Fogo na Austrália impulsiona níveis de CO2 na atmosfera
24 de janeiro de 2020
Segundo especialistas, fogo contribuirá para um dos maiores aumentos na concentração de dióxido de carbono em seis décadas. Níveis são similares ao existente entre 3 e 5 milhões de anos atrás.
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Os incêndios florestais na Austrália têm contribuído para um dos maiores aumentos dos níveis de dióxido de carbono (CO2) registrado na atmosfera da Terra desde o início da medição há mais de 60 anos, afirmou nesta sexta-feira (24/01) o Departamento de Meteorologia do Reino Unido (Met Office).
"Uma previsão da concentração atmosférica de CO2 mostra que 2020 testemunhará um dos maiores aumentos anuais desde os inícios das medições em Mauna Loa, no Havaí, em 1958", disse o departamento em um comunicado.
O Met Office afirmou que os níveis de CO2 na atmosfera devem superar 417 partes por milhão (ppm) em maio, com a média para 2020 prevista para ser 414.2 ± 0,6ppm. Essa concentração estimada ultrapassa a média registrada de 2019, que ficou em 2.74 ± 0,57ppm.
As concentrações de CO2 previstas são similares a existente na atmosfera da Terra entre 3 e 5 milhões de anos atrás, afirmaram os cientistas. Naquela época, o nível do mar era de 10 a 20 metros mais alto do que atualmente e as temperaturas cerca de 2ºC e 3ºC mais quentes.
O aumento das emissões de gases de efeito estufa contribui para o aquecimento global, o que é visto como um dos principais fatores que impulsionam os incêndios na Austrália. Os incêndios florestais queimaram enormes extensões de terra no sudeste do país e mataram ao menos 31 pessoas desde setembro.
Busca por corpos de bombeiros americanos
Três bombeiros americanos morreram na quinta-feira quando o avião C-130 Hercules em que estavam caiu no estado de Nova Gales do Sul, no sudeste do país, pouco depois de despejar um retardador de chamas na região Snowy Montano.
Uma equipe está trabalhando para recuperar os corpos das vítimas, segundo o comissário-chefe do Departamento de Segurança dos Transportes da Austrália, Greg Hood.
Ele afirmou que é difícil recolher provas do acidente e recuperar os restos mortais dos três bombeiros devido ao incêndio que consome a região do acidente. A presença de combustível do avião representa ainda um risco adicional.
A governadora do estado de Nova Gales do Sul, Gladys Berejiklian, contou que será realizada uma cerimônia em memória dos três americanos e de outros três bombeiros voluntários australianos que morreram lutando contra a atual onda de incêndios.
Ela disse que mais de 1.700 voluntários e outros funcionários estão atualmente combatendo as chamas, com cinco incêndios em um nível de "alerta de emergência" no estado e próximos da capital do país, Canberra.
Austrália enfrenta a pior temporada de incêndios florestais de sua história, causando mortes e evacuações em massa. Também biodiversidade vegetal e animal estão ameaçadas.
Foto: AFP/P. Parks
Paredes de chamas
Com mais de 180 focos de incêndios em toda a Austrália, mais de 8 milhões de hectares já foram queimados. O estado de Nova Gales do Sul, na costa leste, é o mais atingido. Os incêndios em bosques e florestas não são incomuns no continente, mas desta vez sua intensidade foi extrema. A temporada de incêndios já começou em setembro e foi agravada por altas temperaturas, acima de 40ºC.
Foto: Reuters/AAP Image/D.
Desespero no campo
Com uma toalha, este garoto tenta abafar as chamas que se alastram pelo campo. Os agricultores lutam para continuar alimentando o gado, pois pastagens e gramados estão queimados. Muitos tiveram que sacrificar os animais devido a queimaduras ou estresse térmico.
Foto: AFP/W. West
Destruição
Mais de 1.800 casas foram queimadas, milhares de habitantes foram evacuados, e pelo menos 25 morreram. Segundo as autoridades, só no estado de Victoria, que inclui a cidade de Melbourne, nos últimos dias foram evacuadas 67 mil pessoas.
