Incêndio perto de Chernobyl está sob controle, diz Ucrânia
15 de abril de 2020
Bombeiros conseguem conter fogo nas proximidades da usina que gerou pior acidente nuclear da história. Presidente garante que não há motivos para pânico.
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Autoridades dos serviços de emergência da Ucrânia afirmaram nesta terça-feira (14/04) que conseguiram conter o incêndio florestal na região da antiga usina nuclear de Chernobyl, mas alertaram que o fogo ainda persiste em alguns pontos. O incêndio atingiu uma região contaminada por radiação.
Há dez dias, centenas de bombeiros, apoiados por aviões de combate a incêndios, lutam contra as chamas em torno da usina desativada. Eles haviam conseguido conter os primeiros focos de queimadas, mas o fogo ressurgiu em áreas próximas do epicentro do desastre nuclear de 1986.
O chefe dos serviços de emergência, Nikolai Chechetkin, comunicou ao presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, que chuvas no local ajudaram os bombeiros a conter as chamas, mas que ainda serão necessários mais alguns dias até que seja possível extinguir totalmente as brasas na vegetação.
Chechetkin afirmou que as equipes conseguiram evitar que o fogo chegasse a depósitos de resíduos radioativos e outras instalações em Chernobyl. Os níveis de radiação em Kiev, a cerca de 100 quilômetros de Chernobyl, se mantiveram dentro dos limites de normalidade durante os incêndios.
Zelensky assegurou que não há motivos para pânico. "Todos nos lembramos das lições de 26 de abril de 1986", disse o presidente em nota divulgada nesta terça-feira. "Ninguém está escondendo a verdade de vocês. No momento, a verdade é que a situação no local está sob controle", afirmou.
Nesta segunda-feira, grupos de ativistas alertavam que as chamas se aproximavam perigosamente de depósitos de resíduos nucleares, com um foco de incêndio localizado a dois quilômetros de um dos depósitos. O Centro Regional de Monitoramento de Incêndios no Leste Europeu estima que as chamas tenham devastado uma área de 20 mil hectares.
Na semana passada, autoridades disseram que conseguiram localizar o suspeito de atear fogo à vegetação seca na área. O homem de 27 anos disse que iniciou o fogo "por diversão" e que não conseguiu apagá-lo quando os ventos fizeram com que se espalhasse rapidamente.
Na segunda-feira, outro morador da região realizou uma queima de lixo, iniciando acidentalmente outro foco de incêndio de grandes proporções.
A chamada Área de Exclusão de Chernobyl, de 2,6 mil quilômetros quadrados, foi criada após o desastre na usina, que gerou uma nuvem de radiação que atingiu boa parte da Europa. A região é amplamente desabitada, com a exceção de um grupo de cerca de 200 pessoas que ainda permanece no local, ignorando as ordens de evacuação. A circulação de pessoas é proibida em uma área de 30 quilômetros ao redor da usina.
Os incêndios florestais são comuns na região, geralmente iniciados por moradores que ateiam fogo à vegetação seca no início da primavera, o que é uma prática bastante comum na Ucrânia, Rússia e outros países da antiga União Soviética, muitas vezes resultando em incêndios devastadores.
RC/ap/afp
Os últimos habitantes de Chernobyl
Os arredores da cidade ucraniana continuam inabitáveis 32 anos depois do acidente nuclear. Mas algumas pessoas já voltaram para suas casas. O cotidiano delas foi fotografado por Alina Rudya.
Foto: DW/A. Rudya
O otimismo de Baba Gania
Baba (mulher, senhora) Gania (e) tem 86 anos. Há dez, ela é viúva e, há 25, cuida da irmã Sonya, portadora de deficiência mental. "Não tenho medo da radiação. Cozinho os cogumelos até sair tudo", explica. A fotógrafa ucraniana Alina Rudya a visitou várias vezes: "É a pessoa mais calorosa e gentil que eu conheço", diz.
