Advogado que representa sobreviventes do Holocausto no processo contra o "Contador de Auschwitz" defende que julgamento é essencial, apesar da idade avançada do réu e mesmo passados 70 anos do fim do regime nazista.
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Foi aberto nesta terça-feira (21/04) o julgamento de Oskar Gröning, de 93 anos, apelidado de "Contador de Auschwitz", por cumplicidade em pelo menos 300 mil mortes durante sua temporada como servidor da Waffen-SS no campo de extermínio nazista.
Neste que é considerado o último processo do gênero, o advogado Thomas Walther representa 31 dos coautores da ação, todos sobreviventes do Holocausto. Em entrevista à DW, ele afirma que, para os seus clientes, o importante é a justiça, não a pena.
"Eles esperam que, diante do tribunal alemão, seus parentes mortos recuperem uma voz, um rosto, uma dignidade humana, com o tratamento adequado desta fase do processo. O importante para eles é que o tribunal e a Justiça alemã os escutem", diz Walther, que atua no escritório de investigação de crimes do nazismo do estado de Baden-Württemberg,
Deutsche Welle:Em 1977, o Ministério Público de Frankfurt apresentou acusações contra Oskar Gröning, mas o caso foi derrubado em 1985, após longa investigação. Por que se abriu agora um novo processo, depois de tanto tempo?
Thomas Walther:A guinada aconteceu em 2011, com o processo contra o ex-guarda do campo de concentração de Sobibor John Demjanjuk, em Munique. Até então, imperava uma doutrina legal de que só seriam abertos processos contra pessoas que tivessem comprovada relação direta – ou muito próxima – com os assassinatos. No caso de Demjanjuk, eu consegui provar que qualquer tipo de apoio à "máquina da morte" configuraria cumplicidade e, logo, seria digno de processo criminal. Não estamos focando aqui no Holocausto como um todo, mas num crime específico – a morte de 300 mil judeus húngaros deportados e mortos em Auschwitz.
Por que neste caso a queixa realmente deverá levar a uma condenação?
O objeto concreto da acusação se refere a dois pontos. Por um lado, como funcionário da administração dos bens dos detentos, Gröning coletava o dinheiro dos judeus, contava e o fazia chegar a Berlim. E tinha uma segunda função, desempenhada na rampa em que chegavam os trens de deportados. Antes que desembarcassem os seguintes, tinham que ser retiradas das rampas as malas, roupas, os moribundos e os mortos dos trens anteriores. Isso era tarefa da unidade de Gröning, e há confirmações dos superiores dele a respeito.
Em processos anteriores sobre crimes nazistas, os réus negaram sua participação, ou tentaram escapar através de manobras jurídicas. Como tem se comportado até agora o nonagenário Oskar Gröning?
Ele não nega ter estado em Auschwitz. Não nega o Holocausto. A única ressalva é que, juridicamente, ele não vê a sua participação como cumplicidade a ser punida por lei. Certos procedimentos na rampa são minimizados. Ele apresentou a alegação, por exemplo, que só tomava conta para que ninguém roubasse nada das bagagens na plataforma.
O senhor representa 31 dos mais de 60 autores da ação. O que as vítimas das atrocidades esperam deste processo?
Para os implicados, a pena não tem significado nenhum, ou só secundário. Os coautores esperam que, diante do tribunal alemão, seus parentes mortos recuperem uma voz, um rosto, uma dignidade humana, com o tratamento adequado desta fase do processo. O importante para eles é que o tribunal e a Justiça alemã os escutem; que talvez até se trave um diálogo com o acusado; e que, depois de todo esse tempo, haja uma resposta da Justiça, no interesse do que é justo.
Como o senhor avalia o interesse e participação dos alemães em relação ao processo?
Percebo de modo francamente positivo. No sentido em que a mídia e seus representantes têm mostrado empatia e atenção verdadeiras – e não só por terem como tarefa noticiar a respeito. Alguns se perguntam que sentido tem isso tudo, depois de todos esses anos. Mas quando falamos com eles e eles escutam, acontece de eles entenderem bem rapidamente.
