Bombeiros foram deslocados para combater chamas em galpão na Zona Oeste de SP. Governo Bolsonaro foi alvo de ação por abandono intencional da instituição em 2020. Ex-funcionários também alertaram sobre risco de incêndios
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Um incêndio atingiu na noite desta quinta-feira (29/07) um depósito da Cinemateca Brasileira na Vila Leopoldina, na Zona Oeste de São Paulo. Pelo menos seis viaturas do Corpo de Bombeiros foram deslocadas para o local. Não há vítimas.
Segundo o jornal Folha de S.Paulo, funcionários da Cinemateca afirmaram que o incêndio teria começado com um curto-circuito do ar condicionado.
De acordo com o jornal, os bombeiros estimam que 400 m2 foram atingidos pelas chamas. Não há informações sobre o estado do acervo no local após o incêndio. O prédio onde houve o incêndio não é a sede principal da Cinemateca, que fica na Vila Clementino, mas um depósito de apoio, que também abriagava filmes.
O local já havia sido palco de um incêndio em fevereiro de 2016. Na ocasião, mil rolos de filmes da década de 1940 - na maioria cinejornais - foram destruídos. O depósito guarda obras registradas em nitrato de celulose, que é inflamável. Em 2020, o local também foi danificado por uma enchente, resultando na destruição de mais rolos de filmes.
Em abril de 2021, ex-funcionários da Cinemateca publicaram um manifesto alertando para o risco de destruição do acervo. "O risco de um novo incêndio é real. O acompanhamento técnico e as demais ações de preservação, inclusive processamento em laboratório, são vitais", informava o documento. O abandono da instituição e o desleixo do governo federal em relação ao acervo também foram criticados internacionalmente. Em setembro de 2020, o diretor do Festival de Cannes chegou a afirmar que a Cinemateca estava "ameaçada pelo atual governo”.
A Cinemateca Brasileira foi palco no ano passado de uma disputa entre a Secretaria Especial da Cultura do governo Bolsonaro, comandada pelo ex-ator Mário Frias, e a Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp), que administrava a instituição. No final de 2019, o governo cancelou o contrato com a associação, mas ao mesmo tempo não abriu uma nova licitação, na prática abandonando a instituição. A Acerp continuou a administrar o acervo por conta própria até julho de 2020. A associação ainda tentou cobrar uma dívida de R$ 12 milhões em valores devidos pela União por serviços prestados entre 2019 e 2020.
Em julho de 2020, o Ministério Público Federal em São Paulo entrou com uma ação contra a União por abandono da Cinemateca Brasileira.
"Desde 31 de dezembro de 2019, o governo federal abandonou, pura e simplesmente, a Cinemateca Brasileira à própria sorte, não a administrando diretamente, nem efetuando repasse financeiro à Acerp ou a alguma entidade similar para a curadoria e a manutenção da Cinemateca", escreveu à época o procurador Gustavo Torres Soares.
Ele ainda listou os problemas na instituição como risco de incêndio, falta de vigilância, atrasos nas contas de água e luz e de salários dos funcionários.
Em agosto de 2020, a Secretaria Nacional de Cultura retomou a instituição. Frias mandou seu atual número dois na secretaria, Helio Ferraz de Oliveira, antigo diretor de um game show apresentado pelo ex-ator, ir ao local em 7 de agosto com a Polícia Federal para assumir o comando da instituição. Houve protesto de ex-funcionários.
Em maio deste ano, o MPF-SP suspendeu a ação contra a União depois que o governo federal informou que iria mostrar ações implementadas pela preservação do patrimônio em um prazo de até 45 dias.
No ano passado, ao demitir Regina Duarte da Secretaria Especial de Cultura, o presidente Jair Bolsonaro chegou a declarar que ela assumiria o comando da Cinemateca. No entanto, a nomeação nunca foi oficializada.
jps (ots)
Museus históricos brasileiros
Incêndio que destruiu Museu Nacional no Rio chama atenção para outras instituições culturais e científicas em prédios históricos. Devido a riscos, alguns se encontram fechados.
Foto: Imago/M. A. Rummen
Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro
Construída em 1603 na antiga Ponta do Calabouço, no centro do Rio de Janeiro, a Fortaleza de Santiago deu origem ao conjunto arquitetônico que abriga o Museu Histórico Nacional, o mais importante museu de história do país. Seu acervo inclui 258 mil itens e uma biblioteca especializada em história do Brasil, história da arte, museologia e moda.
