Delta torna imunidade coletiva impossível, diz especialista
11 de agosto de 2021
Desenvolvedor da vacina da AstraZeneca alerta que imunidade coletiva do coronavírus é um "mito", já que imunizados continuam transmitindo a variante delta. "Quem não se vacinou em algum momento será infectado."
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O especialista Andrew Pollard, diretor do Centro de Vacinas da Universidade de Oxford, alertou diante de parlamentares britânicos que não vai ser possível se alcançar a chamada imunidade de rebanho para o coronavírus, devido à disseminação da variante delta.
Professor da universidade britânica, Pollard desenvolveu, junto com a imunologista Sarah Gilbert, a vacina contra a covid-19 da farmacêutica AstraZeneca.
Nesta terça-feira (10/08), ele afirmou a um comitê parlamentar em Londres que os programas de vacinação não devem se basear na ideia de se alcançar essa "imunidade coletiva".
"Sabemos claramente que, com a atual variante do coronavírus, a delta, [o vírus] continuará a infectar as pessoas que foram vacinadas, e isso significa que qualquer pessoa que ainda não foi vacinada em algum momento se encontrará com o vírus", disse o cientista.
Ele afirmou ainda que no futuro "pode surgir uma variante que até seja mais transmissível entre as populações vacinadas" e que, portanto, "isso fornece ainda mais razões para não se projetar os programas de vacinação em torno da imunidade coletiva".
Embora as vacinas existentes sejam muito eficazes na prevenção de quadros graves e morte em decorrência da covid-19, elas não impedem que uma pessoa totalmente vacinada seja infectada pelo coronavírus.
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"Mito"
O conceito de imunidade de rebanho é baseado na obtenção de imunidade por uma grande maioria da população – seja por vacinação ou infecção – o que, por sua vez, fornece proteção indireta contra uma doença infecciosa para os não vacinados e aqueles que nunca foram infectados anteriormente.
Mas se as pessoas vacinadas podem, ainda assim, ser infectadas e transmitir o vírus, isso significa que não vão poder servir de escudo às pessoas não vacinadas,que acabarão sendo infectadas. Segundo Pollard, isso torna um "mito" a ideia de imunidade de rebanho para o coronavírus.
Pollard acredita que dentro de seis meses haverá no Reino Unido uma "fase de consolidação" na luta contra o vírus e que a covid-19 passará de uma "epidemia" a um mal "endêmico".
O sistema nacional de saúde britânico NHS publicou na semana passada um relatório em que alerta que há indícios de que "os níveis do vírus nas pessoas vacinadas que estão infectadas com a delta podem ser semelhantes aos detectados em pessoas não vacinadas", o que afeta a facilidade de transmissão do patógeno.
Entre cerca de 1.500 pacientes hospitalizados com a variante delta no Reino Unido desde 19 de julho, 55,1% não eram vacinados, enquanto 34,9% receberam a imunização completa, segundo o relatório.
md/ek (Efe, ots)
As variantes do novo coronavírus
Para evitar a estigmatização e a discriminação dos países onde as variantes do Sars-Cov-2 foram detectadas pela primeira vez, a OMS padronizou seus nomes conforme letras do alfabeto grego.
Foto: Sascha Steinach/ZB/picture alliance
Várias denominações para uma cepa
A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu que as novas variantes do coronavírus passam a ser chamadas por letras do alfabeto grego e não devem mais ser identificadas pelo local onde foram detectadas pela primeira vez. Cientistas criticavam ainda que estavam sendo usados vários nomes para a cepa descoberta na África do Sul, como B.1.351, 501Y.V2 e 20H/501Y.V2.
Foto: Christian Ohde/CHROMORANGE/picture alliance
Nomes científicos continuam válidos
A OMS pediu que os países e a imprensa passem a adotar a nova nomenclatura das variantes e evitem associar novas cepas aos locais de origem. A organização acrescentou, porém, que as novas denominações não substituem os nomes científicos, que devem continuar sendo usados em trabalhos acadêmicos.
