Imigrantes fazem greve nos EUA em boicote contra Trump
17 de fevereiro de 2017
Estrangeiros radicados no país não vão ao trabalho e não usam transporte público em protesto contra política migratória do presidente americano. Empresas, supermercados e museus também aderiram ao "Dia sem imigrantes".
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Imigrantes que vivem em Washington, Boston, Filadélfia e Los Angeles não foram ao trabalho, se negaram a fazer compras e não usaram o transporte público nesta quinta-feira (16/02) num ato de boicote contra as políticas migratórias do presidente americano, Donald Trump.
Empresas de construção civil, restaurantes, supermercados não funcionaram para demonstrar solidariedade ao protesto "Dia sem Imigrantes", que teve o objetivo de mostrar a importância do trabalho de estrangeiros que se estabeleceram nos Estados Unidos.
"É um protesto de ausência, não de presença. Isso pode ter mais impacto do que uma manifestação comum", explicou o professor de Sociologia da Universidade Americana, Ernesto Castañeda, em Mount Pleasant, bairro hispânico de Washington.
Em Washington, imigrantes salvadorenhos, colombianos, indianos e coreanos aderiram à paralisação de forma espontânea contra as medidas de Trump para acelerar as deportações de imigrantes ilegais e proibir a entrada de refugiados no país.
Alguns supermercados instalaram cartazes com a mensagem "fechado por greve geral". Algumas escolas bilíngues na capital americana também não funcionaram, num acordo entre alunos, pais e professores.
O Museu Davis, situado no Wellesley College, em Massachusetts, vai ocultar até a próxima terça-feira todas as obras feitas ou doadas por imigrantes. A decisão afeta 120 obras, que representam 20% dos acervo do museu.
Críticas à política migratória de Trump
De acordo com o Departamento do Censo dos EUA, 13% dos habitantes do país nasceram no exterior, o equivalente a mais de 40 milhões de pessoas. O número é ainda maior se forem incluídos os filhos de imigrantes que nasceram nos EUA.
Além de estabelecer o veto migratório, Trump assinou uma ordem executiva que determina interrupção de repasses às cidades que não colaborarem com as autoridades federais nas operações contra imigrantes em situação ilegal. Dezenas de prefeitos das principais cidades se negaram a ceder e verificar o status migratório dos moradores.
Em batidas realizadas no último fim de semana, 700 pessoas foram presas. Nesta quinta, o presidente reiterou que o projeto de construção de um muro na fronteira com o México "não é piada".
Trump reconheceu que a revogação do programa aprovado na gestão Obama para conter a deportação de jovens imigrantes ilegais é "um dos assuntos mais difíceis" com os quais tem que lidar e assegurou que vai tratar o assunto "com coração".
O Programa de Ação Diferida (Daca), em vigor desde 2012, paralisou a deportação de 750.000 jovens imigrantes ilegais, conhecidos como "dreamers" (sonhadores) e que procuram trabalho e melhores condições de vida nos EUA.
Nesta quinta, o Departamento de Justiça americano retirou o recurso contra a decisão que bloqueou o veto migratório de Trump, assinado em 27 de janeiro. O presidente afirmou que vai lançar um novo decreto na próxima semana.
KG/efe/ap
Os decretos de Donald Trump
Donald Trump estremeceu o cenário político em seus primeiros dias como presidente dos EUA com uma série de decretos e memorandos impactantes. Entenda a diferença e o significado de cada um deles.
Foto: picture-alliance/dpa/Sachs
Forma rápida de cumprir promessas eleitorais
Com menos de duas semanas na presidência, Donald Trump emitiu 17 medidas executivas. Embora este número em si não seja significativo – no mesmo período Barack Obama assinou praticamente o mesmo número de ordens – o conteúdo dos decretos de Trump é. Parece que o novo presidente dos EUA quer implementar muitas de suas promessas de campanha – incluindo as controversas - o mais rápido possível.
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O que são ordens executivas e memorandos?
As ações executivas (EA) permitem que o presidente dos EUA dê ordens que não precisam de aprovação do Congresso a agências governamentais, contornando o processo legislativo e acelerando sua implementação. Ordens executivas são uma forma mais abrangente de EA que muitas vezes lidam com diretrizes organizacionais maiores, enquanto memorandos presidenciais ordenam agências específicas a fazer algo.
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Enfraquecer Obamacare (ordem executiva)
A primeira ordem executiva assinada por Trump foi uma para retardar partes do Affordable Care Act (Obamacare) para "minimizar encargos regulatórios". Enquanto Trump sozinho não pode revogar a legislação instituída por Obama, ele pode minar a implementação do programa de saúde enquanto a maioria republicana no Congresso se prepara para revogá-lo.
