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Imagens revelam obras de primeiro reator nuclear saudita

4 de abril de 2019

Estrutura deve ficar pronta em alguns meses e ser usada para fins de treinamento e pesquisa. Especialista alerta para falta de transparência do governo saudita sobre projeto e necessidade de inspeções internacionais.

Imagem de satélite mostra as obras do reator, localizado na chamada Cidade para Ciência e Tecnologia Rei Abdulaziz, na periferia de Riad
Imagem de satélite mostra as obras do reator, localizado na chamada Cidade para Ciência e Tecnologia Rei Abdulaziz, na periferia de RiadFoto: 2019 DigitalGlobe, 2019 Google

A Arábia Saudita deve concluir a construção de seu primeiro reator nuclear dentro de alguns meses, apontam imagens de satélite. Apesar de ser destinada a pesquisa e treinamento, a estrutura levanta preocupações em relação à necessidade de inspeções internacionais que evitariam o desenvolvimento de uma bomba.

Robert Kelley, ex-diretor de inspeções nucleares da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), foi o primeiro a identificar as imagens de satélite que mostram o reator, localizado na chamada Cidade para Ciência e Tecnologia Rei Abdulaziz, na periferia da capital Riad.

Kelley afirmou nesta quinta-feira (04/04) estar surpreso com a falta de transparência do governo saudita sobre o processo de construção do reator nuclear e que, antes de poder inserir combustível atômico no reator, o reino saudita teria que permitir inspeções da AIEA.

A Arábia Saudita aderiu em 1988 ao Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares. Quase três décadas depois, em 2005, o país assinou um acordo com a AIEA conhecido como "protocolo de pequenas quantidades" (SQP, na sigla em inglês), que permite que países com programas nucleares irrisórios fiquem isentos de inspeções regulares ou monitoramento nuclear.

Uma vez que combustível nuclear fosse transportado para o país para operar o reator, os limites previstos no SQP seriam ultrapassados, e inspeções da AIEA seriam necessárias, aponta Kelley.

Ele afirma que o reator em obras é muito menor que as estruturas que o reino saudita afirmou querer construir para gerar energia e deve ser usado por técnicos com fins de pesquisa e treinamento.

O reator está sendo construído pela estatal argentina INVAP e, antes que o país sul-americano transporte combustível nuclear para a Arábia Saudita, o acordo com a AIEA que isenta o reino de inspeções teria de ser rescindido, segundo o especialista.

"Considero 100% certo que a Argentina não vai fornecer urânio para um país que não tem um acordo de salvaguardas em vigor", diz Kelley, que trabalhou durante mais de três décadas no complexo de armas nucleares do Departamento de Energia dos EUA.

Na semana passada, o governo do presidente americano Donald Trump disse ter aprovado sete pedidos de empresas americanas para vender tecnologia de energia nuclear e darem assistência à Arábia Saudita.

Legisladores republicanos e democratas manifestaram preocupação com a possibilidade a Arábia Saudita desenvolver armas nucleares se tecnologia dos EUA for transferida sem as salvaguardas adequadas.

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, e o secretário de Energia, Rick Perry, bloquearam comitês do Congresso que exigem saber para que exatamente as autorizações foram aprovadas e que companhias estão envolvidas.

Um relatório divulgado em fevereiro pelo comitê de supervisão da Câmara dos Representantes dos EUA cita evidências mencionadas por informantes de esforços na Casa Branca para acelerar a transferência de tecnologia nuclear altamente sensível dos EUA para a Arábia Saudita, sem salvaguardas de não proliferação de armas nucleares.

Devido a controvérsias envolvendo a isenção de inspeções nucleares concedida à Arábia Saudita, a AIEA endureceu as regras do "protocolo de pequenas quantidades", mas os sauditas vêm se recusando a fazer ajustes ou rescindir o acordo.

Thomas Countryman, que foi secretário de Estado adjunto para segurança internacional e não proliferação no governo do ex-presidente americano Barack Obama, afirmou que, durante negociações, autoridades sauditas manifestaram resistência a proibições de enriquecimento ou reprocessamento de urânio, assim como a um protocolo de inspeções da AIEA mais rígido.

Citado pelo jornal britânico The Guardian, Countryman disse considerar improvável que as sete autorizações de exportação de tecnologia nuclear aprovadas pelo governo Trump ajudem a Arábia Saudita a desenvolver armas nucleares. Ele questionou, no entanto, a falta de transparência envolvida, afirmando que isso aumenta as suspeitas em relação às intenções dos governos americano e saudita.

Quando questionado sobre o assunto no ano passado, o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, não descartou o desenvolvimento de uma arma nuclear. "A Arábia Saudita não pretende adquirir uma bomba nuclear, mas, sem dúvida, se o Irã desenvolver uma bomba nuclear, faremos o mesmo assim que possível", disse à emissora americana CBS.

Nesta quinta-feira, a agência Reuters noticiou que a Arábia Saudita pretende lançar uma licitação multibilionária em 2020 para a construção de seus dois primeiros reatores destinados à geração de energia nuclear e está discutindo o projeto com empresas dos EUA, Rússia, Coreia do Sul, China e França.

LPF/ap/rtr/ots

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