Foto: Getty Images/AFP/S. Khan
Trabalho nas chamas
Longe dos grandes centros ou no litoral, a densidade populacional da Austrália é baixa. Lá os bombeiros voluntários são ainda mais importantes. Devido à extraordinariamente violenta temporada de incêndios, este ano eles serão pagos a partir de um fundo especial: quem estiver envolvido no trabalho de extinção do fogo por pelo menos dez dias receberá uma diária equivalente a 190 euros.
Foto: AFP/S. Khan
Ajuda do Exército
As Forças Armadas da Austrália ajudam a evacuar os residentes por via aérea ou de navio. Três mil reservistas foram chamados para ajudar os bombeiros a combaterem incêndios. Helicópteros militares da Nova Zelândia devem chegar nos próximos dias para dar apoio.
Foto: AFP/AUSTRALIAN DEPARTMENT OF DEFENCE/N. Dorrett
Ar poluído
Este homem em frente ao Parlamento australiano em Camberra tem uma mangueira, mas não faz nada contra as chamas. Do ponto de vista de muitos australianos, poderia ser um símbolo das poucas medidas tomadas pelos políticos em relação à dimensão dos incêndios. O ar na capital australiana está tão poluído, que os moradores foram instados a ficar em casa.
Foto: Imago-Images/AAP/L. Coch
Acusações contra Scott Morrison
O primeiro-ministro é alvo de críticas porque, mesmo quando os incêndios já haviam começado, viajou de férias com a família para o Havaí. Hoje, ele não nega mais a influência humana nas mudanças climáticas, mas continua do lado da indústria do carvão. Em fotos nas redes sociais, há muitos se negam a apertar a mão de Scott Morrison, manifestando sua insatisfação com a gestão da crise.
Foto: AFP/J. Ross
Homenagem póstuma
O trabalho dos bombeiros é perigoso. Geoffrey Keaton morreu numa missão. Quando foi enterrado, em 2 de janeiro, seu filho recebeu uma Ordem de Mérito em nome do pai. Três bombeiros já morreram na temporada de incêndios deste ano.
Foto: Reuters/NSW RURAL FIRE SERVICE
Animais são vítimas
Esse coala foi salvo, mas muitos outros animais, não. Para os coalas, os incêndios são particularmente arrasadores porque instintivamente eles se escondem dentro das árvores e fogos rasteiros não os atingem. Mas os atuais incêndios violentos chegam até as copas das árvores e os matam. Numa área em que sua população é monitorada há bastante tempo, dois terços dos coalas morreram.
Foto: Reuters/P. Sudmals
Procura por comida
Os animais selvagens que sobreviveram ao fogo no Parque Nacional Wollemi, em Sydney, saem em busca de comida. Mas muitas vezes as chamas deixam apenas troncos carbonizados, como em Old Bar, Nova Gales do Sul. Os aborígines costumavam queimar a vegetação rasteira para conter incêndios provocados pelas intempéries de verão. Muitos australianos querem agora que essa prática seja revivida.
Foto: Imago Images/AAP/J. Piper
Ajuda a quem perdeu tudo
O governo australiano anunciou a criação de uma agência nacional para ajudar os afetados pela catástrofe. O equivalente a 1,2 bilhão de euros será distribuído ao longo de dois anos para agricultores, pequenas empresas e moradores. Milhares perderam suas casas no incêndio, como este homem de Nabiac, situada 350 quilômetros ao norte de Sydney.
Foto: AFP/W. West
Consequências na América do Sul
Uma cortina de fumaça cobre as regiões em fogo, como estas montanhas em East Gippsland, no estado de Victoria. Uma nuvem de fumaça percorreu mais de 12 mil quilômetros e chegou à América do Sul, sendo vista em 6 de janeiro sobre o Chile e a Argentina, e devendo chegar ao Rio Grande do Sul. Segundo o Departamento Meteorológico de Santiago, a fumaça não oferece risco à saúde da população.