Incredulidade e silêncio predominam na cidade do copiloto
Elizabeth Schumacher (lpf)27 de março de 2015
Na pequena Montabaur, no oeste da Alemanha, ninguém parece acreditar que Andreas Lubitz tenha derrubado de propósito o voo 4U-9525 da Germanwings.
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Montabaur, terra do copiloto da Germanwings Andreas Lubitz, no estado alemão da Renânia-Palatinado, seria praticamente desconhecida se não estivesse conectada ao sistema ferroviário de alta velocidade do país.
Seu centro histórico medieval e idílico é como muitos outros na Alemanha, com uma prefeitura de arquitetura gótica e casas no estilo enxaimel. A característica mais marcante da pequena localidade é o amarelo castelo barroco com vista para o centro.
A grande quantidade de policiais que lá desembarcaram nesta quinta-feira (26/03) era desproporcional para a pequena cidade de 12 mil habitantes. Ninguém parecia acreditar que alguém de Montabaur pudesse ter matado 149 pessoas e a si mesmo intencionalmente, segundo indicaram trechos de áudio da caixa-preta do voo 4U-9525.
"Você está aqui por causa do copiloto?", pergunta uma senhora. "É triste demais."
O nome de Lubitz estava na boca de todos em sua cidade natal, onde seus pais ainda vivem e onde o jovem copiloto mantinha seu endereço permanente – algo comum na Alemanha, mesmo depois que os filhos saem de casa. Ele aprendeu a pilotar um planador num aeroclube nas redondezas de Montabaur, diz um taxista, horrorizado com o fato que trouxe notoriedade ao local.
Na prefeitura, as autoridades se recusam a fazer comentários sobre Lubitz. "Não o conhecíamos, isso é assunto para a polícia", declarou o gabinete do prefeito Klaus Mies.
O clima no bairro onde Lubitz vivia é parecido. A única movimentação nas ruas é das hordas de jornalistas vindos de todos os cantos do mundo e da polícia, encarregada de impedir que repórteres chegassem perto demais da casa da família durante buscas na residência. Segundo vizinhos, os pais do copiloto estavam na França, no local do desastre.
O silêncio dominava a área. Todas as casas estavam escuras, sem sinal de movimento em seu interior. Os poucos vizinhos que ousaram sair à rua ou atender a campainha disseram não serem próximos da família Lubitz, mas que eles pareciam ser boa gente. Adjetivos como bom e benquisto foram usados repetidamente.
Em toda a Alemanha, reinou nesta quinta-feira um sentimento de incredulidade. "Você nunca pensa que algo assim possa afetar sua vida ou a de alguém próximo. Como essa família poderá voltar a ter paz?", questiona um morador de Montabaur.
Cronologia do desastre do voo 4U-9525
Airbus A320 da Germanwings caiu nos Alpes franceses 40 minutos após decolar de Barcelona, numa tragédia que investigadores tratam como um ato deliberado do copiloto. Uma cronologia com base nas primeiras investigações.
Foto: D. Bois/AFP/Getty Images
Decolagem com atraso
O voo 4U-9525, da companhia aérea alemã Germanwings, decola do aeroporto de Barcelona por volta das 10h00 (horário local), de 24 de março de 2015, com cerca de 20 minutos de atraso. O Airbus A320-211, com 24 anos de uso, deveria chegar às 11h55 em Düsseldorf. Havia 150 pessoas a bordo, a maioria delas alemães e espanhóis.
Foto: picture-alliance/dpa/Ole Spata
Vinte minutos sem problemas
Durante os 20 primeiros minutos, o voo é normal. O ambiente entre piloto, copiloto e tripulação foi descrito pelos investigadores franceses, com base no áudio de uma das caixas-pretas, como descontraído e relaxado.
Foto: picture-alliance/dpa/Ole Spata
Voo de cruzeiro
Às 10h20, o avião da Germanwings alcança a altitude de cruzeiro, de 38 mil pés (11,5 quilômetros). É a fase na qual a aeronave viaja de forma reta e nivelada, na velocidade máxima que pode atingir de modo a consumir o mínimo de combustível possível.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Vennenbernd
Último contato
Às 10h30, o avião faz o último contato com o controle aéreo. Um dos pilotos diz: "Direção IRMAR. Obrigado, 18G." A sigla é uma indicação de que a cabine recebeu dos controladores a autorização para prosseguir a rota direta até "IRMAR", próximo ponto em que o A320 deveria fazer contato. Já 18G é a abreviatura do indicador de rádio do voo.
Foto: picture-alliance/dpa/Airbus_Industrie
Piloto trancado fora da cabine
Às 10h31 o avião começa a perder altitude, quando deveria manter-se em fase de cruzeiro. Na cabine fechada, estava apenas o copiloto Andreas Lubitz, de 28 anos. A caixa-preta registra chamadas de interfone, em que o piloto se identifica tentando entrar, mas sem receber qualquer resposta. Captada pelos microfones, a respiração de Lubitz é normal.
Foto: Reuters/L. Foeger
Copiloto em silêncio
Às 10h35, a agência de aviação civil francesa lança um sinal de alerta, ao perceber a perda de altitude contínua da aeronave. Um caça Mirage 2000 decola da base militar de Orange para alcançar o voo da Germanwings. Durante cerca de cinco minutos, o piloto golpeia a porta da cabine, de forma cada vez mais violenta, na tentativa de entrar. O copiloto (foto) se mantém em silêncio.
Foto: picture alliance/AP Photo
Desespero de passageiros
O transponder do A320, que envia automaticamente informações sobre sua localização, para de emitir sinais às 10h40. A caixa-preta registra a ativação do sistema de alerta sonoro do avião, que indica impacto imediato. Nos instantes finais, passageiros começam a gritar.
Foto: picture-alliance/dpa/F. Christiansen
Queda nas montanhas
Cerca de 40 minutos após decolar, o A320 se choca contra o maciço de Trois Evêchés, numa zona não habitada dos Alpes franceses. Todos os 144 passageiros e seis tripulantes morrem, num dos maiores desastres aéreos da história na Europa. Entre os mortos, estão pessoas de 15 nacionalidades, incluindo 16 adolescentes da mesma escola de uma pequena cidade no oeste da Alemanha.