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Incêndio destrói Museu da Língua Portuguesa em São Paulo

22 de dezembro de 2015

Chamas atingem principalmente o segundo e o terceiro andares do prédio e deixam um bombeiro civil morto. Acervo é basicamente virtual e deve ser recuperado. Alckmin promete reconstrução do museu.

Foto: Getty Images/AFP/M. Schincariol

Um incêndio de grandes proporções atingiu, nesta segunda-feira (21/12), o Museu da Língua Portuguesa, localizado na Praça da Luz, na região central de São Paulo. Um bombeiro civil morreu no combate ao fogo. Como o museu está fechado às segundas-feiras, não havia visitantes.

Ronaldo Pereira da Cruz, um bombeiro civil que trabalhava no local e tentou controlar as chamas, morreu em consequência de uma parada cardiorrespiratória, após ter sido internado num hospital da cidade.

O incêndio começou por volta das 15h30 no primeiro andar do museu e se alastrou pelos outros dois andares, atingindo principalmente o último andar. O telhado foi totalmente destruído. Os bombeiros controlaram as chamas por volta das 17h45. Mais de 100 homens e 60 viaturas dos bombeiros trabalharam no local.

As causas do incêndio ainda não estão esclarecidas. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, o museu não tinha aval do Corpo de Bombeiros para funcionar. Uma funcionária relatou ao diário paulista que houve uma falha num hidrante no início do incêndio.

De acordo com o secretário municipal da Cultura, Nabil Bonduki, as informações iniciais são de que o acervo do museu não foi atingido. O local mais afetado pelo fogo, segundo o secretário, abrigava uma exposição temporária de cenografia. "Os acervos são a alma dos museus. Se não se perdeu o acervo, considero que é uma perda menor", disse.

Uma das idealizadoras do museu, a cineasta e socióloga Isa Grinspum Ferraz, declarou-se "chocada" com o incêndio. Devido à natureza das exposições, que continham em sua maioria materiais digitais, contudo, ela avalia que será possível recuperar o acervo. "Tinha poucos objetos em exposição. Temos arquivos do conteúdo. Tudo isso poderá ser recuperado", disse, em entrevista à DW.

O secretário estadual de Cultura, Marcelo Araújo, disse que o acervo do museu é digital. "Temos cópias técnicas. A exposição de longa duração poderá ser refeita", disse, acrescentando que a área expositiva foi toda destruída. O secretário não soube responder se o museu tinha alvará de funcionamento, pois a licença é concedida para todo o edifício, que inclui a estação de trens e metrô. "Todos os equipamentos de segurança estavam previstos e instalados."

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, afirmou que o museu será reconstruído. Alckmin visitou o local no fim da tarde desta segunda-feira, para avaliar os danos causados, e confirmou que o acervo é digital e foi preservado porque a instituição tem cópias das obras.

Difusão da língua portuguesa

O Museu da Língua Portuguesa foi inaugurado oficialmente em 2006 e está localizado numa parte do edifício da Estação da Luz. Um dos cartões-postais da cidade, o prédio foi inaugurado em 1867. O complexo da Estação da Luz é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Dedicado à valorização e difusão do idioma, considerado patrimônio imaterial, o museu recebeu mais de 1,6 milhão de visitantes em nos primeiros três anos de funcionamento, tornando-se um dos mais visitados do Brasil e da América do Sul.

Sua exposição interativa é distribuída por três andares e basicamente virtual, mostrando facetas do português como, por exemplo, origens de palavras e projeções de obras da literatura brasileira. A instituição também oferece cursos e eventos para professores, estudiosos e o público em geral.

A equipe é formada por sociólogos, museólogos, especialistas em língua portuguesa e artistas. O museu foi montado pelo governo do Estado de São Paulo. Foram usados cerca de R$ 37 milhões para financiar a criação, pesquisa, implantação do museu e restauração do prédio da Estação da Luz.

A cidade de São Paulo foi escolhida para receber o museu porque reúne a maior população de falantes da língua portuguesa no mundo, estimada em mais de 10 milhões de pessoas.

Em Portugal, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, declarou à agência de notícias Lusa que recebeu "com consternação" a notícia do incêndio, exprimiu "solidariedade" com os envolvidos e lamentou a morte de um bombeiro.

Incêndios anteriores

A Estação da Luz havia sido parcialmente destruída por um incêndio em 1946, que consumiu arquivos e documentos, e danificou a fachada da avenida Tiradentes.

Em 2013, um grande incêndio atingiu o auditório Simón Bolivar do Memorial da América Latina, um centro cultural da cidade de São Paulo projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer. Aproximadamente 100 bombeiros participaram da operação e o rescaldo durou cerca de 15 horas, mas o fogo destruiu cerca de 90% do auditório.

PV/AS/lusa/abr/dw