Imprensa vê oportunidade perdida em discurso de Bolsonaro
23 de janeiro de 2019
Jornais da Europa e dos EUA afirmam que fala do presidente brasileiro, descrito como "Trump dos trópicos", no Fórum Econômico Mundial em Davos surpreendeu por sua curta duração e superficialidade.
Veículos citaram as semelhanças entre o brasileiro e o presidente dos EUA, Donald Trump, se referindo a Bolsonaro como "Trump dos trópicos".
O jornal alemão Die Welt afirmou que o "mini-Trump brasileiro perdeu uma oportunidade única". Bolsonaro, diz a publicação, não tirou os olhos do teleprompter, evitando "deslizes retóricos". Mas, como desvantagem de tal estratégia, o jornal aponta que "nada do que Bolsonaro possa ter em termos de charme, humor ou calor veio à tona".
O Welt avaliou que o presidente entregou uma sequência de frases vazias "em staccato", que poderiam ter sido tiradas de um guia para o fomento à economia local.
Ao citar a curta duração da fala do brasileiro, o jornalmencionou que poucos no auditório não estavam contentes quando ele encerrou o discurso, "principalmente o próprio Bolsonaro".
O pouco tempo utilizado por Bolsonaro em Davos também foi destacado pelo jornal Süddeutsche Zeitung, que qualificou o discurso de "superficial e surpreendentemente curto".
"Trinta minutos foram reservados para ele, e foi pedido aos jornalistas que chegassem com horas de antecedência para garantir um lugar [no auditório]. Nada disso teria sido necessário: Bolsonaro sequer precisou de 15 minutos, e a sala não estava cheia", afirmou a publicação.
O diário alemão também comparou o brasileiro a Trump, afirmando que são muitas as semelhanças entre ambos e que, nos bastidores do fórum, Bolsonaro é chamado de "Trump dos trópicos".
O britânico The Guardian destacou em manchete que a estreia de Bolsonaro em Davos foi "ofuscada pelo crescente escândalo em torno de seu filho", o senador eleito Flávio Bolsonaro, desencadeado por operações bancárias suspeitas envolvendo um ex-assessor.
O jornal afirma que, enquanto o presidente se preparava para subir no palco, surgiam relatos na imprensa brasileira de que seu filho estaria ligado a um "esquadrão da morte chamado de Escritório do Crime".
O escândalo envolvendo o senador eleito "contrasta com as afirmações de Bolsonaro em Davos de que vai liderar uma cruzada contra a corrupção e o crime organizado", diz o Guardian. Segundo o jornal, "observadores políticos e membros da plateia ficaram pouco impressionados com a chegada de Bolsonaro ao palco mundial".
O The New York Times abordou o discurso do presidente brasileiro com a manchete: "Bolsonaro é o rosto do populismo no Fórum de Davos". O jornal americano ressaltou que, com a ausência de Trump, o brasileiro foi o representante dos populistas no evento.
A publicação, que também menciona o apelido "Trump dos trópicos", diz que os dois líderes se assemelham pelo fato de alegarem ter chegado ao poder apesar de serem alvo de "ataques injustos" da imprensa.
Outra semelhança apontada pelo NYT é o fato de ambos utilizarem casacos de inverno em salas aquecidas. Trump fez o mesmo recentemente durante uma recepção na Casa Branca, onde serviu hambúrgueres a uma equipe de futebol americano que o visitou.
"Assim como Trump fez ao chegar a Davos no ano passado, Bolsonaro tentou suavizar a mensagem insurgente que o levou à presidência", disse o NYT.
"Com seus instintos nacionalistas, estilo de homem forte e histórico de declarações duras contra mulheres, gays e grupos indígenas, Bolsonaro é, de várias maneiras, a antítese de um 'homem de Davos'", afirmou o jornal, em referência ao termo que descreve as personalidades que comparecem ao encontro anual no resort alpino.
O francês Le Monde avaliou que Bolsonaro "fez o mínimo para vender um novo Brasil em Davos", com um discurso que "não será um marco nos anais [do fórum], como foram os de alguns de seus antecessores".
O diário afirma que o interesse pelo brasileiro foi ampliado pela ausência de figuras de maior destaque como Trump, além do presidente da França, Emmanuel Macron, e da primeira-ministra britânica, Theresa May, "todos muito ocupados em administrar crises domésticas".
Com diplomação, presidente eleito conclui primeira fase da transição e já tem o gabinete formado. Durante a campanha, ele prometeu reduzir número de ministros de 29 para 15, mas acabou com 22. Veja quem são.
