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In Transit: Brasil rouba a cena em festival de dança

Rodrigo Rimon4 de junho de 2006

Das 16 companhias convidadas para esta edição do festival internacional de dança In Transit em Berlim, 14 vêm do Brasil. Com velhos conhecidos do público local e novas surpresas, o país mostra que não dança só em campo.

Nova Dança 4: poética do movimentoFoto: Edu Marin

Pode ser que o festival In Transit aconteça pela última vez neste ano, já que seu idealizador e curador, Johannes Odenthal, está deixando sua sede, a Casa das Culturas do Mundo. Mas, se isso realmente acontecer, os brasileiros podem se dar por contentes por terem deixado sua marca na última edição do evento, que encerrou hoje (04/06) em Berlim.

Neste ano, o festival foi parte integrante da Copa da Cultura, promovida pelo governo brasileiro para divulgar a variedade da cultura brasileira durante o Mundial de futebol. Com sucesso: não só pelo fato que 14 das 16 companhias convidadas são do Brasil, mas até mesmo o excelente e renomado Cloud Gate Dance Theatre, de Taiwan, teve de dividir a honra da cerimônia de abertura com Gilberto Gil, que deu um show beneficente na capital.

Passos de galinha

Ivo é um dos mais populares bailarinos brasileiros no paísFoto: João Caldas

Desde 24/05, o público berlinense e a crescente comunidade de brasileiros da cidade tiveram a chance de rever artistas que já não são novidade nos palcos da cidade, como o bailarino Ismael Ivo e o grupo catarinense Cena 11.

Ivo recuperou um dos espetáculos mais antigos de sua carreira: As Galinhas, de 1980. A coreografia, que conta com a direção de Takao Kusuno, vanguardista do butô no Brasil, foi concebida para ser apresentada nas ruas como crítica à opressão da ditadura militar. Mais de 20 anos depois, Ivo – que hoje desfruta de uma popularidade consistente entre o público alemão – se reencontrou no palco com a bailarina francesa Renée Gumiel, hoje com 96 anos de idade.

O Cena 11, de Florianópolis, é outro velho conhecido dos berlinenses. Na última edição do festival Brasil Move Berlim, dedicado à nova dança brasileira, a companhia – coreografada pelo bailarino Alejandro Ahmed, que nasceu em Montevidéu e cresceu no Brasil – foi aplaudida de pé pelo espetáculo Skinnerbox.

Desta vez, eles apresentaram trechos de sua nova coreografia, Pequenas Frestas de ficção sobre realidade insistente, ainda um work in progress com estréia prevista para outubro de 2006.

Como de costume, o grupo experimenta com tecnologia: os passos dos bailarinos são captados por sensores de movimentos e refletidos sobre um telão, não só criando novos modos de representação do movimento, mas questionando também as fronteiras entre o biológico e o tecnológico. E, nas curtas pausas entre um sketch e outro, é a vez do público ser filmado e projetado no telão.

Poética do movimento

Também houve novidades, como o mineiro Vanilton Lakka, que surpreendeu com um break dance em câmera lenta, suavizando o limite entre a dança de rua e o limbo da arte abstrata, além de performances como Impermanências, de Vera Sala, Dances of the Abyss, do mineiro Marcelo Gabriel, e O Banho, de Marta Soares, performance dedicada a Dona Yayá, uma dama da alta sociedade que viveu por mais de 40 anos (até 1961) sob isolamento psiquiátrico em sua casa.

'O Banho’, de Marta Soares

Soares, que recebeu um programa de incentivo da Fundação Guggenheim para sua pesquisa, atua em uma banheira cheia d’água, enquanto imagens em vídeo tomadas na residência de Dona Yayá projetam a situação entre a vida e a morte, entre o espaço limitado e o tempo ilimitado.

Mas a grande surpresa desta edição ficou por conta da companhia paulistana Nova Dança 4, que lotou duas apresentações com Palavra, a poética do movimento. Misturando dança, música, poesia e performance, seis dançarinos e seis músicos improvisaram passos e entoaram versos em tradução livre, seja para o alemão, seja para o inglês.

Ao contrário do Cena 11, que investe na interação entre corpo e tecnologia, o Nova Dança 4 aposta todas suas fichas na técnica dos bailarinos. Apagando a linha que os divide da platéia, os dançarinos se embrenham confortavelmente por entre o público, convidando à interação e ao contato. Nem que seja apenas cantando baixinho.

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