Indústria preparada para a guerra
14 de fevereiro de 2003O preço do petróleo subiu nas últimas semanas nos mercados internacionais, diante do temor de uma guerra contra o Iraque. Em Londres, atingiu US$ 32,78 dólares na última quarta-feira (12/02), registrando um aumento de 41 centavos em um dia, o mais alto desde novembro de 2000. O agravamento da situação política acarretou um "suplemento de crise" de dois dólares, segundo Karl-Heinz Schult, da ExxonMobil, em Hamburgo. Os preços refletem as expectativas do mercado.
Um relatório da Agência Internacional de Energia (IEA), divulgado na mesma data, teria atiçado as preocupações de que venha a faltar petróleo em caso de guerra. A IEA expressou o temor de que as reservas dos países exportadores de petróleo sejam insuficientes para compensar uma interrupção dos fornecimentos iraquianos. No entanto, a agência observa que uma demanda menor no segundo trimestre, motivada por efeitos sazonais, poderia contribuir para aliviar o impasse.
UE não vê riscos e adverte contra histeria
A comissária de Energia da União Européia, Loyola de Palacio, atribuiu à especulação os últimos aumentos dos preços do petróleo. "Não há nenhum risco de interrupção de fornecimentos", disse a comissária, que vê garantido o abastecimento na Europa, apesar da crise do Iraque. Apenas 3% das importações de petróleo da UE provêm do país de Saddam Hussein.
Os Estados Unidos, onde o consumo de óleo para aquecimento aumentou nos últimos meses, é que poderiam ser mais afetados. No entanto, um aumento das exportações da Arábia Saudita resolveria o problema. Na Europa, a alta da cotação do euro frente ao dólar reduz os efeitos negativos do aumento dos preços do petróleo na conta das importações. Loyola de Palacio advertiu contra uma histeria, mas recomendou aos membros da UE que ampliem suas reservas.
Alemães diminuíram dependência da Opep
Uma guerra contra o Iraque não teria conseqüências dramáticas para o abastecimento da Alemanha, avaliam as indústrias do petróleo e derivados, reunidas na federação MWV. A Alemanha importa hoje apenas 22% de petróleo dos países membros da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). Em 1975, tais importações chegavam a 90% do total.
Depois da crise do petróleo nos anos 70, a Alemanha tratou de diversificar seus fornecedores e reduzir sua dependência da Opep. Atualmente, 30% vêm da Rússia, 21% da Noruega e 11% da Grã-Bretanha. A federação diz que os preços hoje são determinados por fatores psicológicos e lembra que, na Guerra do Golfo, no início dos anos 90, o preço do barril subiu por pouco tempo a mais de 40 dólares, para depois cair continuamente, ao se constatar que não houve impasse no fornecimento.
Economia de energia e substituição de fontes
A Alemanha importa 9 milhões de toneladas de petróleo por mês. As importações totalizaram 105 milhões de toneladas no ano passado. A isto somam-se mais 35 milhões de toneladas de derivados de petróleo como gasolina, óleo leve e pesado para calefação, gás líquido, combustível para aviões e outros. De 2001 a 2002 a conta das importações de petróleo teve um acréscimo de um terço.
Enquanto os motoristas reclamam de cada centavo pago a mais na hora de encher o tanque, a indústria alemã encara os aumentos com certa tranqüilidade. As indústrias aprenderam a lição do passado e fizeram alterações. Se nos anos 70 sua dependência energética do petróleo era de 30%, a porcentagem agora é menor, expõe Wolfgang Mülkens, especialista em energia da Confederação das Indústrias Alemãs (BDI): "A indústria passou a economizar energia em geral e petróleo em particular. Assim, começou a substituir petróleo por gás e até eletricidade em determinados processos."
Reservas para 90 dias
A indústria alemã está mais preocupada com o imposto ecológico - sobre a gasolina, gás e óleo - em nível nacional, pois ele representa uma desvantagem frente à concorrência estrangeira, enquanto a alta do petróleo atinge todos igualmente. Não deixa de existir, porém, uma certa preocupação quanto aos efeitos da alta do petróleo sobre a conjuntura, que entrou numa fase de desaquecimento, da qual não consegue sair. Baseado no fato de que a alta do preço do petróleo foi maior na fase que antecedeu a Guerra do Golfo de 1991, Mülkens conta com uma diminuição, a partir do momento em que eclodir a guerra.
De momento não se pode falar de uma crise do petróleo. E se esse for o caso, encontrará a Alemanha bem preparada, pois o país estabeleceu os primeiros depósitos em 1966 e desde 1978 existe uma lei que obriga os importadores de petróleo, refinarias e fabricantes de derivados a armazenar o suficiente para suprir as necessidades do país durante 90 dias. Mesmo em caso de guerra, explica o especialista, não vão parar de jorrar todas as fontes. Isso significa que se recorrerá apenas a uma pequena parte dos depósitos para suprir esse déficit. Em outras palavras, a quantia armazenada deve durar bem mais que 90 dias.