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Imunidade de longo prazo é incógnita na vacina de Oxford

Farah Aqel as
23 de julho de 2020

Pesquisa mais avançada sobre uma vacina contra o novo coronavírus, em teste também no Brasil, ainda não conseguiu responder à questão da imunização duradoura, decisiva para a eficácia do medicamento.

Cientistas trabalham em laboratório ligado à Universidade de Oxford
Segundo a OMS, a vacina de Oxford é a que está com o desenvolvimento mais avançadoFoto: picture-alliance/AP Photo/J. Cairns

O avanço nos testes da Universidade de Oxford para uma vacina contra o coronavírus Sars-Cov-2, causador da covid-19, criou a expectativa de que ela possa estar pronta até o fim de 2020. O governo britânico já encomendou de antemão 100 milhões de doses.

De fato, os resultados das fases iniciais de testes em humanos, publicados pelos cientistas na revista especializada The Lancet, são promissores. A vacina gerou uma resposta do sistema imunológico, produzindo anticorpos para combater o coronavírus, com poucos efeitos colaterais. Esses anticorpos foram detectados ao longo de 56 dias, quando os testes preliminares foram encerrados.

Não está claro, portanto, se os anticorpos produzidos pela vacina duram mais de 56 dias ou se a vacina garante uma imunização duradoura. "Ainda não há dados sobre isso", resume o professor de imunologia Carsten Watzl, do Instituto Leibniz de Dortmund.

Estudos recentes na China e na Alemanha indicaram que o número de anticorpos gerados por uma infecção pelo novo coronavírus cai de dois a três meses depois de o paciente se recuperar.

Para ser eficaz, uma vacina teria que garantir a imunidade por muito mais tempo do que isso, já que seria muito caro e logisticamente complicado vacinar uma população várias vezes ao ano.

A vacina que está sendo desenvolvida pela Universidade de Oxford usa a chamada tecnologia vetor-adenovírus, que, como o nome sugere, usa um adenovírus como vetor para levar o coronavírus modificado para dentro de uma célula humana.

Esse adenovírus é geneticamente modificado para impedir sua replicação e, assim, que ele infecte uma célula humana. Adenovírus costumam causar resfriados.

No lugar dos genes removidos é inserida uma sequência de DNA com o código da proteína spike (também chamada proteína S) do coronavírus Sars-Cov-2. Essa sequência faz o corpo humano entender, equivocadamente, que está infectado, o que gera a resposta imunológica.

Imagem de um coronavírus com as proteínas spike, ou S, em vermelhoFoto: picture-alliance/Newscom/CDC

A proteína spike é a responsável por o coronavírus conseguir penetrar nas células hospedeiras do corpo humano e as infectar. Após interagirem com uma potencial célula hospedeira, as proteínas spike reconhecem os receptores dessas células, unindo-se a eles e fundindo o coronavírus à membrana da célula hospedeira. Nas imagens de microscópio do coronavírus, a proteína spike aparece em vermelho, elevando-se da membrana do vírus.

O principal motivo para usar a tecnologia do adenovírus é ganhar tempo. Todo o processo de produzir vírus para depois modificá-los para serem usados como vetores leva muito tempo.

Os cientistas de Oxford já tinham vetores adenovírus em estoque. Eles trabalham há anos com essa tecnologia para produzir vacinas. O que tiveram de fazer foi adaptá-la para o Sars-Cov-2 e adicionar a sua proteína spike para gerar a resposta imunológica desejada.

"Tudo isso tem um porém: essa abordagem nunca foi usada numa vacina licenciada", observa Watzl. "Eles avançaram de forma muito rápida e estão agora na fase 3 de testes [fase final de testes clínicos, que é feita também no Brasil], mas o processo de licenciar uma vacina como essa poderá ser um pouco mais lento."

Anticorpos são proteínas produzidas em resposta a uma infecção ou em resposta a uma vacina que pretende proteger de uma infecção. Eles são produzidos pelas células B, um tipo de célula do sistema imunológico.

As células B formam as chamadas células de memória B durante o primeiro encontro com um antígeno específico, ou seja, na primeira infecção. Estas células, como o nome já indica, têm vida longa e são capazes de reconhecer o mesmo antígeno numa próxima infecção.

Há ainda uma outra linha de defesa do corpo chamada imunidade celular. Essa envolve as células T. Essas células atacam e destroem as células infectadas. Essa é uma abordagem de última opção, pois, depois que uma célula foi completamente infectada por um vírus, há poucas chances de recuperá-la. O corpo opta, então, por se livrar dela.

Uma vacina eficiente deve induzir uma resposta tanto das células B como das células T. Ambas são importantes, e cada uma tem a sua função.

Estudos recentes mostram que pacientes de covid-19 perdem anticorpos (e com eles também imunidade de longo prazo) de dois a três meses depois da recuperação. Essa situação é parecida à verificada em outros coronavírus, e "pode ser que uma coisa similar esteja acontecendo com o novo coronavírus", diz Watzl.

Outras infecções geram uma imunidade de células B de longo prazo. Mas o fato é que, depois que um vírus infecta uma célula, os anticorpos não podem mais fazer nada. Assim, as células T devem entrar em ação para matar as células infectadas.

"Mas não sabemos quanto tempo essas células T duram no corpo, e a imunidade de células T também depende das células de memória", diz Watzl. Ele diz ter esperanças em relação à vacina de Oxford, mas ressalva que muitas questões ainda estão em aberto.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a vacina da Universidade de Oxford é a que está com o desenvolvimento mais avançado.

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