Crise econômica e política reduziu euforia com os Jogos Olímpicos, afirmam jornais, que destacam ainda os riscos da zika, o "sinal devastador" emitido pela queda de trecho de ciclovia e a "cloaca" da Baía de Guanabara.
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A cem dias dos Jogos Olímpicos de 2016, o megaevento esportivo no Rio de Janeiro ganhou destaque na imprensa europeia nesta quarta-feira (27/04). Um dos principais aspectos destacados foi a atual crise econômica e política enfrentada pelo Brasil, que afeta o ânimo em relação aos Jogos.
O jornal alemão Die Welt lembra o "júbilo" na América Latina quando a cidade maravilhosa foi escolhida para sediar o evento, em 2009. "Mas hoje o coração do Rio bate diferente. O êxtase transformou-se em desilusão; a euforia, em desânimo", escreve o jornalista Jens Hungermann. Ele aponta a crise econômica e política como motivo para a mudança de clima em relação aos Jogos.
"Inicialmente vistos como uma benção, os primeiros Jogos Olímpicos estão ameaçando se tornar uma maldição para a cidade-sede em estado de choque", escreve o britânico The Guardian, seguindo a mesma linha do Die Welt.
Entre os problemas que abalam a expectativa dos cariocas e dos brasileiros em relação aos Jogos estão o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, que dividiu o país, o maior escândalo de corrupção da história do Brasil e a mais acentuada queda do PIB em décadas, afirma o The Guardian.
O italiano Corriere della Sera, por sua vez, começa falando dos Jogos com otimismo, dizendo que, diferentemente da Copa do Mundo de 2014, desta vez o Brasil não está despreparado – com 98% da infraestrutura olímpica pronta, segundo dados oficiais.
"Os contornos dos Jogos, no entanto, seguem sendo um enigma", pondera o jornal. "Quem está acompanhando a confusão da política brasileira vai se perguntar quem será o chefe de Estado a declarar abertos os 31ºs Jogos da era moderna [...] Justamente por esse motivo, a contagem regressiva dos cem dias cai em certo desinteresse."
O Le Monde afirma que, a cem dias da cerimônia de abertura, em 5 de agosto, o atraso de algumas obras, como a Linha 4 do metrô, "fonte habitual de ansiedade do Comitê Olímpico Internacional, não é nem de longe o único desafio que o Rio terá que superar".
Zika, Guanabara e ciclovia
Várias das publicações apontam o atual surto de zika como algo que pode ter um efeito negativo sobre o megaevento esportivo. O Le Monde afirma que o vírus provocou "uma espécie de histeria global", levando turistas a cancelarem suas viagens e preocupando atletas. O The Guardian afirma que se trata da "pior crise de saúde na região de que se tem lembrança".
A maioria dos jornais também menciona a queda de um trecho da ciclovia Tim Maia, que deixou dois mortos na semana passada. O Die Welt, por exemplo, classifica o desastre ocorrido a tão poucos dias dos Jogos Olímpicos como um "sinal devastador". A obra deveria ser parte do legado olímpico.
Além da queda do trecho da ciclovia, o The Guardian cita o dado revelado nesta semana de que 11 operários morreram nas obras da Rio 2016 – comparados a oito na Copa do Mundo de 2014 e nenhum nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012.
A Baía de Guanabara também é citada como exemplo de fracasso dos preparativos. O jornal britânico destaca que o local, que será palco de competições de vela, "fede a excrementos". O Corriere della Sera, por sua vez, aponta a despoluição do local antes dos jogos como uma das promessas que o Rio não conseguirá cumprir.
Após chamar a baía de "cloaca", o tabloide alemão Bild traz uma montagem de um cartão postal do Rio de Janeiro com as palavras Grüße aus Rio de SCHANDiero (algo como "Saudações do Rio Vexameiro", fazendo um trocadilho com a palavra Schande, que significa vexame ou vergonha).
O jornal também destaca a queda de uma parte da ciclovia e a morte de peixes na Lagoa Rodrigo de Freitas. "Ainda mais dramática é a qualidade da água na área das competições de vela, a linda Baía de Guanabara", afirma a reportagem, intitulada "Cem dias antes dos Jogos – e ainda há mil problemas".
Dez esperanças de medalha para o Brasil
Meta do COB é conquistar no mínimo 27 medalhas nos Jogos Olímpicos de 2016. Entre multicampeões, potências mundiais e promessas, confira quais são as modalidades que podem levar o Brasil para o pódio no Rio.
