Jornais europeus repercutem a vitória esmagadora da oposição na Venezuela e atribuem a derrota do chavismo nas eleições parlamentares à crise econômica e à repressão aos opositores do presidente Nicolás Maduro.
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Os principais órgãos de imprensa europeus destacaram a mudança no mapa político venezuelano após as eleições parlamentares deste domingo (06/12). A derrota do chavismo foi atribuída à crise econômica que o país atravessa, além da repressão aos opositores por parte do governo do presidente Nicolás Maduro.
Na Alemanha, o Frankfurter Allgemaine Zeitung (FAZ) ressaltou a vitória "esmagadora" da oposição, que conquistou 99 das 167 cadeiras no Parlamento venezuelano. A publicação destacou que a economia do país vem sofrendo com a queda no preço do petróleo, o que reduziu os rendimentos do governo, e com a alta da inflação. Ambos os fatores abalaram a popularidade do governo, diz o jornal, citando a declaração do líder oposicionista Henrique Caprilles: "a Venezuela venceu. Isso é irreversível".
O portal do jornal DieZeit destacou o "revés" para o governo de Maduro, lembrando que pela primeira vez em 16 anos a oposição conservadora conseguiu conquistar a maioria parlamentar. O diário apontou a derrota do modelo chavista, afirmado que as eleições deste domingo foram consideradas um "plebiscito sobre o controverso projeto socialista" venezuelano.
O jornal britânico The Guardian também qualificou como "esmagadora" a vitória dos oposicionistas venezuelanos, num país que, apesar de possuir "uma das maiores reservas de petróleo do mundo", sofre com a "escassez de alimentos básicos, inflação de três dígitos e uma onda de crimes violentos". O jornal afirma que o resultado deste domingo foi "um duro golpe para a esquerda latino-americana", que enfrenta a "desaceleração econômica na região e o descontentamento dos eleitores frente aos escândalos de corrupção".
"A Venezuela dá as costas ao chavismo", dizia a manchete do portal do jornal espanhol El País nesta segunda-feira. O diário afirmou que a oposição venezuelana "superou todas as adversidades possíveis" para vencer as eleições deste domingo e que o resultado teria sido um "abalo monumental à figura e à gestão do presidente Nicolás Maduro". "A crise econômica, a insegurança e a perseguição de líderes opositores foram motivos suficientes para que a sociedade desse um basta e optasse por uma mudança no mapa político do país", afirmou o jornal.
O francês Le Monde destacou o plano da oposição venezuelana para conceder anistia um de seus líderes, Leopoldo López, preso durante os protestos contra o governo em 2014. Segundo o diário, a coalizão oposicionista Mesa de la Unidad Democrática (MUD) poderá abrir inquéritos sobre a atuação das agências estatais ou ainda forçar a publicação de indicadores econômicos que têm sido mantidos em sigilo pelo governo desde o agravamento da crise.
RC/ots
Opositores neutralizados pelo governo venezuelano
Temendo derrotas em eleições legislativas, o governo do Partido Socialista Unido da Venezuela usa poder para afastar candidatos da oposição com boas chances de vitória. A DW listou alguns exemplos.
Foto: picture-alliance/dpa/Sanchez
Controle sobre adversários
Pesquisas sugerem que apenas 25% da população da Venezuela aprova o desempenho do presidente, Nicolás Maduro. Temendo derrotas em eleições legislativas, o governo do Partido Socialista Unido da Venezuela usa o poder para afastar candidatos da oposição com boas chances de vitória. Opositores têm candidatura vetada ou são proibidos de ocupar cargos públicos.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gutierrez
Candidatura anulada
Em 21 de setembro, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) anulou a candidatura parlamentar de Carlos Vecchio, líder do partido Vontade Popular. Apesar de estar exilado, Vecchio liderava a lista dos candidatos da oposição no estado de Monagas, onde competia diretamente com Diosdado Cabello, segundo na hierarquia do PSUV e atual presidente da Assembleia Nacional.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gutierrez
Afastamento público
A Mesa da Unidade Democrática (MUD), a aliança de partidos de oposição venezuelanos, comunicou em 18 de julho que Pablo Pérez foi proibido de ocupar cargos públicos por dez anos. Sua participação nas eleições legislativas em nome da MUD estava assim sendo revogada. Perez foi governador do estado de Zulia, de 2008 a 2012, e líder do partido oposicionista Um Novo Tempo.
Em 15 de junho, Enzo Scarano, ex-prefeito do município de San Diego, no estado de Carabobo, recebeu a notificação da Controladoria-Geral informando-o que ele foi proibido de ocupar cargos públicos nos próximos 12 meses. Scarano havia sido eleito em maio, nas primárias da oposição, como candidato à Assembleia Nacional no colégio eleitoral 3 de Carabobo.
Foto: Getty Images/AFP/F. Parra
Proibida de concorrer
María Corina Machado foi incluída em maio na lista de candidatos da MUD para as eleições parlamentares de dezembro. Poucos dias antes de neutralizar Enzo Scarano, o controlador-geral, Manuel Galindo, desabilitou Machado politicamente por um ano. Machado foi a deputada que obteve mais votos na Venezuela nas eleições legislativas de 2010.
Foto: Getty Images/AFP/F. Parra
Mais um afastamento
A MUD lançou Daniel Ceballos como candidato para as eleições parlamentares pelo colégio eleitoral 5 do estado de Táchira. Mas, no início de julho, o político foi proibido de ocupar cargos públicos por um ano. Ceballos foi prefeito do município de San Cristóbal, até que o Supremo Tribunal destituiu-o em 2014, em meio aos protestos antigovernamentais daquele ano.
Foto: picture alliance/Demotix
Sete anos de proibição
No início de maio, apenas alguns dias antes de a MUD celebrar as primárias, o ex-governador de Táchira César Pérez Vivas foi proibido de ocupar cargos públicos por um período de sete anos. "Eu não sou o primeiro nem serei o último a sofrer este tipo de arbitrariedade e injustiça", disse Perez Vivas, na época.
Foto: Getty Images/AFP/J. Watson
Politicamente desqualificado
O fundador do partido Um Novo Tempo, Manuel Rosales, foi prefeito de Maracaibo, governador do estado de Zulia e candidato presidencial – o principal opositor de Hugo Chávez em 2006 – antes de procurar asilo político no Peru. Em maio de 2015, ele foi nomeado pela MUD para as eleições legislativas. Um mês depois, Rosales foi politicamente desqualificado por sete anos e meio.