Local, que abrigava 1.500 pessoas, é quase totalmente destruído pelas chamas, que teriam começado durante briga entre afegãos e curdos. Após fechamento da "Selva de Calais", campo de Grande-Synthe era único na região.
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Um incêndio de grandes proporções destruiu na noite desta segunda-feira (10/04) grande parte de um dos maiores campos de acolhimento de refugiados da França, que abrigava 1.500 pessoas. Segundo os bombeiros, ao menos dez pessoas ficaram feridas.
O campo de Grande-Synthe, próximo ao porto de Dunquerque, no norte do país, era o único na região e dispunha de centenas de cabanas de madeira como abrigo, além de cozinhas e banheiros. "Não sobrou nada além de uma pilha de cinzas", afirmou o prefeito da região Norte, Michel Lalande.
Autoridades e policiais afirmaram que o fogo começou durante uma briga entre afegãos e curdos iraquianos. As chamas eram visíveis a quilômetros de distância. Pela manhã foi possível constatar a dimensão dos estragos. Apenas 70 das 300 cabanas foram preservadas, além de algumas poucas instalações comunitárias.
O campo, erguido pela ONG Médicos sem Fronteiras (MSF), foi aberto em março de 2016 apesar de objeções do governo francês. O ministro do Interior, Bruno Le Roux, havia anunciado planos para fechar o local em março deste ano, mencionando problemas com a ordem pública.
"O fogo deve ter sido ateado em lugares diferentes, não seria possível de outra forma", afirmou Olivier Caremelle, chefe de pessoal em Grande-Synthe nomeado pelo prefeito Damien Careme, um ambientalista que apoiou a construção do campo de refugiados no ano passado. "Parece estar relacionado a brigas entre iraquianos e afegãos", disse Caremelle.
Inchaço após fim da "Selva de Calais"
Um dos moradores do campo disse que a briga começou durante uma partida de futebol entre afegãos, quando a bola atingiu um curdo iraquiano que, segundo a testemunha, começou a "insultar o povo afegão".
A destruição do campo de refugiados obrigou as autoridades a tentar encontrar acomodações alternativas para os moradores, a maioria dos quais chegou à França fugindo de conflitos no Oriente Médio ou Afeganistão. Cerca de metade das pessoas foi abrigada às pressas durante a noite num ginásio esportivo.
A associação local de apoio aos refugiados Auberge des Migrants alertou que não conseguiu localizar vários menores que estavam abrigados no campo. "Nossos voluntários nos disseram que há semanas as tensões vinham se agravando devido ao aumento da população do campo", disse o vice-presidente da entidade, François Guennoc.
O fechamento do campo de refugiados conhecido como a "Selva de Calais", a cerca de 40 quilômetros de distância, contribuiu significativamente para a lotação dos abrigos em Grande-Synthe. "Desde o fechamento de Calais, não há outro centro de acolhimento no litoral", disse Guennoc.
Segundo testemunhas, a tensão no local aumentou depois da chegada de afegãos que viviam em Calais. Até então, o campo de Grande-Synthe era habitado majoritariamente por curdos.
RC/afp/rtr
Como começou a crise de refugiados na Europa
Da escalada da violência no Médio Oriente e na África a crises sociais e políticas na Europa, veja como a União Europeia busca solucionar seus problemas.
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Fugindo da guerra e da pobreza
No fim de 2014, com a guerra na Síria entrando no quarto ano e o chamado "Estado Islâmico" avançando no norte do país, o êxodo de cidadãos sírios se intensificou. Ao mesmo tempo pessoas fugiam da violência e da pobreza em outros países, como Iraque, Afeganistão, Eritreia, Somália, Níger e Kosovo.
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Em busca de refúgio nas fronteiras
A partir de 2011, um grande número de sírios passou a se reunir em campos de refugiados nas fronteiras com a Turquia, o Líbano e a Jordânia. Em 2015, os campos estavam superlotados. A falta de oportunidade de trabalho e escolas levou cada vez mais pessoas a buscarem asilo em países distantes.
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Uma longa jornada a pé
Estima-se que 1,5 milhão de pessoas se deslocaram da Grécia para a Europa Ocidental em 2015 através da chamada "rota dos Bálcãs" . O Acordo de Schengen, que permite viajar sem passaporte em grande parte da União Europeia (UE), foi posto em xeque à medida que os refugiados rumavam para as nações europeias mais ricas.
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Desespero no mar
Dezenas de milhares de refugiados também se arriscaram na perigosa jornada pelo Mar Mediterrâneo em barcos superlotados. Em abril de 2015, 800 pessoas de várias nacionalidades se afogaram quando um barco que saiu da Líbia naufragou na costa italiana. Seguiram-se outras tragédias. Até o fim daquele ano, cerca de 4 mil refugiados teriam morrido ao tentar a travessia do norte da África para a Europa.
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Pressão nas fronteiras
Países ao longo da fronteira externa da União Europeia enfrentaram grandes problemas para lidar com o enorme número de pessoas que chegavam. Foram erguidas cercas nas fronteiras da Hungria, da Eslovênia, da Macedônia e da Áustria. As leis de asilo político foram reforçadas, e vários países da área de Schengen introduziram controles temporários nas fronteiras.
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Fechando as portas abertas
A catastrófica situação dos refugiados nos países vizinhos levou a chanceler federal alemã, Angela Merkel, a abrir as fronteiras. Os críticos da "política de portas abertas" de Merkel a acusaram de agravar a situação e encorajar ainda mais pessoas a embarcarem na perigosa viagem à Europa. Em setembro de 2016, também a Alemanha introduziu controles temporários na sua fronteira com a Áustria.
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Acordo com a Turquia
No início de 2016, UE e Turquia assinaram um acordo prevendo que refugiados que chegam à Grécia podem ser enviados de volta para a Turquia. O acordo foi criticado por grupos de direitos humanos. Após o Parlamento Europeu votar pela suspensão temporária das negociações sobre a adesão da Turquia à UE, em novembro de 2016 a Turquia ameaçou abrir as fronteiras para os refugiados em direção à Europa.
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Que perspectivas?
Com o acirramento do clima anti-imigração na Europa, os governos ainda buscam soluções para lidar com a crise de refugiados. As tentativas de introduzir cotas para distribuí-los entre os países da UE em grande parte falharam. Por outro lado, não há indícios de que os conflitos nas regiões de onde eles vêm estejam chegando ao fim, e o número de mortos na travessia pelo mar continua aumentando.