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Incerteza em Idomeni após acordo entre UE e Turquia

Panagiotis Kouparanis (av)19 de março de 2016

Entre boatos assustadores e falsas promessas, cidadezinha na fronteira entre a Grécia e a Macedônia simboliza como refugiados sentem na pele as decisões europeias na gestão da crise migratória.

Foto: DW/P. Kouparanis

Na noite de sexta-feira (18/03), reinava a calma em Idomeni. À tarde, depois de serem divulgadas as resoluções de Bruxelas, algumas centenas de migrantes ainda organizaram uma manifestação na cidadezinha grega na fronteira com a Macedônia, exigindo a abertura das fronteiras e dando vivas à Alemanha.

À noite, sobre os trilhos de trem que atravessam o acampamento, uns 30, entre os mais jovens, ainda discutiam em alto e bom som. Devem-se desenvolver mais atividades para forçar a abertura da fronteira? Deve-se permanecer em Idomeni? Vamos ser deportados para a Turquia?

Boatos, suposições, insinuações

Gritos partiam do vizinho setor A – onde as organizações não governamentais mantêm suas bases no acampamento, os médicos trabalham 24 horas por dia e onde, até tarde da noite, as pessoas fazem fila para ganhar um sanduíche. Os gritos vinham da grande barraca número um. Como por toda parte, nela homens, mulheres e crianças dormiam em camas coladas umas nas outras.

Pessoas saíam correndo, as mulheres gritavam, as crianças choravam, adolescentes corriam com barras de ferro na mão. Um senhor explica com gestos: a falta de espaço deixa as pessoas malucas.

Na véspera, um sírio quase foi linchado por afegãos. Sem querer, ele havia aberto a porta do toalete que uma menina de sete anos esquecera de fechar. A criança gritou de susto. A polícia soltou o homem depois de cinco minutos. No acampamento ainda corre a história de que uma menina foi violentada.

A vida no acampamento de refugiados de Idomeni

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Na sexta-feira, após a decisão da União Europeia, o clima era mais calmo nos setores B, C e D, quase pacífico. Por vezes, o coaxar das rãs era o barulho mais alto que se ouvia. Com temperaturas por volta dos 6º C, as pessoas ou estavam deitadas nas barracas e tentavam dormir, ou sentadas diante delas, conversando baixinho em torno da fogueira.

Alguns dias antes, alguns caminhões haviam chegado carregados de lenha. Conta-se que ela foi doada por um milionário nova-iorquino chamado Matteo. A vida dos refugiados em Idomeni é marcada por boatos, suposições, insinuações.

Sonho de ir para o Oeste

Uma meia-dúzia de corajosos ainda consegue imaginar uma tentativa de atravessar a fronteira para a Macedônia, a fim de chegar ao Oeste da Europa. Depois do modo francamente brutal como os militares reconduziram à Grécia os refugiados que haviam atravessado a fronteira na segunda-feira, para muitos esse caminho não é mais uma opção – pelo menos no momento.

Entre os 2 mil que tentaram entrar na Macedônia na segunda-feira está a síria Aisha. Agora, por meio do programa de realocação da UE, ela quer chegar a Hamburgo. Lá vivem seu filho Faisal – há dois anos – e também seu marido – há alguns meses. Durante quatro dias Faisal a visitou no campo de Idomeni, na sexta-feira à noite ele voou de volta, de Tessalônica. Na próxima semana o marido pretende vir. Será que vai dar certo?

O caso não é único. O marido de Nada também está na Alemanha. O sírio foi há dois meses para Berlim com dois dos filhos do casal, ela deveria se unir a eles com os outros dois. Agora os três estão encurralados em Idomeni, sem dinheiro e com a esperança de que a família ainda acabe se reunindo, através do programa de realocação.

Para o estudante de direito Hussein, de Damasco, por outro lado, essa opção parece estar fora de cogitação. Como primeiro passo, os candidatos ao programa devem se submeter a uma entrevista pelo Skype. Para tal todos os interessados em Idomeni dispõem de uma hora, três vezes por semana.

A prioridade cabe às famílias, depois vêm as pessoas com necessidades especiais, depois os menores de idade. Hussein calcula que demorará pelo menos dois anos até chegar sua vez. Ele não sabe o que fazer.

Visita da Alemanha: síria Aisha recebe o filho Faisal no campoFoto: DW/P. Kouparanis

De arranjo provisório a solução permanente

Na quinta-feira a polícia grega distribuiu em Idomeni um panfleto em grego e árabe, instando os refugiados a se mudarem para um dos campos de acolhimento mantidos pelo governo. Lá, dizia-se, as condições são melhores, alojamento e alimentação estão garantidos.

Em Bruxelas, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, renovou essa conclamação: os refugiados de Idomeni deveriam se dirigir aos "campos de acolhimento seguros e humanitários". No entanto, encontram-se repetidamente em Idomeni refugiados que se foram de tais acampamentos oficiais. As condições de vida são ainda piores lá, dizem; além do mais eles estão superlotados.

Tais afirmativas são confirmadas pelas estatísticas oficiais, constantemente atualizadas. O governo prometeu tomar providências, com a abertura de novos campos para os refugiados e a contratação de mais pessoal. Ainda em março, cerca de 2.297 desempregados serão contratados para esse fim, com salários entre 431,75 e 495,25 euros.

MSF providenciou camas para os refugiados em IdomeniFoto: DW/P. Kouparanis

E o que será de Idomeni? Atenas quer reduzir o número de alojados no acampamento, mas não pretende fechá-lo, afirma o ministro de Migração Giannis Mouzalas. Tudo indica que o arranjo provisório se transformará em solução permanente.

A ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF), por exemplo, arrendou outros campos dos agricultores da região, a fim de aterrá-los e aplainá-los. Duas grandes barracas com camas foram disponibilizadas na sexta-feira, outras seguirão. E elas vão ser mesmo necessárias: pois – se as condições nos campos de acolhimento não melhorarem, o programa de realocação da UE não tomar impulso e o tempo não ficar mais ameno – é certo que ainda mais gente virá para Idomeni.

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