Foto: Reuters/D. Balibouse
Variante alfa
A variante B.1.1.7 foi detectada em setembro de 2020 no Reino Unido e se espalhou pelo mundo. Segundo um estudo publicado em março na "Nature", há evidências de que a variante alfa seja 61% mais mortal do que o vírus original. Entre homens com mais de 85 anos, o risco de morte aumenta de 17% para 25%. Para mulheres da mesma faixa etária, de 13% para 19%, nos 28 dias posteriores à infecção.
Foto: Christian Ohde/imago images
Variante beta
Pesquisadores identificaram a variante B.1.351 em dezembro de 2020 na África do Sul. A cepa atinge pacientes mais jovens e é associada a casos mais graves da doença. Os cientistas sequenciaram centenas de amostras de todo o país desde o início da pandemia e observaram uma mudança no panorama epidemiológico, "principalmente com pacientes mais jovens, que desenvolvem formas graves da doença".
Foto: Christian Ohde/imago images
Variante gama
A variante P.1 foi detectada pela primeira vez em 10 de janeiro de 2021 pelo Japão em passageiros vindos de Manaus. Originária do Amazonas, ela se espalhou pelo Brasil e outros países vizinhos. A cepa possui 17 mutações, três das quais estão na proteína spike. São provavelmente essas últimas que fazem com que o vírus possa penetrar mais facilmente nas células para então se multiplicar.
Foto: Christian Ohde/imago images
Variante delta
A variante B.1.617, detectada em outubro de 2020 na Índia, causa sintomas diferentes dos provocados por outras cepas, é significativamente mais contagiosa e aparentemente aumenta o risco de hospitalização, segundo sugeriram estudos. "O vírus se adapta de forma inteligente. Muitos doentes recebem resultados negativos nos testes, mas desenvolvem sintomas graves", explicou um médico de Nova Déli.
Foto: Christian Ohde/imago images
Variante ômicron
A nova variante B.1.1.529, batizada de ômicron pela Organização Mundial da Saúde, foi descoberta em 11 de novembro de 2021 em Botsuana, que faz fronteira com a África do Sul, onde a cepa também foi encontrada. A ômicron contém 32 mutações na chamada proteína "spike" (S), número considerado extremamente alto. Cientistas avaliam que essa variante se dissemina mais rapidamente do que as anteriores.
Foto: Andre M. Chang/Zuma/picture alliance
A busca pela padronização
O novo padrão foi escolhido após "uma ampla consulta e revisão de muitos sistemas de nomenclatura", afirma a OMS. O processo durou meses e entre as sugestões de padronização estavam nomes de deuses gregos, de religiões, de plantas ou simplesmente VOC1, VOC2, e assim por diante.
Foto: Ohde/Bildagentur-online/picture alliance
Nomes e apelidos polêmicos
Desde o início da pandemia, os nomes utilizados para descrever o Sars-Cov-2 têm provocado polêmica. O ex-presidente americano Donald Trump costumava chamar o novo coronavírus de "vírus da China", como forma de tentar culpar o país asiático pela pandemia. O vírus foi detectado pela primeira vez na cidade chinesa de Wuhan.
Foto: picture-alliance/AA/A. Hosbas
Novas cepas podem ser mais perigosas
Mutações em vírus são comuns, mas a maioria delas não afeta a capacidade de transmissão ou de causar manifestações graves de doenças. No entanto, algumas mutações, como as presentes nas variantes do coronavírus originárias do Reino Unido, da África do Sul e do Brasil, podem torná-lo mais contagioso.
Foto: DesignIt/Zoonar/picture alliance
Associação ao local de origem
Historicamente, vírus novos costumam ganhar nomes associados ao local de descoberta, como o ebola, que leva o nome de um rio congolês. No entanto, esse padrão pode ser impreciso, como é o caso da gripe espanhola de 1918. As origens desse vírus são desconhecidas, mas acredita-se que os primeiros casos tenham surgido no estado do Kansas, nos Estados Unidos.
Foto: picture-alliance/National Museum of Health and Medicine