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Cinema

25 de maio de 2009

Vários filmes coproduzidos pelas fundações alemãs de fomento ao cinema foram premiados em Cannes. Palma de Ouro para produção berlinense, dirigida pelo austríaco Michael Haneke, é festejada no meio cinematográfico.

'Das weisse Band' (A Fita Branca): autoritarismo da era guilhermina como semente do nazismoFoto: picture-alliance/ dpa

Os representantes da indústria cinematográfica alemã saíram de Cannes com um sorriso no rosto este ano. "É absolutamente inacreditável", comentou Stefan Arndt, produtor berlinense de Das weisse Band (A fita branca), longa dirigido pelo austríaco Michael Haneke e premiado no festival francês com a Palma de Ouro. "É fabuloso estar aqui e ver um júri internacional destacar um filme alemão, com uma história alemã, perante o mundo todo", diz Arndt.

Segundo o produtor, tudo indica que o interesse por assuntos ligados à história da Alemanha seja grande. A produtora de Arndt, X-Filme, é a mesma de grandes sucessos de público dos últimos anos, como Adeus, Lênin e Corra, Lola, Corra. Haneke realizou praticamente todo o filme na pequena localidade de Netzow, no estado de Brandemburgo.

A vez das produções alemãs

Para Kirsten Niehuus, diretora da Fundação de Fomento ao Cinema de Berlim-Brandemburgo, os prêmios aos longas coproduzidos pela Alemanha "dão continuidade a uma série de filmes de sucesso realizados em Berlim e Brandemburgo, além de demonstrarem a importância da capital alemã como polo cinematográfico de formato internacional".

O diretor austríaco Michael Haneke (centro), com a Palma de Ouro na mãoFoto: AP

O diretor da Fundação de Fomento ao Cinema da Renânia do Norte-Vestfália, Michael Schmidt-Ospach, resumiu com entusiasmo o festival de Cannes deste ano: "Foi a vez da Alemanha".

Além do filme de Haneke, os prêmios de melhor ator também foram para produções com participação da Alemanha: Antichrist, de Lars von Trier (prêmio de melhor atriz para Charlotte Gainsbourg) e Inglourious Basterds, de Quentin Tarantino (prêmio de melhor ator para Christoph Walz).

A "nacionalidade" de um filme é, contudo, algo que já está mais que ultrapassado para boa parte da indústria cinematográfica. "A preoocupação, sobretudo da mídia alemã, se um filme é ou não 'alemão', é completamente obsoleta. Vivemos hoje num mundo globalizado, numa Europa globalizada, onde praticamente todos os filmes são coproduções", resume Christian Berg, da fundação berlinense.

Pedagogia negra

Das weisse Band é um drama impressionante, em preto-e-branco, que se passa num povoado do norte alemão no período que antecedeu a Primeira Guerra Mundial. Os membros de um coro infantil e suas famílias são confrontados com alguns acidentes misteriosos. A conduta dos adultos em relação às ameaças iminentes deixa entrever uma educação autoritária e rígida, que vai sendo passada de geração a geração.

Autoridade e hipocrisia: personalidades deformadasFoto: picture-alliance/ dpa

O universo retratado na tela é permeado pela "pedagogia negra" da era guilhermina (1890-1918), pela autoridade absoluta e incontestável dos patriarcas, pelo princípio do castigo através de surras "purificadoras", pela fé rigorosa, ao lado de muita hipocrisia e um desprezo completo pela mulher. Um conjunto de fatores que acaba dando origem a personalidades infantis deformadas.

As razões do horror

Desta forma, Haneke esquadrinha, nas entrelinhas, as raízes dos horrores da Segunda Guerra, questionando indireta e sutilmente se essas crianças, vítimas de uma educação autoritária e violenta, teriam sido especialmente suscetíveis ao nazismo 20 anos mais tarde.

Haneke, porém, não dá respostas às perguntas que lança na tela. Na Alemanha, acentua o diretor, o tema de seu filme pode ser visto como "nacional", embora faça, a princípio, uma abordagem universal. "Ao deixar a sala de cinema, o espectador se pergunta angustiado de que tipo de fascismo ainda seríamos capazes hoje", escreve o diário francês Libération.

SV/dpa/ap/dw

Revisão: Simone Lopes

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