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Incertezas levam classe média a fazer as malas na Rússia

Yulia Vishnevetskaya / Markian Ostaptschuk (md)15 de janeiro de 2015

Cada vez mais profissionais especializados querem sair do país em direção ao Ocidente. As razões são não apenas econômicas, mas também políticas. Especialistas falam numa "segunda onda" de emigração russa.

Foto: Fotolia/Peter Atkins

"Esta é uma nova onda", diz Serguei Kuznetsov, que há não muito tempo se mudou para a França com a esposa. Ele é escritor e ela, psicóloga, mas as experiências que fizeram durante a emigração os levaram a iniciar uma atividade completamente nova: dar consultoria a pessoas que decidiram deixar a Rússia.

Eles fundaram no Facebook a comunidade "Chemodan, Vokzal, Kuda?" (mala, estação de trem, para onde?), que já tem mais de 3 mil seguidores. Os potenciais clientes precisam se inscrever numa lista de espera. Embora a consultoria custe 700 euros, a procura é grande. Seus clientes são, na maioria, representantes da classe média russa: trabalhadores altamente qualificados, autônomos e proprietários de pequenas empresas.

Comunidade no Facebook com dicas para quem quer emigrar da Rússia tem mais de 3 mil seguidoresFoto: facebook.com

Novos emigrantes políticos

De acordo com Kuznetsov, os emigrantes temem sobretudo um futuro incerto na Rússia. Ele afirma que as pessoas estão muito pessimistas sobre as perspectivas econômicas e os sistemas de educação e saúde. Ainda maiores seriam as preocupações com o desenvolvimento pessoal. Na Rússia, eles não estariam mais vendo oportunidades para realização profissional.

Kuznetsov ressalta ser curioso que seus clientes tenham decidido deixar o país no início de 2015. "Na verdade, essas pessoas não querem emigrar. Eles só estão saindo por causa dos acontecimentos políticos no país", diz. Ele acredita ser essa a principal diferença entre a "nova onda" e os emigrantes de anos anteriores, que deixaram a Rússia por motivos econômicos.

Canadá, Austrália e Estados Unidos

Entre os clientes dos Kuznetsov, a preferência é, principalmente, por destinos tradicionais de imigração, como Canadá, Austrália e Estados Unidos. Mas países europeus, como a Alemanha e a França, também são populares. Só depois vêm os países eslavos do Leste Europeu, mais familiares aos russos e onde já foram introduzidas as principais normas europeias.

"Independentemente do destino, meus clientes procuram seu novo lar de forma sóbria e refletida. Eles não têm ilusões e são muito conscientes das dificuldades e do que os espera", sublinha Kuznetsov.

Boas oportunidades para programadores

Programadores teriam pouca dificuldade em encontrar um emprego no exterior, segundo Kuznetsov, já que entre seus clientes não há um único representante dessa profissão. Ele acredita que eles não precisem desse tipo de ajuda.

Ekaterina Warga, especialista em pessoal da Escola Superior de Economia de Moscou, confirma essa avaliação. Segundo ela, peritos altamente qualificados têm boa chance de encontrar um emprego no Ocidente. "Entre eles estão, principalmente, programadores e cientistas. Os médicos têm muito mais dificuldade", destaca. "As condições da formação de médicos nos EUA e na Europa ainda diferem muito das existentes na Rússia." Mas ela destaca que há exceções. Enfermeiros são muito procurados porque estariam em falta nos países desenvolvidos.

Emigrar por causa de Putin

A programadora Margarita Krasnoselskaya também espera conseguir um bom emprego no exterior. No segundo semestre do ano passado, a mãe de três filhos decidiu emigrar com a família. Ela vendeu seu apartamento em Moscou e depositou o dinheiro num banco europeu. Agora cuida da papelada. "Estou esperando o reconhecimento de minhas qualificações pelas autoridades alemãs. Se a decisão for positiva, recebemos uma permissão de trabalho e podemos ir para a Alemanha." Margarita também tem um plano alternativo: fazer um curso de mestrado num país de língua inglesa e ficar por lá depois da formatura.

A programadora Margarita Krasnoselskaya quer sair do país o mais rápido posssívelFoto: Privat

"Quando Putin declarou que há traidores entre nós, eu passei a pensar que eu e a minha minha família estamos em perigo. Podemos não ser militantes políticos, mas também não somos defensores do regime", afirma Margarita. Ela quer deixar a Rússia o mais rapidamente possível, embora ainda não saiba para onde.

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