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Indignados espanhóis trocam protestos por ações sociais

18 de setembro de 2012

Antes de o movimento anticapitalismo Occupy se espalhar pelo mundo, os chamados "indignados" montavam suas barracas no centro de Madri, na Espanha. Muitos deles são hoje assistentes sociais voluntários.

Foto: Colin Brooks

Para muitos observadores estrangeiros, o movimento popular de 15 de maio de 2011, que levou o povo espanhol às ruas e acabou se espalhando pelo mundo, parece ter fracassado. Mesmo na Espanha, o 15-M, como é chamado, não desperta mais a mesma atenção de antes.

"Eles não quiseram se aliar a nenhum grupo político, isso os dispersou", diz o escritor e representante para questões culturais do partido Unión Progreso y Democracia (UPyD), Leon Arsenal. Mas ele concorda que as manifestações de 15 de maio de 2011 deram origem aos protestos mundiais do movimento Occupy. "Foi a primeira vez que a Espanha foi pioneira em alguma coisa."

Trabalho voluntário

O partido de Arsenal persegue os mesmos objetivos dos "indignados", como os manifestantes do 15-M também são conhecidos: maior participação da sociedade civil nos processos de decisão política, estruturas estatais mais simples e mais transparência. Mas, enquanto o seu partido de centro-direita cresceu nos últimos meses, o 15-M parece estar cada vez menos presente na sociedade.

As agências de classificação de risco são alvo do movimentoFoto: Colin Brooks

Mas isso é apenas aparência. Após os acampamentos e canções de protesto iniciais, que começaram na praça Puerta del Sol, em Madri, hoje os milhares de voluntários seguem os mesmos objetivos, trabalhando principalmente nos bairros mais pobres das grandes cidades.

"O 15-M tornou-se um movimento de assistentes sociais voluntários", diz a porta-voz e coordenadora Ruth Martínez. A jornalista de 33 anos, que fez mestrado em letras e literatura medieval, é ela própria uma das vítimas da crescente taxa de desemprego em seu país, hoje em torno dos 24%.

Família como apoio social

A Espanha não tem os mesmos benefícios sociais que países mais ricos, como a Alemanha. O salário médio da faixa etária entre 20 e 45 anos é de 1.000 a 1.500 euros. Dessa forma, a família acaba compensando as injustiças sociais. Muitos jovens vivem na casa dos pais até o casamento, por exemplo. Mas também as famílias, por causa da crescentes dívidas, chegaram ao limite. "Nós tentamos ajudar", diz Martínez.

Milhares de advogados, professores e médicos, que simpatizam com o movimento, oferecem seu trabalho gratuitamente. Muitos deles também estão desempregados. Profissionais ajudam os necessitados a fazer a declaração de imposto de renda e prestam assistência a pessoas em situação de despejo.

É por isso que é tão importante o trabalho do 15-M em bairros como o Lavapies, em Madri, onde vivem muitos imigrantes. Eles protestam em bancos e repartições públicas, acompanham as pessoas que estão em necessidade.

Os "indignados" atuam principalmente na área socialFoto: Colin Brooks

Ocupação de casas e assembleias populares

Assembleias populares estão sendo organizadas por todos os lados. "Nós fazemos o que o governo e também a mídia perderam a oportunidade de fazer. Claro que ocupamos casas que estão vazias. Isso porque não achamos justo que famílias fiquem simplesmente jogadas nas ruas pelo fato de os bancos lhes terem imposto hipotecas muito altas", afirma Martínez.

Recentemente, a Justiça aceitou uma ação movida pelo 15-M contra o Banco Bankia, que foi à falência. Assim, alguns dos responsáveis terão que se justificar perante um tribunal.

"Reduzimos as manifestações porque agora a polícia na Espanha intervém fortemente e protestos com mais de dez pessoas, não registrados com antecedência, são passíveis de multa. Mas isso não significa que saímos de cena em âmbito global". Assim, o 15-M e seus muitos subfóruns vão participar da ação mundial "Global Noise" no dia 15 de outubro, organizada pelo movimento Occupy.

Para Ignasi Carreras Fisas, diretor da divisão de inovação social da escola superior de administração de empresas Esade, em Barcelona, o 15-M é um grande sucesso, mesmo que a partir dele não tenha surgido nenhuma força política responsável por mudanças radicais na sociedade.

"Tradicionalmente, fóruns de protesto como esse têm pouco êxito na Espanha, por causa dos muitos movimentos de independência regionais. Com isso, poucos são capazes de agir em âmbito nacional. O 15-M e os 'indignados' conseguiram, apesar disso, alcançar algo", conclui Fisas.

Autora: Stefanie Cláudia Müller (fc)
Revisão: Carlos Albuquerque

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