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Redução modesta
Durante a campanha, Jair Bolsonaro prometeu reduzir o número de ministérios de 29 para 15. Mas, durante a transição, o presidente voltou atrás e promoveu uma redução bem menor do que a prometida. Ao todo, há 22 pastas no novo governo. Entre os ministros, há filiados do DEM, PSL e MDB, além de dez com laços militares, dois discípulos de Olavo de Carvalho e apenas duas mulheres.
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Paulo Guedes
Guru econômico e ministro anunciado ainda durante a campanha, Paulo Guedes comanda o superministério da Economia, formado pela junção das pastas da Fazenda, do Planejamento e da Indústria e Comércio Exterior. O economista é investigado pelo Ministério Público Federal (MPF), suspeito de ter cometido fraudes na captação de recursos de fundos de pensão de estatais entre 2009 e 2013.
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Onyx Lorenzoni
Deputado federal do DEM, Onyx Lorenzoni articulou a campanha de Bolsonaro desde 2017 e foi indicado para assumir a Casa Civil. Em sua carreira política, já foi deputado estadual no Rio Grande do Sul e, desde 2003, tem mandatos na Câmara. Após ser citado na delação da JBS, ele admitiu ter recebido caixa dois de campanha, e está sendo investigado pela Procuradoria-Geral da República.
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Sérgio Moro
Juiz federal que foi responsável pela Lava Jato em primeira instância, Sérgio Moro comandará o Ministério da Justiça. Seu decisão de entrar para a política causou polêmica. Foi ele quem condenou Lula pela primeira vez em 2017, o que marcou o início dos problemas do ex-presidente em registrar sua nova candidatura ao Planalto em 2018. Fato que ajudou Bolsonaro a assumir a liderança nas pesquisas.
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Marcos Pontes
Astronauta que chegou a ser cotado para vice da chapa do PSL, Marcos Pontes chefiará o Ministério da Ciência Tecnologia. Formado em engenharia aeronáutica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica, Pontes se tornou o primeiro astronauta brasileiro da história e foi enviado ao espaço pela Missão Centenário, em 2006, durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele é filiado ao PSL.
A deputada federal Tereza Cristina (DEM) comandará o Ministério da Agricultura. Engenharia agrônoma e empresária, Tereza Cristina foi presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária e indicada pela bancada ruralista para o cargo. Ela defende a aprovação do projeto lei que flexibiliza as regras para a fiscalização e aplicação de agrotóxicos no país.
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Ernesto Araújo
Diplomata de carreira, Ernesto Araújo assumirá o Ministério das Relações Exteriores. Discípulo de Olavo de Carvalho, ele atuou no Itamaraty em várias áreas, porém, nunca chefiou uma embaixada. Araújo mantinha um blog no qual fez campanha para Bolsonaro, chamou o PT de "Partido Terrorista" e disse querer libertar o mundo da "ideologia globalista". Admira Donald Trump e nega o aquecimento global.
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Luiz Henrique Mandetta
Deputado federal do DEM (MS), Luiz Henrique Mandetta ficou com o comando do Ministério da Saúde. Médico ortopedista e ligado a Lorenzoni, ele era crítico do Programa Mais Médicos. Entre 2005 e 2010, Mandetta foi secretário municipal de saúde de Campo Grande. A passagem pelo cargo lhe rendeu um inquérito por suspeita de fraude em licitação, tráfico de influência e caixa dois.
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Fernando Azevedo e Silva
O general da reserva Fernando Azevedo e Silva foi escolhido para o Ministério da Defesa. Natural do Rio, ele deixou o Alto Comando do Exército em 2018 e passou a assessorar o presidente do STF, Dias Toffoli. Azevedo e Silva foi chefe do Estado-Maior do Exército e comandante da Brigada Paraquedista, onde serviu ao lado de Bolsonaro. Chefiou ainda operações na Missão de Paz da ONU no Haiti.
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Ricardo Vélez Rodríguez
Escolha do colombiano antipetista Ricardo Vélez Rodríguez para assumir o Ministério da Educação foi indicação de Olavo de Carvalho. Nascido em Bogotá e naturalizado brasileiro, Vélez Rodríguez é formado em filosofia e mostrou apoiar várias das bandeiras defendidas por Bolsonaro, como a expansão de escolas militares no país e o combate a uma suposta predominância de ideias esquerdistas no ensino.
