1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Independência suspensa prorroga tensão na Catalunha

11 de outubro de 2017

Discurso ambíguo de líder catalão provoca leituras contraditórias e abre brecha para divergências entre independentistas. Governo espanhol pede clareza e afirma que nível de incerteza na região é o maior da história.

Katalonien-Krise Mariano Rajoy Spanien
Rajou discursa sobre a crise na CatalunhaFoto: picture-alliance/dpa/P. White

O aguardado discurso do presidente do governo da Catalunha, Carles Puigdemont, no Parlamento regional nesta terça-feira (10/10) – no qual declarou a independência catalã, mas suspendeu seus efeitos para abrir um processo de diálogo com Madri – provocou leituras contraditórias e abriu brechas com os seus aliados.

Milhões de catalães, incluindo os seus mais próximos aliados políticos, esperavam que Puigdemont declarasse unilateralmente a independência da região, com efeitos imediatos e práticos, dando seguimento à vitória do "sim" no referendo de 1º de outubro, considerado ilegal pela Justiça espanhola.

Por outro lado, milhões de outros catalães e demais espanhóis esperavam que Puigdemont renunciasse à independência, uma exigência do governo de Madri, e convocasse eleições regionais antecipadas – sugestão do principal partido da oposição, o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE).

Puigdemont suspendeu efeitos da declaração de independência para empreender diálogo com MadriFoto: Getty Images/AFP/L. Gene

Em seu pronunciamento, Puigdemont não fez nem uma coisa nem outra. No decorrer do discurso de cerca de 25 minutos, em catalão mas com partes em espanhol, o líder disse que assume o "mandato do povo" para que a Catalunha seja um "Estado independente, sob a forma de república".

A frase foi recebida com um aplauso no Parlamento regional e nas ruas de Barcelona, repletas de milhares de independentistas que se preparavam para celebrar o "dia histórico" anunciado nas redes sociais.

Mas, em seguida, Puigdemont anunciou que ele próprio e o seu governo propunham que o parlamento "suspendesse os efeitos da declaração de independência" para empreender "um diálogo [com o governo em Madri], sem o qual é impossível alcançar uma solução acordada". 

O governo espanhol considerou inadmissível "fazer uma declaração de independência implícita para de imediato deixá-la em suspenso de forma explícita".

Nesta quarta-feira, o presidente do governo da Espanha, Mariano Rajoy, ameaçou suspender a autonomia da Catalunha e pediu ao presidente do governo regional que esclareça se declarou ou não a independência. 

"O Conselho de Ministros concordou em enviar um pedido formal ao governo da Generalitat [governo regional catalão] para que confirme se declarou a independência da Catalunha", disse Rajoy, numa breve declaração transmitida pela televisão.

Manifestação pró-independência em Barcelona, nesta terça-feiraFoto: picture-alliance/AP Photo/F. Seco

Rajoy voltou a ameaçar desencadear o processo de suspensão da autonomia, com a ativação do artigo 155 da Constituição espanhola, mas frisou que é preciso que o governo autônomo esclareça a sua posição para que Madri possa decidir que medidas tomar.

Esta foi a primeira vez que Rajoy mencionou abertamente que o artigo 155 será o próximo passo adotado pelo governo central caso as autoridades catalãs não recuem. O artigo em questão, nunca usado, prevê a suspensão da autonomia e dá ao governo central poderes para adotar "as medidas necessárias" para repor a legalidade. 

Mais tarde, em comparecimento no Parlamento em Madri, Rajoy descartou qualquer mediação num processo marcado "pela desobediência" e frisou que "não existe um país democrático do mundo" que tenha levado "minimamente a sério" o referendo realizado pelos catalães.

Tensão e incerteza

Diante do pedido de negociação com Madri, a vice-presidente do governo da Espanha, Soraya Sáenz de Santamaría, afirmou que o diálogo com a região deve ocorrer dentro da lei.

"Nem Puigdemont nem ninguém pode reivindicar a imposição de uma mediação. Qualquer diálogo entre democratas tem que ser realizado dentro da lei", afirmou Santamaría.

Ela declarou ainda que Puigdemont elevou o nível de incerteza e de tensão na Catalunha ao maior da história. "É uma pessoa que não sabe onde está, aonde vai e com quem quer ir", acrescentou.

Para o jornalista Joaquín Luna, do diário La Vanguadia, de Barcelona, a situação é "uma piada". "Todos nos perguntamos o que isso significa. Tudo depende agora de o governo de Madri partir do princípio que Puigdemont declarou ou não declarou independência", disse. 

Independentistas assinam declaração 

A ausência de uma declaração de independência clara e a suspensão dos efeitos motivou uma reação forte de um dos principais aliados do governo regional, o partido de extrema esquerda Candidatura de Unidade Popular (CUP).

"Acreditávamos que hoje [terça-feira] era dia de proclamar solenemente a República catalã, e talvez, dizemos talvez, tenhamos perdido uma oportunidade histórica", disse no parlamento a deputada da CUP Anna Gabriel.

"Esta proclamação solene da república não chegou, e nós soubemos disso uma hora antes de começar o plenário, e por isso não podemos aceitar esta suspensão" dos efeitos, realçou.

Entenda a crise na Catalunha

02:31

This browser does not support the video element.

Face às dúvidas e à insatisfação liderada pela CUP, surgiu uma nova iniciativa: os 72 deputados independentistas – 62 da Junts pel Sí e 10 da CUP – assinaram uma declaração na qual se "constitui a República da Catalunha" como "Estado independente e soberano".

Intitulado "Declaração dos Representantes da Catalunha", o documento indica que a "Catalunha restaura a sua plena soberania, perdida e largamente sonhada, depois de décadas a tentar honestamente e lealmente a convivência institucional com os povos da península ibérica".

"Constituímos a república catalã como Estado independente e soberano, de direito, democrático e social", salienta a declaração, que não refere grupos parlamentares nem tem o timbre ou cabeçalho do parlamento regional. Os signatários também incluíram na declaração um apelo "aos Estados e às organizações internacionais para que reconheçam a República catalã como Estado independente e soberano".

O referendo na Catalunha deu vitória ao "sim" pela independência, com 90% dos votos. Porém, o comparecimento foi de apenas 43%. A votação ocorreu contra a vontade de Madri e considerada ilegal pela Justiça espanhola.

PV/lusa/efe/afp/rtr/ap/dpa

Pular a seção Mais sobre este assunto
Pular a seção Manchete

Manchete

Pular a seção Outros temas em destaque