Cronologia da Segunda Guerra Mundial
Em 1° de setembro de 1939, as Forças Armadas alemãs atacaram a Polônia, sob ordens de Hitler. A guerra que então começava duraria até 8 de maio de 1945, deixando um saldo até hoje sem paralelo de morte e destruição.
Foto: U.S. Army Air Forces/AP/picture alliance
1939
No dia 1° de setembro de 1939, as Forças Armadas alemãs atacaram a Polônia sob ordens de Adolf Hitler – supostamente em represália a atentados poloneses, embora isso tenha sido uma mentira de guerra. No dia 3 de setembro, França e Reino Unido, que eram aliadas da Polônia, declararam guerra à Alemanha, mas não intervieram logo no conflito.
1939
A Polônia mal pôde oferecer resistência às bem equipadas tropas alemãs – em cinco semanas, os soldados poloneses foram derrotados. No dia 17 de setembro, o Exército Vermelho ocupou o leste da Polônia – em conformidade com um acordo secreto fechado entre o Império Alemão e a União Soviética apenas uma semana antes da invasão.
Foto: AP
1940
Em abril de 1940, a Alemanha invadiu a Dinamarca e usou o país como base até a Noruega. De lá vinham as matérias-primas vitais para a indústria bélica alemã. No intuito de interromper o fornecimento desses produtos, o Reino Unido enviou soldados ao território norueguês. Porém, em junho, os aliados capitularam na Noruega. Nesse meio tempo, a Campanha Ocidental já havia começado.
1940
Durante oito meses, soldados alemães e franceses se enfrentaram no oeste, protegidos por trincheiras. Até que, em 10 de maio, a Alemanha atacou Holanda, Luxemburgo e Bélgica, que estavam neutros. Esses territórios foram ocupados em poucos dias e, assim, os alemães contornaram a defesa francesa.
Foto: picture alliance/akg-images
1940
Os alemães pegaram as tropas francesas de surpresa e avançaram rapidamente até Paris, que foi ocupada em meados de junho. No dia 22, a França se rendeu e foi dividida: uma parte ocupada pela Alemanha de Hitler e a outra, a "França de Vichy", administrada por um governo fantoche de influência nazista e sob a liderança do general Pétain.
Foto: ullstein bild/SZ Photo
1940
Hitler decide voltar suas ambições para o Reino Unido. Seus bombardeios transformaram cidades como Coventry em cinzas e ruínas. Ao mesmo tempo, aviões de caça travavam uma batalha aérea sobre o Canal da Mancha, entre o norte da França e o sul da Inglaterra. Os britânicos venceram e, na primavera europeia de 1941, a ofensiva alemã estava consideravelmente enfraquecida.
Foto: Getty Images
1941
Após a derrota na "Batalha aérea pela Inglaterra", Hitler se voltou para o sul e posteriormente para o leste. Ele mandou invadir o norte da África, os Bálcãs e a União Soviética. Enquanto isso, outros Estados entravam na liga das Potências do Eixo, formada por Alemanha, Itália e Japão.
1941
Na primavera europeia, depois de ter abandonado novamente o Pacto Tripartite, Hitler mandou invadir a Iugoslávia. Nem a Grécia, onde unidades inglesas estavam estacionadas, foi poupada pelas Forças Armadas alemãs. Até então, uma das maiores operações aeroterrestres tinha sido o ataque de paraquedistas alemães a Creta em maio de 1941.
Foto: picture-alliance/akg-images
1941
O ataque dos alemães à União Soviética no dia 22 de junho de 1941 ficou conhecido como Operação Barbarossa. Nas palavras da propaganda alemã, o objetivo da campanha de invasão da União Soviética era uma "ampliação do espaço vital no Oriente". Na verdade, tratava-se de uma campanha de extermínio, na qual os soldados alemães cometeram uma série de crimes de guerra.
Foto: Getty Images
1942
No começo, o Exército Vermelho apresentou pouca resistência. Aos poucos, no entanto, o avanço das tropas alemãs chegou a um impasse na Rússia. Fortes perdas e rotas inseguras de abastecimento enfraqueceram o ataque alemão. Hitler dominava quase toda a Europa, parte do norte da África e da União Soviética. Mas no ano de 1942 houve uma virada.