Foto: public domain
Museu do Ipiranga, São Paulo
Localizado no Parque da Independência, em São Paulo, o Museu do Ipiranga foi inaugurado em 1895, como museu de história natural e marco da independência. Seu acervo abrange 450 mil itens, do século 17 até o século 20, referentes à história da sociedade brasileira. O museu se encontra fechado desde 2013, quando um laudo apontou risco de desabamento do forro. O prédio aguarda obras de restauração.
Foto: Imago/M. A. Rummen
Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
O prédio da antiga Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, abriga hoje a maior e mais importante coleção de arte brasileira do século 19, além de documentos e livros. O acervo do Museu Nacional de Belas Artes teve origem nas pinturas trazidas e produzidas pela Missão Artística Francesa, que chegou ao Rio em 1816, como também nas peças da coleção de D. João 6° deixadas no Brasil.
Foto: Imago/imagebroker/K. Kozlowski
Museu Emílio Goeldi, Belém
A criação do Museu Emílio Goeldi, em Belém, remonta a 1866. Atualmente, a instituição possui três bases físicas. A mais antiga foi instalada em 1895 numa área de 5,2 hectares, atualmente conhecida como Parque Zoobotânico, na capital paraense. Desde sua fundação, suas atividades se concentram no estudo científico dos sistemas naturais e socioculturais da Amazônia.
Foto: Divulgação Portal Brasil
Museu da Inconfidência, Ouro Preto
O museu dedicado a preservar a memória da Inconfidência Mineira ocupa a antiga Casa de Câmara e Cadeia de Vila Rica, hoje Ouro Preto, construída no fim do século 18. Além do Panteão com os restos mortais dos inconfidentes, o acervo da instituição abriga mais de quatro mil peças do cotidiano mineiro nos séculos 18 e 19, além de importantes obras, por exemplo, de Aleijadinho e Mestre Ataíde.
Foto: picture-alliance/imageBROKER/G. Barbier
Museu Imperial, Petrópolis
O antigo palácio de verão da família imperial brasileira em Petrópolis abriga hoje o principal acervo relativo ao império brasileiro, que cobre sobretudo o período governado por D. Pedro 2°, que também mandou construir o prédio neoclássico. Entre os cerca de 300 mil itens estão a coroa imperial brasileira e a pena de ouro usada pela princesa Isabel para assinar a Lei Áurea.
Inaugurado em 2006 no prédio histórico da Estação da Luz, aberto em 1901, em São Paulo, o moderno museu em homenagem à diversidade da língua portuguesa recebeu quase 4 milhões de visitantes até um incêndio destruir dois andares de sua estrutura, em dezembro de 2015. Por ser virtual, seu acervo, no entanto, não se perdeu. O prédio está sendo restaurado e sua reinauguração está prevista para 2019.
Foto: Imago/Fotoarena/B. Rocha
Museu de Arte de São Paulo (Masp), São Paulo
O Masp abriga a maior coleção de arte europeia do Hemisfério Sul. Idealizado por Assis Chateaubriand, o museu foi fundado em 1947. No entanto, o prédio icônico que ocupa na Avenida Paulista, projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi e que se tornou marco da arquitetura do século 20, foi inaugurado em 1968, com a presença da rainha Elizabeth 2ª. Seu acervo abrange hoje mais de 10 mil obras.
Foto: picture-alliance/Demotix/A. M. Chang
Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro
Além de um dos principais acervos de arte moderna brasileira, o prédio icônico do arquiteto modernista Affonso Eduardo Reidy e os jardins de Burle Marx, na praia do Flamengo, são atrações do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM), fundado há sete décadas. Em 1978, um incêndio destruiu quase por completo as obras de sua coleção, entre elas, pinturas de Picasso e Salvador Dalí.
Foto: picture-alliance/dpa/Campus & Davis
Museu Nacional, Rio de Janeiro
Boa parte do prédio e do acervo de 20 milhões de itens do Museu Nacional – o maior de história natural do país – foi destruída no incêndio na noite de 2 de setembro de 2018. O museu era a mais antiga instituição científica do Brasil. Fundado como Museu Real, ele ocupava a antiga residência oficial dos imperadores do Brasil, na Quinta da Boa Vista, desde 1892.