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Legado

Dunja Welke (av)28 de setembro de 2006

As 2500 páginas de esboços, versões alternativas, cartas e outros escritos encontrados na Suíça prometem revolucionar a pesquisa do mais conhecido dramaturgo de língua alemã.

Carta à esposa Helene Weigel
Carta à esposa Helene WeigelFoto: Akademie der Künste

Já em 1933 Bertolt Brecht fora forçado a abandonar a Alemanha. O dramaturgo, diretor, poeta e ensaísta combateu o nacional-socialismo desde o princípio, e sua esposa, Helene Weigel, era judia. Escandinávia, Estados Unidos e a Suíça foram as estações de seu exílio, e Brecht só retornou à Alemanha em 1949.

Na parte de Berlim sob ocupação soviética, ele iniciou seu trabalho prático como encenador, formando a base da fama que o Berliner Ensemble mantém até hoje. Em 1956, Brecht faleceu em Berlim Oriental.

Voltando à pátria

O jovem BrechtFoto: PA/dpa

Em 1947-48, a caminho da terra natal, ele morou na Suíça. Graças a essa parada intermediária foram encontrados há alguns anos, no Lago de Zurique, manuscritos, cartas e outros materiais, até então inéditos.

Antes da sensacional descoberta, acreditava-se há muito já estar completo o legado do mais encenado autor de língua alemã. Além de manuscritos seus e de outros autores, fazem parte do achado folhas de seu caderno de anotações, contratos, documentos, passaportes, talões de cheques, faturas e 350 cartas.

Tudo isso o autor colocara sob a guarda de um amigo, o sindicalista e gráfico Victor N. Cohen, possivelmente em 1949, ao deixar a Suíça a caminho de Berlim. Morador de Goldbach, às margens do Lago de Zurique, Cohen era um social-democrata de esquerda e publicitário profissional. Ele escrevia artigos para os jornais dos sindicatos e elaborava campanhas social-democratas e manifestos.

Longa negociação

Cohen faleceu em 1975. Porém somente no final da década de 1980 seus filhos se deram conta da valiosa herança em suas mãos. O diretor do Arquivo Brecht, Erdmut Wizsla, conta as circunstâncias do achado: "Foi preciso desocupar o depósito onde certos bens antigos se encontravam, pois o contrato de aluguel se encerrara. E justamente lá ainda havia coisas do espólio de Victor. Ao abri-las, dissemos: 'Nossa! É tudo Brecht! Abrimos a próxima caixa e achamos novamente – tudo Brecht'".

Por ocasião dos 50 anos da morte do criador do teatro épico, em 14 de agosto último, a Academia das Artes de Berlim anunciou a aquisição do achado do século. Trata-se do mais importante acréscimo ao Arquivo Brecht – um anexo da Academia visitado anualmente por cerca de 240 pesquisadores – desde a fundação, em 1956.

Passaporte finlandês de Brecht, parte da Coleção CohenFoto: Akademie der Künste

As negociações de compra duraram oito anos. Seu sucesso se deveu à decisão da loteria nacional, da Fundação Alemã de Pesquisa (DFG) e da Academia de Artes de financiarem juntas o projeto. A "Coleção Victor N. Cohen de Bertolt Brecht" compreende 2500 páginas – um quinto do legado total – e uma máquina de escrever.

Ao que tudo indica, Helene Weigel – que após a morte prematura de seu marido anotara cuidadosamente todo o espólio – perdeu de vista o legado suíço. E, após seu retorno à Alemanha, Brecht tampouco sentiu falta dos papéis.

Estes não só documentam os dois anos na Suíça e a curta temporada em Zurique como também o exílio americano desde 1941, além de incluir alguns poucos objetos de anos anteriores.

Empenho político

Complementam a nova coleção alguns textos inéditos – contos, um projeto de romance, ensaios sobre política e a prática teatral –, assim como duas versões da peça O círculo de giz caucasiano. No texto de prosa Meu tipo inesquecível, Brecht caricatura Hitler de forma semelhante à empregada em A resistível ascensão de Arturo Ui.

O achado mostra ainda como, no exílio nos EUA, o dramaturgo se empenhou pelo Council for a Democratic Germany. Esta "Associação dos Emigrantes Alemães", fundada em 1944, foi a contrapartida do Comitê Nacional Alemanha Livre, da União Soviética.

Brecht redigiu declarações e cartas com o fim de conquistar apoio de figuras como Alfred Döblin. O Council foi uma coligação temporária, que, ainda durante a Segunda Guerra Mundial, se batia por uma Alemanha indivisa, com soberania política interna e externa.

Promessa de novas publicações

Os escritos ilustram ainda com que intensidade o autor preparou, a partir da Suíça, sua atividade teatral na Alemanha do pós-guerra. Ele se correspondia com aliados no país natal, diretores e atores e encarregados culturais alemães e russos.

Brecht pretendia reformular todas as suas peças à luz da nova situação do pós-guerra. Dentre todas elas, ele só considerava Arturo Ui – devido à sua forma de farsa – apropriada para sustentar, nos palcos alemães, a discussão sobre o regime nazista.

Túmulo do casal Brecht-Weil no cemitério Dorotheestadt de BerlimFoto: AP

A Coleção Cohen promete reformular a abordagem da vida e obra brechtiana. Numerosas publicações já foram realizadas ou anunciadas. Recentemente, a casa Suhrkamp lançou uma edição anotada das cartas de Brecht à esposa desde 1923 até sua morte, em 1956.

A mesma editora publicou um adendo de 150 páginas à Crônica Brecht, 1898-1956, de Werner Hecht. Lançada originalmente em 1997, esta documenta o dia-a-dia da vida do escritor. Hecht encara como uma tarefa apaixonante a pesquisa brechtiana após a queda da confrontação de sistemas. "Temos a visão do Ocidente e a do Leste. Agora estaria na hora de pintar um quadro objetivo. E, neste ponto, tais achados são de imenso valor", comenta o biógrafo.

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