado
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Surpreendentemente, os soldados dos dois lados da fronteira não trocaram tiros, no primeiro episódio desse tipo ocorrido no local em mais de três décadas. A fuga, ocorrida em 13 de novembro, não deixa de ser um constrangimento para Pyongyang, que atribui as deserções a sequestros ou aliciamentos promovidos por Seul.
O desertor ficou gravemente ferido, mas nesta quarta-feira os médicos que o trataram afirmaram que ele está bem e não corre risco de vida. Ele passou por duas cirurgias para a remoção das balas e respira sem a ajuda de aparelhos.
"Como o paciente demonstra sinais de depressão devido ao intenso estresse psicológico após duas cirurgias de grande porte, será submetido a testes para detectar síndrome de estresse pós-traumático", afirmou o médico que o operou, Lee Cook-jong.
"A razão pela qual desertou, arriscando sua vida e enfrentando uma barreira de tiros, foram as esperanças positivas que tem em relação à Coreia do Sul", disse Lee. Ele afirma ter conversado com o soldado, que lhe disse ter desertado por sua própria vontade.
Em comunicado, o hospital afirmou que o paciente requer cuidados intensivos e observação, uma vez que seu quadro pode se agravar em razão de infecções. O soldado tem 1,70 metro de altura e pesa 60 quilos.
Violação do armistício
O Comando da ONU na Coreia do Sul disse que as Forças Armadas norte-coreanas violaram os termos do acordo do armistício de 1953, ao tentar impedir a tiros a deserção.
O UNC afirmou que um soldado da Coreia do Norte cruzou por alguns segundos a Linha de Demarcação Militar (MDL), que delineia a fronteira de facto entre os dois países. Além disso, os soldados norte-coreanos dispararam na direção do sul, para dentro do território sul-coreano.
"As principais conclusões da equipe especial de investigações são de que o exército norte-coreano violou o acordo do armistício, primeiramente, ao abrir fogo na DMZ, e em segundo lugar, por cruzar temporariamente a MDL", afirmou o diretor de Assuntos Públicos da UNC, Chad Carroll.
Até o momento, a Coreia do Norte não comentou oficialmente a deserção do soldado ou as denúncias de violação do armistício.
RC/ap/rtr/afp
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Verdades e mitos sobre a dinastia Kim
Família governa a Coreia do Norte desde a fundação do país, há quase sete décadas, com um culto quase divino às personalidades de Kim Il-sung, Kim Jong-il e Kim Jong-un.
Foto: picture alliance / dpa
Um jovem líder
Kim Il-sung, o primeiro e "eterno" presidente da Coreia do Norte, assumiu o poder em 1948 com o apoio da União Soviética. O calendário oficial do país começa no seu ano de nascimento, 1912, designando-o de "Juche 1", em referência ao nome da ideologia estatal. O primeiro ditador norte-coreano tinha 41 anos ao assinar o armistício que encerrou a Guerra da Coreia (foto).
Foto: picture-alliance/dpa
Idolatria
Após a guerra, a máquina de propaganda de Pyongyang trabalhou duro para tecer uma narrativa mítica em torno de Kim Il-sung. A sua infância e o tempo que passou lutando contra as tropas japonesas nos anos 1930 foram enobrecidas para retratá-lo como um gênio político e militar. No congresso partidário de 1980, Kim anunciou que seria sucedido por seu filho, Kim Jong-il.
Foto: picture-alliance/AP Photo
No comando até o fim
Em 1992, Kim Il-sung começou a escrever e publicar sua autobiografia, "Memórias – No transcurso do século." Ao descrever sua infância, o líder norte-coreano afirmou que ao 6 anos participou de sua primeira manifestação contra os japoneses e, aos 8, envolveu-se na luta pela independência. As memórias permaneceram inacabadas com a sua morte, em 1994.
Foto: Getty Images/AFP/JIJI Press
Nos passos do pai
Depois de passar alguns anos no primeiro escalão do regime, Kim Jong-il assumiu o poder após a morte do pai. Seus 16 anos de governo foram marcados pela fome e pela crise econômica num país já empobrecido. Mas o culto de personalidade em torno dele e de seu pai, Kim Il-sung, cresceu ainda mais.
Foto: Getty Images/AFP/KCNA via Korean News Service
Nasce uma estrela
Historiadores acreditam que Kim Jong-il nasceu num campo militar no leste da Rússia, provavelmente em 1941. Mas a biografia oficial afirma que o nascimento dele aconteceu na montanha sagrada coreana de Paekdu, exatamente 30 anos após o nascimento de seu pai, em 15 de abril de 1912. Segundo uma lenda, esse nascimento foi abençoado por uma nova estrela e um arco-íris duplo.
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Problemas familiares
Kim Jong-il teve três filhos e duas filhas com três mulheres, até onde se sabe. Esta foto de 1981 mostra Kim Jong-il sentado ao lado de seu filho Kim Jong-nam, fruto de um caso com a atriz Song Hye-rim (que não aparece na foto). A mulher à esquerda é Song Hye-rang, irmã de Song Hye-rim, e os dois adolescentes são filhos de Song Hye-rang. Kim Jong-nam foi assassinado em 2017.
Foto: picture-alliance/dpa
Procurando um sucessor
Em 2009, a mídia ocidental informou que Kim Jong-il havia escolhido seu filho mais novo, Kim Jong-un, para assumir a liderança do regime. Os dois apareceram juntos numa parada militar em 2010, um ano antes da morte de Kim Jong-il.
Foto: picture-alliance/AP Photo/V. Yu
Juntos
Segundo Pyongyang, a morte de Kim Jong-il em 2011 foi marcada por uma série de acontecimentos misteriosos. A mídia estatal relatou que o gelo estalou alto num lago, uma tempestade de neve parou subitamente e o céu ficou vermelho sobre a montanha Paekdu. Depois da morte de Kim Jong-il, uma estátua de 22 metros de altura do ditador foi erguida próxima à de seu pai (esq.) em Pyongyang.
Foto: picture-alliance/dpa
Passado misterioso
Kim Jong-un manteve-se fora de foco antes de subir ao poder. Sua idade também é motivo de controvérsia, mas acredita-se que ele tenha nascido entre 1982 e 1984. Ele estudou na Suíça. Em 2013, ele surpreendeu o mundo ao se encontrar com Dennis Rodman, antiga estrela do basquete americano, em Pyongyang.
Foto: picture-alliance/dpa
Um novo culto
Como os dois líderes antes dele, Kim Jong-un é tratado como um santo pelo regime estatal totalitário. Em 2015, a mídia sul-coreana reportou sobre um manual escolar que sustentava que o novo líder já sabia dirigir aos 3 anos. Em 2017, foi anunciado pela mídia estatal que um monumento em homenagem a ele seria construído no Monte Paekdu.
Foto: picture alliance/dpa/Kctv
Um Kim com uma bomba de hidrogênio
Embora Kim tenha chegado ao poder mais jovem e menos conhecido do público que seu pai e seu avô, ele conseguiu manter o controle do poder. O assassinato de seu meio-irmão Kim Jong-nam, em 2017, serviu para cimentar sua reputação externa de ditador impiedoso. O líder norte-coreano também expandiu o arsenal de armas do país.