Socialistas selam acordo com separatistas catalães, que se absterão da votação, deixando caminho livre para nova coalizão. Em troca, recebem promessa de reinício das negociações com Madri pela autonomia da região.
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A nova coalizão de governo da Espanha, encabeçada pelo primeiro-ministro socialista Pedro Sánchez em parceria com a coligação de esquerda Unidas Podemos, conseguiu encaminhar nesta quinta-feira (02/01) a aprovação pelo Parlamento, encerrando o impasse criado pelo resultado das últimas eleições no país.
O Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) de Sánchez selou um acordo com o partido independentista Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), que estabelece novas negociações entre Madri e Barcelona, a serem iniciadas 15 dias após a posse do novo Executivo.
Segundo o texto do acordo, as negociações deverão respeitar "os instrumentos e os princípios que regem o sistema jurídico democrático", e as medidas acordadas entre as duas partes serão sujeitas a uma consulta popular na Catalunha. Em contrapartida, os 13 parlamentares da ERC no Congresso espanhol se absterão na votação sobre a nova coalizão, abrindo caminho para a aprovação do novo governo de esquerda na Espanha.
Após aprovação do acordo pelo Conselho Nacional do ERC, o vice-presidente do governo catalão, Pere Aragonès, disse que seu partido tem consciência de que está assumindo alguns riscos, mas reiterou que "vale a pena abrir caminho para fazer política".
O acordo avançou apesar da resistência do líder da Catalunha, Quim Torra, que advertiu que seu governo não apoiaria o pacto.
Torra convocou Aragonès para dar explicações sobre o acordo que, segundo sua avaliação, poderá gerar abalos no governo da região e seus grupos aliados. O líder catalão deixou claro que quaisquer negociações futuras com Madri devem incluir discussões sobre uma consulta popular sobre a independência da Catalunha.
Aragonès avalia que a abstenção dos parlamentares do ERC na votação não implica em "renunciar a nada", apesar das críticas de outros grupos separatistas da Catalunha, como o JxCat e a CUP.
As sessões parlamentares para a aprovação do novo mandato de Sánchez como presidente de governo devem começar neste sábado com um pronunciamento do líder socialista, no qual ele deverá expor os principais pontos do programa de governo da coligação com o Unidas Podemos.
O acordo entre o PSOE e o ERC deve permitir que a nova coalizão seja aprovada na segunda rodada de votação, no dia 7 de janeiro, onde será necessária maioria simples. O JxCat deverá votar contra a coalizão, assim como as legendas Partido Popular (centro-direita), Cidadãos (liberal de direita) e Vox (extrema direita).
Na Espanha, para a formação de um governo é preciso que haja maioria no Congresso. Ao todo, são 350 cadeiras. Nas eleições de novembro, o PSOE obteve 28% dos votos (120 cadeiras), seguido pelo PP com 20,8% (88), Vox com 15,1% (52), o Unidas Podemos, com 12,8% (35) e o Cidadãos, com 6,8% (10).
PSOE e UP somam, portanto, 155 legisladores, longe da maioria absoluta de 176 deputados. Nesse quadro, a abstenção dos 13 deputados da bancada do ERC possibilita a formação do novo governo na segunda rodada de votação.
Desejo de independência da Espanha é acalentado pelos catalães há muito tempo. Ao longo dos séculos, região experimentou vários graus de autonomia e repressão.
Foto: picture-alliance/dpa/AP/F. Seco
Antiguidade rica
A Catalunha foi habitada por fenícios, etruscos e gregos, que estiveram nas áreas costeiras de Rosas e Ampúrias (acima). Depois vieram os romanos, que construíram mais assentamentos e infraestrutura. A Catalunha foi uma parte do Império Romano até ser conquistada pelos visigodos, no século 5.
Foto: Caos30
Condados e independência
A Catalunha foi conquistada pelos árabes no ano 711. O rei franco Carlos Magno interrompeu o avanço deles em Tours, no rio Loire, e em 759 o norte da Catalunha se tornou novamente cristão. Em 1137, os condados que compunham a Catalunha iniciaram uma aliança com a Coroa de Aragão.