Foto: Getty Images
Robert Scheidt - vela
Em busca de seu sexto pódio em Jogos Olímpicos, o maior medalhista brasileiro (junto com o também velejador Torben Grael), Robert Scheidt voltou à classe Laser, pela qual é eneacampeão mundial. Na vela, destaque também para a dupla Martine Grael e Kahena Kunze, campeãs mundiais na classe 49er FX e eleitas as melhores velejadoras do mundo em 2014, além de Ricardo Winicki, na classe RS-X.
Foto: Imago
Sarah Menezes - judô
Desde Los Angeles 1984, o judô brasileiro conquistou medalhas em todas as edições dos Jogos Olímpicos. A atual campeã olímpica Sarah Menezes é forte candidata a repetir a dose no Rio de Janeiro. Rafael Silva, o Baby, as campeãs mundiais Mayra Aguiar e Rafaela Silva, além do veterano Tiago Camilo, também estão bem colocados nos rankings de suas respectivas categorias.
Foto: Getty Images/B. Mendes
Arthur Zanetti - ginástica
Único campeão olímpico latino-americano na história da ginástica olímpica, Arthur Zanetti vem dominando as provas nas argolas, onde conquistou um ouro e uma prata nos dois últimos mundiais. Ao lado de Diego Hypólito e Sérgio Sasaki, primeiro brasileiro a ser finalista no individual geral nos Jogos Olímpicos, em Londres 2012, Zanetti quer levar o Brasil ao inédito pódio na competição por equipes.
Foto: Reuters
Fabiana Murer - atletismo
Em 2008, equipamento roubado; em 2012, a culpa foi do vento. Após duas decepcionantes participações, Fabiana Murer quer se redimir com uma medalha no Rio de Janeiro. A missão da campeã mundial do salto com vara de 2011, porém, é complicada: a cubana Yarisley Silva, melhor marca do ano, a americana Jennifer Suhr e a russa Yelena Isinbayeva, dona do recorde mundial, são as principais concorrentes.
Foto: Imago
Bruno Fratus - natação
A cena de Bruno Fratus (dir.) cumprimentando César Cielo, em Londres 2012, não irá se repetir nos Jogos do Rio. Com a ausência de Cielo, Fratus se tornou a principal esperança de medalhas. Bronze no Mundial de 2015, ele detém o segundo melhor tempo nos 50m livres em 2016. Outros bons nomes são Felipe França, Nicholas Santos, além de Thiago Pereira, maior medalhista pan-americano da história.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Walton
Duda Amorim - handebol
A seleção feminina de handebol conquistou o inédito título mundial em 2013, na Sérvia. Treinada pelo dinamarquês Morten Soubak, a equipe espera superar a campanha de Londres (6º lugar) e se recuperar do fraco Mundial de 2015, quando caiu nas oitavas de final. O time conta com Alexandra Nascimento e Duda Amorim (foto), eleitas as melhores jogadoras do mundo em 2012 e 2014, respectivamente.
Foto: Imago
Isaquias Queiroz - canoagem
Atual bicampeão mundial da prova não olímpica do C1 500m e medalhistas nos últimos dois mundiais nas provas C1 1.000m, C1 200m e C2 200m, Isaquias Queiroz quer conquistar a primeira medalha olímpica para a canoagem brasileira. Atenção também para a mineira Ana Sátila, que esteve em Londres com apenas 16 anos e foi campeã mundial júnior de slalom em 2014.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Weihrauch
Yane Marques - atletismo
Grande surpresa em Londres 2012, quando conquistou a inédita medalha de bronze no pentatlo moderno, Yane Marques manteve a sequência de bons resultados, conquistando uma prata e um bronze em dois mundiais da modalidade. Além disso, ela já conseguiu derrotar as últimas duas campeãs olímpicas: Laura Asadauskaite, da Lituânia, e Lena Schöneborn, da Alemanha.
Foto: picture-alliance/AP Photo/A. Schmidt
Ágatha e Bárbara Seixas - vôlei
Nenhuma modalidade deu tantas medalhas olímpicas ao esporte brasileiro como o vôlei: 20, sendo seis de ouro. O Brasil é potência mundial na quadra e na areia, tanto no masculino como no feminino. Destaque para as duplas femininas do vôlei de praia, que ocuparam todas as três posições do pódio na Holanda, coroando Ágatha e Bárbara Seixas como campeãs mundiais de 2015.
Foto: Getty Images/G. Arroyo Moreno
Neymar - futebol
Pentacampeão mundial, fábrica de craques e maior exportador de jogadores do mundo. Em Jogos Olímpicos, no entanto, o futebol brasileiro tem um retrospecto decepcionante: três pratas, em 1984, 1988 e 2012. Para quebrar o jejum, o craque Neymar está pedindo dispensa do Barcelona para aproveitar a segunda chance em dois anos de ser campeão no Maracanã e levar o Brasil ao ouro inédito.