Indianas desafiam tabu de séculos por igualdade de gênero
2 de janeiro de 2019
Pela primeira vez em séculos, duas indianas ingressam em templo hindu no sul do país, gerando manifestações de tradicionalistas indignados. Um dia antes, corrente humana em apoio à causa reuniu 5 milhões de mulheres.
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O sul da Índia foi palco de protestos violentos por parte de tradicionalistas hindus nesta quarta-feira (02/01), após duas mulheres terem entrado num dos mais importantes templos do hinduísmo no país – até pouco tempo atrás proibido para mulheres de entre 10 e 50 anos de idade.
Manifestantes fecharam vias públicas, atearam fogo em objetos e fizeram atos em frente a prédios do governo em protesto contra a presença de mulheres no local sagrado, o templo Sabarimala, localizado no estado indiano de Kerala.
A imprensa local relatou que policiais usaram gás lacrimogêneo e canhões de água para conter manifestantes na capital do estado, Thiruvananthapuram. Segundo a polícia, alguns dos participantes atiravam pedras contra as forças de segurança.
Também houve relatos de confrontos entre dois grupos políticos rivais: o direitista Partido do Povo Indiano (BJP, na sigla em inglês), do primeiro-ministro Narendra Modi, que se opõe à entrada de mulheres no templo Sabarimala, e o esquerdista Partido Comunista da Índia (CPI), que governa Kerala e apoia o direito das mulheres de usarem o local.
Os líderes do BJP ficaram indignados com o fato de duas mulheres terem entrado no templo hindu nesta quarta-feira, tornando-se as primeiras desde que a Suprema Corte suspendeu, em setembro de 2018, a proibição imposta a mulheres em idade menstrual, consideradas impuras.
"Duas mulheres entraram no templo Sabarimala. Enviamos ordens à polícia para que proporcionasse toda a proteção possível a qualquer mulher que queira entrar no templo", afirmou o chefe de governo do estado de Kerala, Pinarayi Vijayan.
Vestidas de preto e com as cabeças cobertas por lenços, as mulheres, na faixa dos 40 anos, entraram no templo durante o amanhecer escoltadas por vários agentes de segurança, entre uma multidão de homens, após terem realizado uma caminhada de cinco quilômetros desde a cidade de Pamba.
Desde setembro, quando o veto de séculos atrás foi suspenso, dezenas de mulheres tentaram sem sucesso terminar a peregrinação a Sabarimala e foram impedidas de ingressar no local por centenas de devotos e manifestantes de grupos hindus de extrema direita.
Na terça-feira, centenas de milhares de mulheres participaram de um protesto em Kerala, convocado pelo governo, em apoio à igualdade de gênero e ao direito das mulheres de orarem no templo. Segundo o Partido Comunista da Índia, cerca de 5,5 milhões de mulheres formaram uma corrente humana que chegou a mais de 600 quilômetros de extensão.
Para 1 bilhão de hindus, ele é um local sagrado, para 400 milhões de cidadãos, uma fonte de água. No entanto, apesar de décadas de avisos e iniciativas, a poluição do rio Ganges segue avançando.
Foto: Reuters/D. Siddiqui
Preces à "Mãe Ganges"
O Ganges flui por mais de 2.600 km, desde as montanhas do Himalaia até o Oceano Índico. O rio tem muitas faces: fonte de água potável, local de banhos, garantia de trabalho, sítio de peregrinação, deusa, cemitério. Todos os dias, milhares de hindus mergulham em suas águas para se lavar dos pecados. Muitos querem morrer nele. Nas margens, os fiéis oram regularmente à "Mãe Ganges".
Foto: Reuters/D. Siddiqui
Onde a água ainda é clara
Lokesh Sharma é um desses fiéis: o sacerdote de 19 anos mora na aldeia de Devprayang, nas montanhas do estado de Uttarakhand, onde os rios Bhagirathi e Alaknanda confluem para formar o Ganges. "Nunca pensei em ir embora e me estabelecer em outro lugar", diz ele. Devprayang é uma das poucas regiões onde as águas do Ganges ainda são claras.
Foto: Reuters/D. Siddiqui
Fator poluidor: ser humano
Em seu caminho através da Índia e Bangladesh, o Ganges passa tanto por lugarejos mínimos quanto por metrópoles. Em Kolkata, com seus 14 milhões de habitantes, a água do rio é turva. Ainda assim, é utilizada diariamente para se banhar, lavar roupa e escovar os dentes, o que contribuiu para elevar ainda mais a poluição.
Foto: Reuters/D. Siddiqui
Lixão sagrado
Em alguns trechos, a contaminação com substâncias tóxicas é tão alta que o banho representa perigo. Muitas pessoas, pequenas empresas e fábricas utilizam a via fluvial como depósito de lixo. Além disso, milhares de mortos são cremados anualmente e suas cinzas, lançadas ao rio. Embora o governo indiano tenha iniciado medidas de saneamento já em 1985, o processo de poluição continua avançando.
Foto: Reuters/D. Siddiqui
Esgotos perigosos
As águas usadas pelas indústrias e lançadas no rio representam um perigo para a saúde. Dos quase 5 milhões de litros de esgoto que vão parar diariamente no leito do Ganges, menos de um terço é tratado. Em Kampur, a indústria do couro canaliza substâncias químicas diretamente para o rio. Essa é a causa da espuma que se forma frequentemente em sua superfície.
Foto: Reuters/D. Siddiqui
Biodiversidade minguante
Num trecho próximo a Kampur, o Ganges está tão poluído que a água é avermelhada. O rio tem carência crônica de oxigênio, muitas espécies animais estão ameaçadas de extinção, e o estoque de peixes cai continuamente. Por exemplo, a população do golfinho-do-Ganges caiu de 5 mil, nos anos 1980, para os atuais 1.800, segundo dados da ONG ambientalista WWF.
Foto: Reuters/D. Siddiqui
Fracasso da política
A lenta morte do rio Ganges é conhecida há décadas, mas a política indiana pouco pôde fazer até hoje. O governo do primeiro-ministro Narendra Modi anunciou a construção de novas estações de tratamento, além da transferência de 400 fábricas situadas nas margens. No entanto, o cronograma da medida, orçada em 3 bilhões de dólares, não está sendo cumprido.