"Imprevisibilidade" de Trump preocupa presidente alemão
6 de novembro de 2016
Joachim Gauck diz ver com preocupação possível vitória do candidato republicano na eleição presidencial americana. Membro do Bundestag afirma que tal cenário abalaria relações entre EUA e Alemanha.
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Em entrevista ao portal Spiegel Online, o presidente alemão, Joachim Gauck, afirmou neste domingo (06/11) ver com preocupação uma possível vitória de Donald Trump na eleição presidencial nos EUA na próxima terça-feira.
A "imprevisibilidade" do republicano lhe preocupa, declarou Gauck. "Não podemos dizer o que se deveria esperar de um presidente Trump", afirmou o chefe de Estado alemão. "Considero isso um problema, assim como muitas pessoas nos EUA e aqui [na Alemanha]."
O presidente alemão afirmou, no entanto, esperar que "a democracia americana, que não faz do presidente um autocrata" continue a funcionar no futuro. "Mas primeiro vamos esperar a decisão dos americanos", disse Gauck. Pesquisas de opinião recentes indicam uma disputa acirrada entre Trump, e a rival democrata, Hillary Clinton.
Mais alertas
Também a bispa luterana Margot Kässmann, ex-presidente da Igreja Evangélica da Alemanha (EKD, na sigla em alemão), alertou neste domingo sobre Trump. Ao jornal Bild am Sonntag, ela apelou aos cidadãos americanos para que não deem o seu voto ao republicano.
"Não pode ser que um homem que se gaba de tatear uma mulher entre as pernas se torne presidente dos EUA", escreveu a teóloga. "Um homem que diz que armas nucleares estão aí para serem usadas."
Norbert Röttgen, presidente da comissão parlamentar de Assuntos Externos no Bundestag ( Parlamento alemão), também disse ver tensão nas relações com os Estados Unidos. "Para a relação entre a Alemanha e os EUA, uma vitória de Trump seria uma carga histórico", declarou Röttgen ao Bild am Sonntag.
CA/afp/dpa/epd/dw
O presidente alemão se despede do cargo
Neste 18 de março de 2017, Joachim Gauck encerra o mandato como 11º presidente da República Federal da Alemanha. Em retrospecto, ele pode olhar para mais de quatro anos de grande agitação política.
Foto: picture alliance/dpa/M. Kappeler
"Arquivos de Gauck"
Por dez anos, o presidente alemão Joachim Gauck administrou os arquivos do serviço de inteligência (Stasi) da República Democrática Alemã (RDA). Como ativista dos direitos civis, ele foi eleito em 1990 para o Parlamento da ex-Alemanha Oriental, que propôs seu nome para o cargo em decisão apoiada pelo governo alemão ocidental. Até hoje, o órgão leva o nome não oficial "Arquivos de Gauck".
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Candidato do povo
Depois de haver deixado "sua" instituição em 2000, Gauck atuou como autor e ativista político. Após o pedido-surpresa de demissão do ex-presidente Horst Köhler, em 2010, o Partido Social Democrata (SPD) e os verdes cogitaram seu nome para o cargo. A mídia o aclamava como candidato do povo. No entanto Christian Wulff, da União Democrata Cristã (CDU), foi eleito em terceira votação.
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Presidente Gauck
Depois de quase dois anos, Wulff foi forçado a renunciar. Também desta vez partidos de oposição defendiam a candidatura de Gauck, agora com apoio de Berlim. Em pesquisa realizada antes da Assembleia Federal responsável pela escolha do presidente, 69% dos entrevistados apoiaram o nome de Gauck. O resultado em 18 de março foi ainda mais decidido: ele obteve 991 de 1.228 votos, em primeira votação.
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"Primeira-companheira"
Segundo a Constituição alemã, o presidente do país não está sujeito aos Três Poderes. Mesmo assim, Gauck é o primeiro chefe de Estado sem partido. E também o primeiro a não ser acompanhado pela esposa em ocasiões cerimoniais, mas por sua companheira Daniela Schadt, com quem vive desde 2000. Da ex-esposa Gerhild Gauck, com quem teve quatro filhos, ele está separado há 25 anos.
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Liberdade pensada e vivida
Tema central de Gauck é a liberdade, a que gosta de se referir como "potencialização" do indivíduo. Críticos o acusam de, assim, defender o egoísmo com uma retórica anticomunista ingênua. Outros veem em seu discurso um apelo à responsabilidade: liberdade não significaria automaticamente felicidade ou satisfação, mas uma responsabilidade própria existencial, para além do poder do Estado.
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Representante com franqueza
Como representante oficial da Alemanha no exterior, Gauck viajou por muitos países e se encontrou com diversos dirigentes. Mas nem sempre permaneceu diplomático: no início de 2014, na Turquia, acusou o governo do então premiê Recep Tayyip Erdogan de censura, ingerência no sistema judicial e estilo autoritário de governança. Erdogan protestou, mas ele se manteve calmo: "Cumpri o meu dever."
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Orador habilidoso
Em março de 2016 Gauck falou a estudantes da Universidade Tongji, em Xangai, da desconfiança que surge entre o Estado e seus cidadãos quando um governo não é legitimado por eleições livres. Oficialmente, a liderança chinesa não se irritou: Gauck se referira à ex-Alemanha Oriental. Ainda assim os paralelos implícitos foram compreendidos, graças a uma tradução que circulou na internet chinesa.
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Visão e perspicácia
Dois meses após sua visita à Turquia em 2014, quando também foi a um campo de refugiados na fronteira com a Síria, Gauck apontou o número crescente de migrantes, alertando sobre a necessidade de ação: processo de asilo mais rápido, cooperação com parceiros europeus, mais pragmatismo nos limites do politicamente viável. Isso aconteceu 14 meses antes de Angela Merkel proferir: "Nós vamos conseguir."
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Recusa a segundo mandato
Em 2016 Joachim Gauck decidiu não se candidatar novamente, após entregar seu cargo. Apoio não teria lhe faltado: ambos os partidos do governo haviam sinalizado sua preferência. Gauck justificou-se com o temor de não poder terminar o segundo mandato, quando estaria com 82 anos. Seu sucessor será Frank-Walter Steinmeier, que assume no dia 19 de março de 2017.