1942
A Itália havia entrado na guerra em junho de 1940, como aliada da Alemanha, e atacado tropas britânicas no norte da África. Na primavera de 1941, Hitler enviou o Afrikakorps como reforço. Por muito tempo, os britânicos recuaram – até a segunda Batalha de El Alamein, no outono de 1942. Ali a situação mudou, e os alemães bateram em retirada. O Afrikakorps se rendeu no dia 13 de maio de 1943.
Foto: Getty Images
1942
Atrás do fronte leste, o regime de Hitler construiu campos de extermínio, como Auschwitz-Birkenau. Mais de seis milhões de pessoas foram vítimas do fanatismo racial dos nazistas. Elas foram fuziladas, mortas com gás, morreram de fome ou de doenças. Milhares de soldados alemães e da SS estiveram envolvidos nestes crimes contra a humanidade.
Foto: Yad Vashem Photo Archives
1943
Já em seu quarto ano, a guerra sofreu uma virada. No leste, o Exército Vermelho partiu para o contra-ataque. Vindos do sul, os aliados desembarcaram na Itália. A Alemanha e seus parceiros do Eixo começaram a perder terreno.
1943
Stalingrado virou o símbolo da virada. Desde julho de 1942, o Sexto Exército alemão tentava capturar a cidade russa. Em fevereiro, quando os comandantes desistiram da luta inútil, cerca de 700 mil pessoas já haviam morrido nesta única batalha – na maioria soldados do Exército Vermelho. Essa derrota abalou a moral de muitos alemães.
Foto: picture-alliance/dpa
1943
Após a rendição das tropas alemãs e italianas na África, o caminho ficou livre para que os Aliados lutassem contra as potências do Eixo no continente europeu. No dia 10 de julho, aconteceu o desembarque na Sicília. No grupo dos Aliados estavam também os Estados Unidos, a quem Hitler havia declarado guerra em 1941.
Foto: picture alliance/akg
1943
Em setembro, os Aliados desembarcaram na Península Itálica. O governo em Roma acertou um armistício com os Aliados, o que levou Hitler a ocupar a Itália. Enquanto os Aliados travavam uma lenta batalha no sul, as tropas de Hitler espalhavam medo pelo resto do país.
No leste, o Exército Vermelho expulsou os invasores cada vez mais para longe da Alemanha. Iugoslávia, Romênia, Bulgária, Polônia... uma nação após a outra caía nas mãos dos soviéticos. Os Aliados ocidentais intensificaram a ofensiva e desembarcaram na França, primeiramente no norte e logo em seguida no sul.
1944
Nas primeiras horas da manhã do dia 6 de junho, as tropas de Estados Unidos,Reino Unido, Canadá e outros países desembarcaram nas praias da Normandia, no norte da França. A liderança militar alemã tinha previsto que haveria um desembarque – mas um pouco mais a leste. Os Aliados ocidentais puderam expandir a penetração nas fileiras inimigas e forçar a rendição de Hitler a partir do oeste.
Foto: Getty Images
1944
No dia 15 de agosto, os Aliados deram início a mais um contra-ataque no sul da França e desembarcaram na Provença. As tropas no norte e no sul avançaram rapidamente e, no dia 25 de agosto, Paris foi libertada da ocupação alemã. No final de outubro, Aachen se tornou a primeira grande cidade alemã a ser ocupada pelos Aliados.
Foto: Getty Images
1944
No inverno europeu de 1944/45, as Forças Armadas alemãs reuniram suas tropas no oeste e passaram para a contra-ofensiva em Ardenne. Mas, após contratempos no oeste, os Aliados puderam vencer a resistência e avançar inexoravelmente até o "Grande Império Alemão" – a partir do leste e do oeste.
Foto: imago/United Archives
1945
No dia 8 de maio de 1945, os nazistas se renderam incondicionalmente. Para escapar da captura, Hitler se suicidou com um tiro no dia 30 de abril. Após seis anos de guerra, grande parte da Europa estava sob entulhos. Quase 50 milhões de pessoas morreram no continente durante a Segunda Guerra Mundial. Em maio de 1945, o marechal de campo Wilhelm Keitel assinava a ratificação da rendição em Berlim.