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"Impeachment ou renúncia" é consenso na Paulista

Marina Estarque, de São Paulo17 de agosto de 2015

Pedidos de afastamento de Dilma ganham força entre os participantes do protesto em São Paulo, que reúne menos pessoas do que em março e mais do que em abril.

Foto: Getty Images/AFP/N. Almeida

Apesar da popularidade do governo Dilma Rousseff (PT) ter chegado aos níveis mais baixos já registrados, o protesto deste domingo (16/08) na Avenida Paulista não teve a mesma adesão da primeira manifestação, em março.

Segundo a Polícia Militar, 350 mil pessoas estavam na avenida no horário de pico, ante 275 mil em abril e 1 milhão em março. O Datafolha estimou em 135 mil o número de manifestantes – em abril, havia calculado 100 mil e, em março, 210 mil.

O protesto foi organizado por três principais grupos – Vem Pra Rua, Movimento Brasil Livre e Revoltados On Line – que concentraram a maior quantidade de manifestantes ao redor dos seus carros de som.

Como das outras vezes, as pessoas foram vestidas de verde e amarelo e levaram apitos, cornetas e tambores. Um tecido com as cores da bandeira brasileira foi estendido de um lado até outro da avenida, amarrada em dois prédios.

"Tem cem metros. Pedimos para os moradores se podíamos prender o pano e eles toparam", afirmou uma das organizadoras do movimento Nas Ruas, Jackeline Halker, de 27 anos.

Além de ser contra o PT, quem protestou na Avenida Paulista pedia a saída de Dilma por impeachment ou renúncia. A maioria afirmava que o PT era mais corrupto do que os outros partidos, mas tampouco consideravam o vice-presidente Michel Temer (PMDB) uma boa opção.

"O Temer não seria bom, mas é melhor do que a Dilma", afirmou o advogado Gabriel Alves, de 32 anos, que votou em Aécio Neves (PSDB) nas últimas eleições. Vestido de verde e amarelo, Alves disse acreditar que Dilma seja corrupta e que o impeachment "seria uma boa mensagem do povo aos políticos".

Juliete da Silva, de 47 anos, disse que concorda com a ideia de que Temer é a solução "menos pior" e que o PT é o partido mais corrupto. "Não inventou a corrupção, mas, com o PT, ela tomou uma proporção maior. Tinha que convocar novas eleições."

Moradora de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, ela foi a todas as manifestações contra o governo na Avenida Paulista. "O protesto é a única forma de pressionar os políticos por mudança e de mostrar a nossa insatisfação."

Com o rosto pintado, Silva repetiu um bordão dos protestos: "Não é só rico que é contra o PT, eu sou de classe baixa", disse ela, que é funcionária pública.

Instituto Datafolha calculou em 135 mil pessoas o público na Avenida PaulistaFoto: Agencia Brasil/M. Camargo

Nordestinos

O casal Juliana Ramos, 33, e Newton Maia, 37, decidiu protestar com uma roupa típica nordestina. "É o gibão de couro, usado por vaqueiros", explicou Newton, que nasceu em Natal, Rio Grande do Norte, mas mora há dez anos em São Paulo.

"Viemos assim para representar o povo nordestino, já que dizem que o Nordeste gosta do PT", disse ele. O casal disse não saber se Dilma é corrupta, mas que teria se beneficiado de dinheiro roubado. Eles votaram em Marina Silva (PSB), no primeiro turno, e em Aécio, no segundo.

Uma reclamação recorrente foi a inflação. Mesmo quem não estava ali para protestar atribuiu ao governo os problemas econômicos.

"Eu votei na Dilma, mas me arrependi. Ela não está fazendo nada e tudo está piorando. As contas e os impostos aumentaram, e o desemprego também", afirmou o vendedor de pipoca e batata frita Pedro de Sousa, de 36 anos. Ele disse que o seu negócio ainda não foi afetado pela crise, mas assegurou que é uma questão de tempo: "Vai piorar".

Jenifer Valentin, de 19 anos, também reclamou das contas mais altas. Ela trabalha como recepcionista num hotel e mora em Sapopemba, na zona leste, de São Paulo. "É o meu primeiro protesto. Estou cansada de roubalheira."

A mãe, que a acompanhou, disse que os "governos de elite" são os que mais ajudam os pobres. "Lá na periferia, o PSDB fez tudo. O PT não fez nada. Todos os partidos roubam, mas o PT foi na cara dura."

Golpe militar

Também havia grupos, minoritários, que apoiavam a intervenção militar. Eles se reuniram em torno dos carros de som dos movimentos União Nacionalista Democrática (UND) e Pátria Amada Brasil.

No carro da UND, os discursos eram inflamados e os xingamentos, recorrentes. "Dilma vaca Rousseff!", gritou uma mulher. Um dos líderes do movimento atacou José Dirceu: "ladrão, filho da puta". E foi respondido por um coro: "Filho da puta!". Depois continuou: "Fora Dilma, Cunha, Renan, bandidos! Fora Judiciário."

Márcia Conte, de 62 anos, aposentada, é a favor de um golpe militar. Ela foi vestida com uma roupa verde, de camuflagem. "Sou filha daquele tempo. Na época dos militares, havia ordem, respeito e crescimento econômico. Não tinha assalto e roubo", disse ela, que votou em Aécio e acredita que as eleições foram fraudadas.

Para Conte, o PT quer instaurar o comunismo no país. "Não somos Cuba ou Venezuela", reclamou.