Imprensa terá circulação restrita na posse de Bolsonaro
31 de dezembro de 2018
Ao contrário de posses anteriores, jornalistas não poderão transitar livremente pela Esplanada. Sindicato da categoria afirma que restrições limitam "a livre atuação da imprensa".
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Os jornalistas brasileiros e estrangeiros, credenciados para a posse de Jair Bolsonaro, na terça-feira (01/01) terão circulação restrita, de acordo com normas divulgadas nesta segunda-feira.
Profissionais de imprensa autorizados a fazer a cobertura do evento não poderão circular na Esplanada dos Ministérios nem falar com o público que acompanhará o desfile de Bolsonaro, que sairá da Granja do Torto e passará pela Catedral de Brasília, Congresso Nacional, Palácio do Planalto e o Itamaraty.
Ao contrário do que aconteceu em cerimônias anteriores, nesta posse, o credenciamento dos meios de comunicação foi feita por setores, e jornalistas, fotógrafos e equipes de filmagem só vão poder ter acesso a um único local de cobertura.
Assim, profissionais autorizados a acompanhar o discurso solene de Bolsonaro no Congresso Nacional não poderão entrar no Palácio do Planalto, onde acontecerá a passagem da faixa presidencial, mesmo se possuírem credencial para trabalhar em ambos os lugares.
Nas posses anteriores, a circulação da imprensa era livre. Segundo a equipe de transição, as medidas são necessárias para reforçar a segurança no local. Em setembro, Bolsonaro foi vítima de uma facada durante um ato de campanha em Juiz de Fora (MG).
As restrições também se estendem às formas de acesso às diferentes etapas da posse, já que todos os profissionais da comunicação social terão de utilizar um transporte destacado pelos organizadores, que sairá da sede do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), pela manhã.
Os profissionais só poderão sair da área onde realizaram a cobertura utilizando estes veículos especiais, disponíveis apenas em horários fixos, ainda indeterminados. Todos os profissionais também serão revistados.
Em comunicado, a Secretaria de Comunicação da Presidência do Brasil informou que será permitido à imprensa levar comida, mas os jornalistas não poderão transportar água, já que as garrafas foram proibidas. O comunicado, no entanto, assegura que haverá água potável disponível nas áreas de imprensa.
Além disso, apesar de a sequência de eventos da posse começar às 14h45, a organização exigiu que os profissionais de imprensa cheguem até 7h30 no CCBB. A última cerimônia do dia, no Itamaraty, está prevista para terminar às 21h. Dessa forma, os profissionais credenciados para cobrir esse evento vão ter uma jornada de trabalho superior a 14 horas se cumprirem os horários determinados pela equipe da posse.
Diante das dificuldades impostas à cobertura jornalística da posse, o Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal (SJPDF) divulgou uma nota criticando a organização da cerimónia. Até momento, nenhum grande veículo da imprensa brasileira ou sindicato patronal se pronunciou sobre as restrições.
O SJPDF alegou que a poucos "dias da posse presidencial, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal foi surpreendido por reclamações de colegas sobre a cobertura do evento. De acordo com informações da assessoria de imprensa da equipe de transição de governo, as restrições ao público também serão aplicadas aos profissionais de imprensa escalados para trabalhar".
O sindicato frisou que não é novidade que a cerimónia de posse ocorra, em diferentes momentos, em diferentes pontos da Esplanada dos Ministérios e na Praça dos Três Poderes, mas, "pela primeira vez, os jornalistas credenciados não poderão transitar entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional, num ato claro que limita a livre atuação da imprensa".
Na conclusão do comunicado, o SJPDF fez um apelo ao bom senso e pediu que a equipe envolvida na organização valorize o momento da posse "como a consagração da democracia, em que o povo escolheu, por meio do voto, o governante que ficará no poder até 2022".
"E, como toda democracia, precisa garantir o direito ao livre exercício da imprensa e a segurança dos jornalistas e radialistas envolvidos na cobertura", concluiu o Sindicato.
Treze candidatos se apresentaram para disputar o Planalto. O líder das pesquisas acabou fora da corrida, e vários nomes tentam contornar isolamento partidário. Veja os principais episódios da disputa.
Foto: Reuters/A. Machado
Bolsonaro é eleito presidente
Em segundo turno, os brasileiros elegeram Jair Bolsonaro (PSL) como presidente. Após uma campanha eleitoral polarizada, o militar reformado de extrema direita recebeu 55,13% dos votos, contra 44,87% de Fernando Haddad (PT). Com bandeiras do Brasil e vestidos nas cores verde e amarelo, eleitores comemoram pelo país. No discurso da vitória, Bolsonaro prometeu um governo constitucional e democrático.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S.Izquierdo
TSE abre investigação contra Bolsonaro
A pouco mais de uma semana do segundo turno, o Tribunal Superior Eleitoral abriu uma ação para investigar suspeitas de compra de disparos de mensagens antipetistas no WhatsApp por parte de empresários aliados a Bolsonaro. O pedido de investigação foi feito pelo PT, após uma reportagem do jornal "Folha de S. Paulo". A PF também abriu inquérito para investigar a disseminação em massa de "fake news".
Foto: Reuters/R. Moraes
Bolsonaro e Haddad vão ao segundo turno
Numa das eleições mais polarizadas da história, em 7 de outubro os brasileiros levaram ao segundo turno os dois candidatos que, segundo sondagens, são também os mais rejeitados: Bolsonaro (PSL) e Haddad (PT). Favorito no Sul e Sudeste, o ex-militar teve 46% dos votos válidos contra 29% do petista, que foi o mais votado em oito estados do Nordeste e no Pará. Em terceiro, Ciro Gomes (PDT) teve 12%.
