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Incêndios levam australianos às ruas contra o governo

10 de janeiro de 2020

Manifestantes protestam contra falta de ação frente às mudanças climáticas e ao fogo que devasta o país. Premiê culpa estiagem pelos incêndios florestais que já deixaram 26 pessoas e 1 bilhão de animais mortos.

Em Sydney, vários manifestantes carregavam cartazes que criticavam o premiê
Em Sydney, vários manifestantes carregavam cartazes que criticavam o premiêFoto: Reuters/P. Braven

Milhares de pessoas protestaram nesta sexta-feira (10/01) em cidades da Austrália contra o governo do primeiro-ministro Scott Morrison por falta de ação no combate às mudanças climáticas e pela maneira como vem gerenciando a atual crise de incêndios que devastam o país.

Essas são as maiores manifestações no país desde o início da temporada de incêndios, no final de julho. Os protestos, como os que bloquearam as principais vias de Sydney, Canberra, Brisbane, Adelaide e Hobart, foram organizados por estudantes e transmitidos ao vivo nas redes sociais.

Os manifestantes gritavam "Fora ScoMo [Scott Morrison]" e seguravam cartazes e faixas que diziam "Não existe clima B" e "Salve-nos do inferno". Nas redes sociais, a hashtag #sackScomo é usada para mostrar descontentamento com as ações do primeiro-ministro.

Sem se deixar abater pelas fortes chuvas, uma mudança bem-vinda em relação ao recente clima seco extremo, grandes multidões em Melbourne gritaram "Acabe com os combustíveis fósseis" e "Fora ScoMo".

Na capital, Canberra, e em Melbourne, a qualidade do ar se tornou tão nociva neste mês que as duas cidades se destacaram entre os locais com o ar mais poluído no mundo.

Ao menos 26 pessoas morreram nos incêndios, e mais de 10 milhões de hectares de terra em toda a Austrália queimaram desde a temporada de incêndios florestais. Milhares de casas foram destruídas pelo fogo.

Cientistas australianos dizem que ao menos um bilhão de animais foram mortos nos recentes incêndios. "Como posso me tornar veterinária, se todos os animais morreram", dizia o cartaz de uma garota que participou do protesto em Canberra.

O governador do estado de Vitória, Daniel Andrews, disse que os movimentos não tiveram o timing apropriado e que iriam desviar os recursos da polícia.

"O senso comum diz a você que há outros momentos para defender sua opinião", afirmou Andrews em entrevista à televisão. "Eu respeito o direito das pessoas de ter uma visão, eu tenho a tendência de concordar com muitos dos pontos que estão sendo apresentado – a mudança climática é real –, mas há tempo e lugar para tudo, e não acho que um protesto hoje seja apropriado."

A professora Denise Lavell afirmou que participou dos protestos em Sydney porque acredita que os apelos eram apenas uma manobra do governo para impedir que civis saíssem às ruas. "Nosso país está queimando, nosso planeta está morrendo, e nós precisamos protestar", sublinhou.

Manifestantes usaram máscaras de proteção em protesto em SydneyFoto: Reuters/P. Braven

Indústria do carvão

Morrison e seu governo conservador foram criticados pela falta de esforços para combater as mudanças climáticas, que os cientistas alertaram ter desempenhado um papel importante nos incêndios florestais.

Nesta sexta-feira, Morrison afirmou à rádio 2GB ser decepcionante que as pessoas estivessem correlacionando os incêndios com as metas da Austrália de redução das emissões de gases de efeito estufa.

"Não queremos metas e objetivos que destruam empregos e economia, o que não mudará o fato de terem ocorrido incêndios florestais ou algo do tipo na Austrália", afirmou Morrison. O primeiro-ministro, um forte defensor da indústria do carvão, culpou a estiagem de três anos no país pelos incêndios.

No ano passado, a Austrália voltou atrás no seu compromisso com o Acordo de Paris. O país é o maior exportador mundial de carvão e gás natural liquefeito.

Nesta sexta-feira, ativistas realizaram protestos do lado de fora da Siemens, em Dortmund, na Alemanha, por causa do seu papel no projeto da mina de carvão Adani, no estado australiano de Queensland. Os manifestantes pediram o fim do projeto devido às emissões geradas por usinas a carvão, que poderiam contribuir para o aquecimento global.

FC/ap/dpa/rtr

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