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Sascha Lobo

17 de abril de 2011

Um dos blogueiros mais famosos da Alemanha acredita que as páginas pessoais, usadas inicialmente para registrar fatos simples do cotidiano, estão sendo transformadas em grandes agentes de opinião.

Lobo: temas tratados em blogs têm pautado jornais e TVsFoto: DW

A influência dos meios digitais nos acontecimentos mundiais tem ficado cada vez mais evidente. Por meio da internet, jovens no Egito, por exemplo, conseguiram organizar mobilizações que pressionaram o governo e culminaram com a queda do presidente Hosni Mubarak.

A rede tem funcionado ainda como importante veículo para registrar conflitos entre governantes e sociedade civil – na Líbia, no Bahrein e em várias outras partes do mundo –, ou mesmo catástrofes, como o terremoto do Japão. Os acontecimentos são disseminados para todo o mundo a uma velocidade incrível, causando repercussões quase que imediatas.

Com isso, a evolução da tecnologia e os rumos da internet na sociedade são temas constantes de encontros entre blogueiros, integrantes de comunidades virtuais e amantes da comunicação. Como o re:publica, realizado em meados de abril, em Berlim. A Deutsche Welle conversou com um dos blogueiros mais famosos da Alemanha, Sascha Lobo, para saber sua opinião sobre o futuro das relações online.

Deutsche Welle: Este foi o ano das redes sociais. Primeiro com o Wikileaks, depois com as revoluções árabes e o terremoto do Japão. A atenção da sociedade em relação a este tipo de mídia mudou, de maneira geral?

Sascha Lobo: Acredito que tenha mudado, sim. Sobretudo porque há cada vez mais usuários para esse tipo de plataforma. Apenas na Alemanha o Facebook tem quase 20 milhões de usuários. São tantas pessoas que circulam pela rede através das diferentes plataformas, que as opiniões começam lentamente a se desenvolver dentro delas, já não vêm de outras fontes externas. E uma opinião criada por alguém de dentro do grupo logicamente tem um valor diferente de outra vinda de fora, que os participantes escutam como meros espectadores.

Tudo isso nos vem mostrando que a massa pode chegar a criar sua própria consciência. Como a participação do internauta em debates públicos pode influenciar essa dinâmica?

Na Alemanha, os próprios blogs se transformaram em agentes de opinião e fontes para os meios de comunicação. Quando os blogs tratam sobre certos temas, estes mesmos temas transpiram em poucas horas para os jornais, inclusive para os canais de televisão. Todos os meios acabam se fundindo, e os blogs também, claro.

Ao falar sobre internet na Alemanha, não se pode deixar de mencionar a proteção de dados e da esfera privada. Por que este interesse frequente sobre estes temas?

Os alemães são muito sensíveis quanto ao tema proteção de dados. Valorizam a esfera privada muito mais do que em outros países, como pudemos comprovar com o Google Streetview. Ao final, foi proibida a publicação de fotos de casas na internet, apesar de as mesmas poderem ser vistas em qualquer rua. É claro que essa atitude tem razões políticas e históricas, mas sobretudo acredito que o cidadão alemão quer ter direito ao que o deixe tranquilo. Por isso, por exemplo, há mais queixas por ruído na Alemanha do que em qualquer outro lugar. Atualmente, é difícil construir um jardim-de-infância sem que os vizinhos reclamem do barulho.

E como fica isso? Você acredita que o usuário alemão vai continuar empenhado em proteger sua privacidade ou vai se desviar, por assim dizer, para uma espécie de exibicionismo online?

Acredito que muitas pessoas mudarão de atitude. Conheço gente que nunca poderia imaginar publicar a foto de um filho na internet e que hoje é o tipo que enche seu perfil do Facebook com essas fotos. Acho que esse comportamento vai se estender pela Alemanha.

O que traz o futuro em relação às redes sociais?

Pessoalmente acredito que os blogs voltarão a recuperar sua importância, porque os autores continuam mantendo certo controle sobre sua própria plataforma. O Facebook, por exemplo, não nos pertence e só podemos fazer o que ele permite. Com o Twitter, a mesma coisa. O caso das revoltas árabes mostrou a importância de o usuário manter o controle sobre sua própria plataforma de comunicação. E no caso dos blogs, nem sempre isso é 100% possível, mas a probabilidade e muito maior do que, por exemplo, por meio do Facebook.

Autor: José A Gayarre (ms)
Revisão: Augusto Valente

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