Foto: Reuters/P. Whitaker/N. Doce
Bolsonaro cresce nas pesquisas
Já líder nas pesquisas, o candidato do PSL ampliou sua vantagem no início de outubro, ultrapassando pela primeira vez a marca de 30% em sondagens do Ibope e do Datafolha. Ao longo da semana que antecedeu as eleições, o ex-capitão foi subindo e, na véspera do pleito, cruzou a barreira de 40% dos votos válidos. Após ser esfaqueado, a campanha do candidato se concentrou nas redes sociais.
Foto: Reuters/P. Whitaker
A troca de Lula por Haddad
Após meses de suspense e com aval de Lula, Fernando Haddad foi oficializado candidato à Presidência pelo PT em 11 de setembro, a menos de um mês do primeiro turno, após se esgotarem as chances de o ex-presidente concorrer. Preso e virtualmente inelegível pela Ficha Limpa, Lula era líder nas pesquisas de intenção de voto. O desafio agora será transferir votos para o ex-prefeito.
Foto: Agencia Brasil/R. Rosa
Ataque a Bolsonaro
O candidato do PSL foi esfaqueado durante um ato de campanha em Juiz de Fora, um ataque que prometia mudar os rumos da corrida presidencial. Seus adversários condenaram a agressão, e alguns chegaram a mudar o tom da campanha. Não houve, contudo, um impacto decisivo sobre o eleitorado. Ele segue líder das intenções, mas com percentual praticamente igual. A rejeição a ele, por outro lado, aumentou.
Foto: picture-alliance/dpa/Agencia O Globo/A. Scorza
O "plano B" do PT
Com Lula virtualmente inelegível, a escolha do seu vice passou a ser encarada como um trampolim para um candidato substituto. No início de agosto, o PT acabou indicando Fernando Haddad, que desde o início do ano era cotado como "plano B". Manuela D'Ávila (PCdoB) ficou com a curiosa posição não oficial de "vice do vice", assumindo a posição com Lula candidato ou não.
Foto: Agência Brasil/F.Rodrigues Pozzebom
A novela dos vices
A fase de convenções começou no fim de julho sem que a maioria dos pré-candidatos tivesse um vice. Bolsonaro teve três convites recusados até fechar com o general Mourão (PRTB). Henrique Meirelles (MDB) e Ciro Gomes (PDT) se contentaram com nomes do próprio partido. Alckmin teve convite recusado pelo empresário Josué Alencar, cuja família é ligada a Lula, antes de optar por Ana Amélia (PR).
Foto: Agência Brasil/F.Frazão
Os candidatos isolados
A jogada de Alckmin com o "centrão" acabou isolando outros candidatos. Jair Bolsonaro (PSL) tentou negociar com o PR, mas teve que se contentar com o nanico PRTB. Ciro Gomes (PDT) também viu suas investidas no grupo naufragarem. Marina Silva (Rede) e Ciro também não conseguiram apoio do PSB, que ficou neutro numa manobra do PT. Os três terminaram a fase de convenções com pouco apoio e tempo de TV.
Alckmin fecha com o "centrão"
Em julho, o tucano Geraldo Alckmin ainda patinava nas pesquisas, mas criou um fato novo na campanha ao conseguir o apoio do "centrão", as siglas que costumam emprestar seu apoio a governos em troca de cargos e verbas. Ao se aliar com PR, PP, PSD, DEM e SD, Alckmin passou a dominar 44% da propaganda eleitoral na TV. Sua coligação também recebe 48% do novo fundo de campanhas.
Foto: Getty Images/AFP/E. Sa
Candidaturas descartadas
A eleição de 2018 parecia destinada a superar o número de candidatos de 1989, quando 22 disputaram. Em abril, 23 manifestavam interesse em concorrer, entre eles o presidente Michel Temer, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o ex-presidente Fernando Collor. Mas eles logo desistiram ou foram abandonados por seus partidos. Outros aceitaram ser vices. Em agosto, só 13 permaneciam na corrida.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Os "outsiders" saem de cena
A possibilidade de Lula ficar de fora e o sentimento antipolítico entre a população sinalizavam que esta seria a eleição dos "outsiders". O ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa e o apresentador Luciano Huck chegaram a ser incluídos em pesquisas. O empresário Flávio Rocha anunciou candidatura. Em julho, todos já haviam desistido, e a disputa ficou restrita a velhos nomes da política.
Foto: Imago/ZUMA Press/M. Chello
Lula é condenado e preso
Quando anunciou, em 2016, a intenção de disputar a eleição, Lula se tornou o líder nas pesquisas. Em janeiro, porém, sua situação se complicou após uma condenação em segunda instância que o deixou virtualmente inelegível. Em abril, foi preso. Com a possibilidade de a candidatura ser barrada, o PT passou a ter dificuldades em formar alianças, e o desfecho do pleito ficou ainda mais imprevisível.
Foto: Reuters/L. Benassatto
Entra em cena o fundo de campanhas
Diante da proibição das doações por empresas, o Congresso criou em outubro de 2017 um novo fundo de R$ 1,7 bilhão para financiar candidaturas, já definindo a capacidade financeira de várias campanhas. Quase 60% do valor ficou concentrado em seis legendas: MDB, PT, PSDB, PP, PSB e PR, deixando candidatos à Presidência de pequenas e médias siglas com menos recursos na largada.