Incêndio atinge área de proteção ambiental no Pará
16 de setembro de 2019
Chamas se alastram e chegam a área de mata nativa no balneário de Alter do Chão. Após governo paraense anunciar controle, fogo volta a se intensificar. Estado pede ajuda da Força Nacional e apura possível ação criminosa.
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Um incêndio de grandes proporções se alastrou neste domingo (15/09) para uma área de proteção ambiental em Alter do Chão, na região de Santarém, um dos locais mais visitados por turistas no estado do Pará. Segundo informações das brigadas de incêndio, o fogo começou no sábado e atingiu uma grande área de mata nativa.
As chamas se espalharam pelo balneário de Alter do Chão e atingiram a comunidade de Ponta de Pedras. Testemunhas relataram cenas de terror em postagens nas redes sociais, com centenas de fotos que mostravam uma cortina de fumaça e fuligem no local.
Após o governo do estado afirmar que o fogo estava controlado, as chamas voltaram a se intensificar. Um novo foco de incêndio foi identificado em uma ilha de difícil acesso, próximo a Ponta de Pedras. Os bombeiros continuam as operações de combate ao fogo.
Os agentes tentavam chegar ao fogo por uma estrada que serve de atalho para Alter do Chão e também por água. No local não há redes de telefonia celular, o que prejudica a comunicação e o trabalho das equipes.
No fim da noite de domingo, o governador do Pará, Helder Barbalho, informou no Twitter que conversou com o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que por sua vez prometeu acionar o Ministério da Defesa. Barbalho disse ainda que solicitou ao Exército o envio de um avião-pipa para intervir nos locais de difícil acesso.
Também na noite de domingo, o governo paraense pediu ao Comando Militar do Norte o deslocamento de aeronaves e o reforço da Força Nacional. O Corpo de Bombeiros convocou integrantes que estavam de folga para ajudar nos esforços.
O portal oficial do governo afirmou que Barbalho pediu a abertura de um inquérito para apurar as causas do incêndio, uma vez que não estava afastada a hipótese de ter sido uma ação criminosa.
A vila de Alter Chão está localizada a 37 quilômetros por via terrestre de Santarém, e a 1.373 quilômetros de Belém, capital do estado. O balneário é conhecido como Caribe da Amazônia.
Focos de incêndio na Floresta Amazônica atingem seu pior agosto em quase uma década. Em Rondônia, fogo é a última etapa de uma cadeia criminosa que inclui invasão de terras, extração ilegal de madeira e desmatamento.
Foto: Imago Images/Agencia EFE/J. Alves
Chamas em agosto
Com 30.901 focos de queimadas registrados por satélites no bioma Amazônia, o mês de agosto de 2019 superou o registrado no mesmo mês em todos os anos anteriores até 2010, quando o número chegou a 45.018. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que monitora as queimadas desde 1998. O recorde para o mês de agosto ainda é de 2007, com 63.764 focos.
Foto: Flávio Forner
Prejuízos à saúde
Na região de Porto Velho, capital de Rondônia, a fumaça das queimadas causa problemas sérios de saúde. Em um estudo realizado no estado, a Fiocruz analisou dados de 1998 a 2005 e concluiu que o número de mortes de idosos acima de 65 anos por doenças respiratórias aumenta durante os meses de queimadas. Até 80% das mortes estão relacionadas aos incêndios florestais.
Foto: Flávio Forner
O futuro da floresta nacional
A Floresta Nacional do Bom Futuro, perto de Porto Velho, foi criada em 1988 para proteger originalmente 280 mil hectares da Floresta Amazônica. Em 2010, um decreto reduziu a área para 98 mil hectares por conta da ocupação da região. A Flona (floresta nacional) é uma das mais ameaçadas no bioma, com histórico de invasões, desmatamento e queimadas.
Foto: Flávio Forner
Plantão na floresta
Brigadistas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) ficam de plantão na região da Floresta Nacional do Bom Futuro 24 horas por dia na época das queimadas, de julho a outubro. Eles fazem rondas diárias para evitar crimes e, quando identificam fogo, usam bombas costais e abafador para apagar as chamas.
Foto: Flávio Forner
Solo mais pobre
O primeiro efeito da queimada é a perda de nutrientes e da biota do solo, alerta o biólogo Marcelo Ferronato, da ONG Ecoporé. Com o passar dos anos, os nutrientes que estavam ali sendo depositados pelas florestas desaparecem, como folhas e galhos. "O solo vai se enfraquecendo, a área começa a ser degradada, a produtividade cai, e novas áreas são abertas, alimentando o ciclo do desmatamento."
Foto: Flávio Forner
Lote ilegal
O capim cresce na área já desmatada dentro da Floresta Nacional do Bom Futuro. A estaca fixada no chão serve para demarcar o lote que, mais para frente, será vendido de forma ilegal. A área onde o crime ocorreu fica a menos de um quilômetro da estrada de terra que corta a unidade de conservação.
Foto: DW/N. Pontes
Desmatamento antes do fogo
Esta clareira na Floresta Nacional do Bom Futuro foi aberta cinco dias antes de a equipe da DW Brasil visitar o local. Algumas árvores mais antigas ainda estão de pé, como uma da espécie tauari de 200 anos, de cerca de 40 metros de altura, que também é um porta-sementes. Segundo brigadistas, os criminosos esperam a mata derrubada secar por alguns dias antes de colocar fogo.
Foto: Flávio Forner
Reflorestamento em risco
Alguns projetos de compensação ambiental de outros empreendimentos são revertidos para a Floresta Nacional do Bom Futuro. Na foto, árvores nativas da Amazônia crescem numa área do tamanho de 70 campos de futebol que foi desmatada. Se elas sobreviverem aos crimes cometidos na região, precisarão de 50 anos para voltar a ganhar o aspecto de uma floresta densa.
Foto: Flávio Forner
Pressão em terras indígenas
No estado de Rondônia, 21 reservas são destinadas a povos indígenas. A Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, a cerca de 300 quilômetros de Porto Velho, tem sete aldeias e comunidades que escolheram viver isoladas na Floresta Amazônica. Criado em 1985, o território de uso exclusivo dos indígenas sofre ameaças constantes de madeireiros e grileiros.
Foto: Flávio Forner
Preocupação com a floresta
Segundo os indígenas, a destruição da floresta é muito rápida. Eles acreditam que a "empreitada" para desmatar e queimar a mata, que conta com entre 10 e 15 pessoas, seja custeada por quem tem muito dinheiro. Depois de tirar a madeira, os criminosos queimam a área e jogam sementes de capim, conta Taroba Uru-Eu-Wau-Wau (foto).
Foto: Flávio Forner
Desmatamento e pastagem
Segundo estudos de pesquisadores da Universidade Federal de Rondônia (Unir), o desmatamento ilegal serve para ampliar áreas de pastagem. Dados oficiais estimam que o rebanho no estado ultrapasse 14 milhões de cabeças. Aos poucos, as pastagens têm se convertido em plantações, como de soja, afirma a pesquisadora Maria Madalena Cavalcante, da Unir.