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Retirar subsídio para aborto (memorando)
Trump reinstituiu uma política que impede o financiamento federal para ONGs que fornecem aconselhamento sobre aborto e defendem o direito ao aborto. Essa diretriz tem uma longa história: foi inicialmente instaurada pelo republicano Ronald Reagan, rescindida pelo democrata Bill Clinton, reinstituída pelo republicano George W. Bush, antes de ser reativada pelo democrata Barack Obama.
Foto: REUTERS/A. P. Bernstein
Deportação de imigrantes (ordem executiva)
Trump ordenou que os agentes de imigração expandissem o escopo das deportações. Ele visa retirar concessões federais das chamadas cidades-santuário (onde imigrantes sem documentos não são processados) e que imigrantes suspeitos de um crime sejam detidos, mesmo sem acusação. Trump pretende contratar 10 mil novos agentes e publicar um relatório sobre crimes cometidos por imigrantes sem documentação.
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Construir o muro (ordem executiva)
Numa ordem executiva assinada em 25 de janeiro, Trump solicitou "a construção imediata de um muro físico", a fim de proteger a fronteira entre México e EUA. Ele também se referiu aos imigrantes sem documentos como "deportáveis", dizendo que o Poder Executivo deve "acabar com o abuso das disposições de liberdade condicional e refúgio usadas para impedir a remoção legal de estrangeiros deportáveis."
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Veto a muçulmanos (ordem executiva)
Trump assinou este controverso decreto em 27 de janeiro. Ele proibiu pessoas de sete países de maioria muçulmana de entrar nos EUA por três meses, suspendeu indefinidamente o programa de refugiados sírios e suspendeu a admissão de refugiados por 120 dias. Protestos contra a ordem estouraram em todo o país e até mesmo os senadores republicanos John McCain e Lindsey Graham criticaram a medida.
Foto: DW/M. Shwayder
EUA deixam TPP (memorando)
Não foi nenhuma surpresa Donald Trump ter abandonado a Parceria Transpacífico (TPP). Durante a campanha, ele criticou frequentemente o TPP e a Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP), afirmando que outros países se beneficiaram desses acordos comerciais, em detrimento dos EUA. O porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, disse que Trump prefere lidar individualmente com os países.
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Sinal verde para oleodutos (memorando)
Três memorandos diferentes – um sobre a construção do oleoduto Dakota Access, outro sobre a continuação da construção do oleoduto Keystone e uma terceira ordem sobre o uso de materiais americanos nas obras – foram emitidos no quarto dia de Trump no governo. Obama tinha negado licenças para ambos os oleodutos após protestos em massa de ambientalistas, que temem o impacto de eventuais vazamentos.
Foto: REUTERS/S. Keith
Expandir as Forças Armadas (memorando)
Trump cumpriu sua promessa eleitoral de investir num Exército maior ao assinar na sua primeira semana no cargo um memorando que pede mais tropas, navios de guerra e um arsenal nuclear modernizado. Quatro dias antes ele ordenou congelar a contratação de civis em agências federais por até 90 dias, para que seu governo possa desenvolver um plano de longo prazo para encolher a força de trabalho.
Foto: Reuters/K. Pempel
Steve Bannon no NSC (memorando)
Trump ordenou uma revisão do Conselho de Segurança Nacional (NSC) para elevar o papel de Stephen Bannon. Trump retirou vários membros do painel responsável por tomar decisões de política externa, enquanto seu estrategista-chefe – conhecido por opiniões de extrema direita – servirá no comitê geralmente preenchido por generais. Isso rompe com a norma de longa data de não nomear políticos para o NSC.
Foto: pciture-alliance/AP Photo/E. Vucci
Desregulamentações (executiva e memorando)
Trump quer que agências federais eliminem ao menos duas normas para cada nova regulamentação e ordenou o congelamento de regulamentações federais, até que um chefe de departamento designado por ele possa revisá-las. Ele também pediu pela rápida aprovação de "projetos de infraestrutura de alta prioridade". Na campanha, Trump disse que o "excesso de regulamentações" feriu o comércio americano.
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Precedente presidencial
Obama emitiu um total de 277 ordens executivas – uma média de quase três por mês e um pouco menos do que seu antecessor, George W. Bush (291). Obama assinou 644 memorando presidenciais para contornar imposições no Congresso – um precedente do qual Trump aparenta estar tirando proveito, embora a maioria em ambas as Casas do Congresso seja republicana.