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Guerra e perda de território
No século 13, as instituições de autoadministração catalã foram criadas sob o nome Generalitat de Catalunya. Depois da unificação da Coroa de Aragão com a de Castela, em 1476, Aragão pôde manter suas instituições autônomas. No entanto, a revolta catalã – de 1640 a 1659 – fez com que partes da Catalunha fossem cedidas à atual França.
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Lembrando a derrota
No final da Guerra da Sucessão, Barcelona foi tomada, em 11 de setembro de 1714, pelo rei espanhol Felipe 5°, as instâncias catalãs foram dissolvidas e a autoadministração chegou ao fim. Todos os anos, em 11 de setembro, os catalães fazem uma grande comemoração para lembrar o fim do seu direito à autonomia.
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República passageira
Após a abdicação do rei Amadeo 1°, da Espanha, a primeira república espanhola foi declarada em fevereiro de 1873. Ela durou apenas um ano. Os partidários da república estavam divididos, com um grupo apoiando uma república centralizada e outros, um sistema federal. A foto mostra Francisco Pi y Maragall, um partidário do federalismo e um dos cinco presidentes da república de curta duração.
Foto: picture-alliance/Prisma Archivo
Tentativa fracassada
A Catalunha tentou estabelecer um novo Estado dentro da república espanhola, mas isso apenas exacerbou as diferenças entre os republicanos e os enfraqueceu. Em 1874, a monarquia e a Casa de Bourbon, liderada pelo rei Afonso 12 (foto), retomaram o poder.
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Direitos de autonomia
Entre 1923 e 1930, o general Primo de Rivera liderou uma ditadura – com o apoio da monarquia, do Exército e da Igreja. A Catalunha se tornou um centro de oposição e resistência. Após o fim do regime, o político Francesc Macia (foto) conseguiu impor direitos importantes de autonomia para a Catalunha.
Fim da liberdade
Na Segunda República Espanhola, os legisladores catalães trabalharam no Estatuto de Autonomia da Catalunha, aprovado pelo Parlamento espanhol em 1932. Francesc Macia foi eleito presidente da Generalitat de Catalunha pelo Parlamento catalão. No entanto, a vitória de Franco no fim da Guerra Civil Espanhola (1936 a 1939) acabou com tudo isso.
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Opressão
O ditador Francisco Franco governou com mão de ferro. Partidos políticos foram proibidos, e a língua e a cultura catalãs, reprimidas.
Foto: picture alliance/AP Photo
Novo estatuto de autonomia
Após as primeiras eleições parlamentares que se seguiram ao fim da ditadura de Franco, a Generalitat da Catalunha foi provisoriamente restaurada. Sob a Constituição democrática espanhola de 1978, a Catalunha recebeu um novo estatuto de autonomia, apenas um ano depois.
O novo estatuto de autonomia reconheceu a autonomia da Catalunha e a importância da língua catalã. Em comparação com o estatuto de 1932, ele apresentou avanços nos campos da cultura e educação, mas restrições no âmbito da Justiça. A foto é de Jordi Pujol, que foi por longo tempo chefe de governo da Catalunha depois da ditadura.
Foto: Jose Gayarre
Anseio por independência
O desejo por independência da Espanha se tornou mais forte nos últimos anos. Em 2006, a Catalunha recebeu um novo estatuto, que ampliou ainda mais os poderes do governo catalão. No entanto, eles são perdidos após uma queixa levada pelo conservador Partido Popular ao Tribunal Constitucional espanhol.
Foto: Reuters/A.Gea
Primeiro referendo
Um referendo sobre a independência estava previsto para 9 de novembro de 2014. A primeira questão era "você quer que a Catalunha se torne um Estado?" No caso de uma resposta afirmativa, a segunda pergunta era "você quer que esse Estado seja independente?" No entanto, o Tribunal Constitucional suspendeu a votação.
Foto: Reuters/G. Nacarino
Luta de titãs
Desde janeiro de 2016, Carles Puigdemont é o presidente do governo catalão. Ele deu continuidade ao curso separatista de seu antecessor, Artur Mas, e convocou um novo referendo para 1° de outubro de 2017. O primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, disse que a consulta é inconstitucional.