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Tarcísio Gomes de Freitas
O ex-diretor do Dnit Tarcísio Gomes de Freitas chefiará o novo Ministério da Infraestrutura, que deve englobar a atual pasta de Transportes, Portos e Aviação Civil. No governo Temer, Freitas foi secretário de Coordenação de Projetos do Programa de Parceria em Investimentos e consultor legislativo da Câmara dos Deputados. O engenheiro civil iniciou a carreira no Exército e atuou no Haiti.
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Gustavo Canuto
Servidor efetivo do Ministério do Planejamento, Gustavo Henrique Rigodanzo Canuto comandará o novo Ministério do Desenvolvimento Regional. Servidor sem filiação partidária, Canuto é formado em engenharia da computação e direito e já atuou na Secretaria Geral da Presidência da República, na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e na Secretaria de Aviação Civil.
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Osmar Terra
Ex-ministro do governo Temer, Osmar Terra assumiu o novo Ministério da Cidadania e Ação Social. Médico, Terra é deputado federal pelo MDB desde 2001. Já foi prefeito de Santa Rosa (RS) e secretário de Saúde do RS. Terra poderá ser um dos ministros que trará dor de cabeça a Bolsonaro. O deputado apareceu na superplanilha da Odebrecht, que indicaria propinas pagas a políticos.
Foto: Viola Jr/Camara dos Deputados
Marcelo Álvaro Antônio
Deputado do PSL Marcelo Álvaro Antônio assumirá o Ministério do Turismo. Integrante da frente parlamentar evangélica, ele foi o candidato mais votado em Minas Gerais, reeleito para o segundo mandato neste ano. Antes de ser deputado, Antônio foi vereador de Belo Horizonte. Antônio é o segundo filiado do PSL escolhido por Bolsonaro para integrar seu governo.
Foto: Agência Brasil/Valter Campanato
Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Júnior
O almirante Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Júnior chefiará o Ministério de Minas e Energia. Ele atuou como diretor-geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha, foi observador do Brasil na Força de Paz das Nações Unidas em Sarajevo, na Bósnia-Herzegovina, e comandante de submarinos.
Foto: Getty Images/AFP/H. Retamal
Damares Alves
Pastora evangélica e assessora do senador Magno Malta (PR), Damares Alves foi escolhida para chefiar o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. A advogada trabalha há mais de 20 anos no Congresso. Ela já declarou que a mulher nasceu para ser mãe, se posicionou contra o feminismo e políticas voltadas a diminuir a discriminação de homossexuais. É contra a legalização do aborto e das drogas.
Foto: Agência Brasil/V. Campanato
Ricardo de Aquino Salles
Advogado e criador do Endireita Brasil, Ricardo de Aquino Salles será o ministro do Meio Ambiente. Salles foi secretário estadual do Meio Ambiente no governo de Geraldo Alckmin. É réu por improbidade administrativa, acusado de esconder alterações em mapas do zoneamento ambiental do rio Tietê, numa ação que teria favorecido mineradoras. Foi ainda diretor da Sociedade Rural Brasileira.
Foto: Imago/Fotoarena
Ministérios dentro do Planalto
Além da Casa Civil, outros três ministérios funcionam dentro do Planalto. Ex-presidente do PSL e aliado próximo de Bolsonaro, Gustavo Bebianno será o chefe da Secretaria-Geral. O general reformado que comandou a Missão ONU para a Estabilização no Haiti Augusto Heleno ficou com o Gabinete de Segurança Institucional. Já o general Carlos Alberto dos Santos Cruz ficará com a Secretaria de Governo.
Foto: Getty Images/AFP/M. Pimentel
AGU e CGU
A Advocacia-Geral da União (AGU) ficará sob o comando do advogado André Luiz de Almeida Mendonça, que, ao longo da carreira, atuou em áreas de transparência e combate à corrupção. O Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União (CGU) continuará a ser chefiado por Wagner Rosário (foto). O servidor de carreira ocupa o cargo desde junho de 2017, indicado pelo ex-presidente Michel Temer.
Foto: Agência Brasil/Marcelo Camargo
Roberto Campos Neto
O chefia do Banco Central ficou com o economista Roberto Campos Neto, neto do ex-ministro do Planejamento Roberto Campos, que comandou a pasta entre 1964 e 1967, durante a ditadura militar. Próximo de Paulo Guedes, já atuou no banco Santader, no banco Bonzano Simonsen e na gestora de fundos Claritas.