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Desfecho inevitável

5 de abril de 2011

Intervenção militar da França e da ONU na Costa do Marfim mudou definitivamente jogo de forças a favor de Ouattara. ONU desmente que Gbagbo tenha desistido do poder. Partidários e tropas de Ouattara festejam vitória.

Forças leais a Ouattara em AbidjanFoto: picture alliance / dpa

Nesta terça-feira (05/04), os prognósticos da imprensa internacional quanto à situação na Costa do Marfim eram unânimes: fim dos combates e do regime de Laurent Gbagbo, e consequente vitória de Alassane Ouattara, o presidente eleito e reconhecido pela comunidade internacional.

Após dias de combates pesados no centro econômico Abidjan – com "dezenas de mortos", segundo o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos – a residência de Gbagbo ficou sitiada pelos combatentes rivais.

A expectativa era que a batalha de Abidjan assinalasse o fim da crise pós-eleitoral, que se estendeu por mais de quatro meses e quase degenerou numa guerra civil. O comandante do Exército de Gbagbo afirmava "ter suspenso os combates" e pedido um cessar-fogo.

Presença francesa

Alassane Ouattara, presidente eleito, tem apoio internacionalFoto: AP

As estimativas da imprensa sobre a situação no país africano se baseavam, entre outras, em fontes francesas – como o ministro da Defesa, Gérard Longuet, segundo o qual o fim dos combates já seria quase palpável. "Nas próximas horas, tudo poderá estar resolvido", disse em Paris na terça-feira, após encontro com o colega de pasta alemão, Thomas de Maizière. "Praticamente o convencemos a entregar o poder", disse Alain Juppé nesta terça-feira diante da Assembleia Nacional francesa, referindo-se a Gbagbo.

O chefe de governo francês, François Fillon, informou que dois generais ligados a Gbagbo estariam negociando com ele sua capitulação. Diplomatas informaram que os combatentes de Ouattara tomaram o palácio presidencial nesta terça-feira e que Laurent Gbagbo teria se refugiado em um bunker na sua residência.

Um porta-voz do presidente cessante confirmou à agência de notícias Reuters que o antecessor de Ouattara estaria negociando sua partida do país.

De acordo com a União Africana, a Mauritânia é cogitada como país de acolhida a Gbagbo. O ministro francês do Exterior, Alain Juppé, afirmou que a França também se prontificou a acolhê-lo.

Equilíbrio alterado

Por sua vez, o chefe de Estado francês, Nicolas Sarkozy, conversou várias vezes ao telefone com Ouattara durante esta terça-feira. Segundo o premiê Fillon, Sarkozy reafirmou "seu desejo de constituir um governo de ampla união nacional na Costa do Marfim", para assegurar a reconciliação de todos os cidadãos.

Mandato da ONU na Costa do Marfim foi prolongado após eleiçõesFoto: AP

A intervenção militar da França, ex-potência colonial, no país africano alterou o jogo de forças a favor de Ouattara. Com o apoio dos soldados franceses, as tropas de paz das Nações Unidas neutralizaram a artilharia pesada de Gbagbo. O ministro francês do Exterior registrou que atualmente há 12 mil "capacetes azuis" na Costa do Marfim, "e está previsto um reforço de mais 2 mil".

Juppé declarou diante da Assembleia Nacional de seu país: "O objetivo da França é claro: fazer respeitar o direito internacional. Agora devemos nos projetar no futuro, ajudar esta nova Costa do Marfim a se reconstruir na paz e na prosperidade". Por outro lado, o chefe da diplomacia francesa fez questão de enfatizar que seu país não pretende "se incrustar" na Costa do Marfim, "quanto antes nossa intervenção de apoio à ONU puder se encerrar, melhor".

Críticas à ONU

A porta-voz do Departamento de Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU avaliou assim as circunstâncias na metrópole Abidjan: "A situação humanitária deteriorou ainda mais e se tornou dramática. A maior parte dos hospitais não funciona, falta oxigênio. Quanto às ambulâncias, ou não circulam ou, quando o fazem, são alvejadas".

O conflito marfinense mudou de dimensão com a entrada em cena das Nações Unidas e da França, na segunda-feira, cujos helicópteros atacaram campos militares e baterias de artilharia situadas nas cercanias da residência e palácio presidenciais.

Nesse meio tempo, a intervenção no conflito entre as forças de Gbagbo e Ouattara tornou-se alvo de críticas internacionais. A Rússia e a África do Sul – ambas membros do Conselho de Segurança da ONU – acusaram a ausência de base legal para os ataques contra as posições do presidente cessante.

"O mandato das forças de paz as obriga à neutralidade", lembrou o primeiro-ministro russo, Serguei Lavrov. Sua colega de pasta sul-africana, Maite Nkoana-Mashabane, criticou a inexistência de uma votação na ONU no sentido de um mandato de intervenção militar.

Millhares de pessoas abandonam AbidjanFoto: picture alliance/dpa

"Todas a medidas necessárias"

Por sua vez, a União Africana exigiu que se deixe a África resolver seus próprios problemas. O presidente da organização, Teodoro Obiang Nguema, é pela renúncia de Gbagbo, mas esta "não pode ser impingida através da intervenção de um exército estrangeiro", ressalvou.

Os bombardeios pelas forças internacionais seguiram-se à resolução do Conselho de Segurança da ONU autorizando "todas a medidas necessárias" para proteger a população civil da Costa do Marfim.

"Isso deve ser entendido como advertência. Na linguagem do Conselho de Segurança, a expressão 'todas a medidas necessárias' significa uma ação militar", decodificou Mark Quarterman, especialista para crises e conflitos do Center for Strategic and International Studies, em Washington, e ex-conselheiro político junto à ONU.

Os mesmos termos foram utilizados antes da recente intervenção na Líbia, assim como ao impor as zonas de exclusão aérea no Iraque, no início da década de 1990, e justificando a mobilização dos capacetes azuis para o Timor Oriental, em 1999.

AV/rtr/afp/
Revisão: Roselaine Wandscheer

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