Foto: DW/A. Rudya
Casas vazias, indício de fuga apressada
Gania e a irmã vivem em Kupuvate, um vilarejo na área restrita que foi delimitada num raio de 30 km ao redor das ruínas da usina nuclear de Chernobyl. Depois da explosão do reator, em abril de 1986, 350 mil pessoas precisaram deixar a região. A maioria das casas em Kupuvate ficou vazia. Gania usa essa casa nas proximidades para guardar o seu caixão e o da irmã.
Foto: DW/A. Rudya
A volta dos mortos
"Na verdade, o cemitério de Kupuvate se parece com qualquer outro cemitério dos vilarejos da Ucrânia", conta Alina Rudya. "Muitas pessoas hoje enterradas aqui tiveram de abandonar a região depois da catástrofe e passaram a vida fora da área de radiação nuclear. Eles só voltaram depois de morrer", relata.
Foto: DW/A. Rudya
O último desejo de Baba Marusia
Os poucos que ficaram cuidam dos restos mortais dos familiares – como Baba Marusia, que veio até o túmulo da mãe. A filha vive em Kiev com o marido e duas crianças. "Fico feliz de ter ficado aqui", diz Baba Marusia. "Aqui é minha casa. Quero ser enterrada aqui." E acrescenta: "Mas do lado da minha mãe, não do meu marido."
Foto: DW/A. Rudya
Samosely: voltando para ficar
"Samosely" é como são chamados os habitantes que voltaram e vivem ilegalmente dentro da área de exclusão de Chernobyl. Galyna Ivanivna é um deles. "Minha vida passou como um raio. Tenho 82 anos e parece que nunca vivi. Quando era mais jovem, sonhava em viajar pelo mundo inteiro. Mas eu nunca consegui ir além de Kiev", recorda.
Foto: DW/A. Rudya
Vivendo no próprio mundo
Ivan Ivanovich e sua mulher também fazem parte das poucas centenas de habitantes que mudaram de volta para a área contaminada por radiação nuclear nos anos 1980. Entre os turistas que visitam a região, Ivan se tornou uma espécie de celebridade. "Ele conhece inúmeras histórias que oscilam entre verdade e imaginação", explica Alina Rudya.
Foto: DW/A. Rudya
Testemunhas mudas do passado
Uma semana antes do aniversário de 32 anos da catástrofe de Chernobyl, no dia 26 de abril, Alina Rudya foi à vila de Opachichi. Segundo ela, apenas uma mulher idosa ainda vive aqui – os outros habitantes já morreram. Suas casas vazias ficam abertas como testemunho mudo, mas eloquente, do ocorrido, através de fotos, calendários, cartas, toalhas bordadas e móveis.
Foto: DW/A. Rudya
Despedida a prestação
Marusia observa o marido, Ivan, dormindo. Ele teve um AVC recentemente e sofre de demência. "Às vezes, ele acorda à noite e sai procurando o seu trator. Trabalhou com o veículo por 42 anos." Ela diz que o desejo de morrer está vindo lentamente para ela. "Não quero ser um fardo para meus filhos e netos", afirma.
Foto: DW/A. Rudya
Prevenidos para a morte
Antes de ficar doente, Ivan, marido de Marusia, ainda construiu dois caixões para estar preparado para a própria morte e a morte da mulher. Os caixões ficam num galpão, diretamente ao lado da bicicleta velha. "O de baixo é meu, e o de cima é o do meu marido", explica Marusia.
Foto: DW/A. Rudya
Os últimos "samosely"
Apenas poucos samosely ainda vivem na zona de exclusão. Alina Rudya, que também nasceu perto de Chernobyl, os visitou várias vezes e fez retratos de alguns para um projeto fotográfico de longo prazo que ela quer publicar em livro. "Visitar os vilarejos abandonados está ficando cada vez mais triste. Toda vez que eu venho, alguém morreu, porque quase todos têm mais de 70 anos", explica.