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Indultos de Putin dão chance à reaproximação entre Moscou e Berlim

Monika Griebeler (rc)23 de dezembro de 2013

Libertação do antigo homem mais rico da Rússia é aplaudida por Merkel e outros políticos alemães. Mas degelo total na relação entre os dois países, arranhadas nos últimos anos, ainda é desafio.

A chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente da Rússia, Vladimir PutinFoto: picture alliance/Russian Look

Nos últimos meses, as relações entre Berlim e Moscou se viram ainda mais arranhadas. No centro das discussões, as controversas reformas democráticas e a questão dos direitos humanos na Rússia. Em segundo plano, o imbróglio em torno da Ucrânia também colaborou para acirrar os ânimos – o presidente russo, Vladimir Putin, torpedeou a aproximação entre Kiev e a União Europeia.

Em meio às turbulências, o presidente alemão, Joachim Gauck, já anunciou que não viajará à Rússia para os Jogos Olímpicos de Inverno, na cidade de Sochi. Mas a anistia concedia por Putin a seu maior adversário político, o ex-magnata do petróleo e antigo homem mais rico do país Mikhail Khodorkovsky, pode dar novo viço à relação bilateral.

A chanceler federal alemã, Angela Merkel, viu com bons olhos o gesto de Putin, e o novo ministro do Exterior, Walter Steinmeier, afirmou que o perdão foi "um bom sinal".

A libertação de Khodorkovsky, assim como a anistia aos ativistas da organização Greenpeace e da banda Pussy Riot, poderá ser uma nova oportunidade para o estabelecimento de "contatos mais intensos" com Moscou, observa o político Rolf Mützenich, do Partido Social-Democrata (SPD), que compõe a nova coalizão de governo com a União Democrata Cristã (CDU) de Merkel.

Estratégia política

Ainda assim, apagar as manchas nas relações bilaterais não será tarefa fácil. Mützenich, que integra o grupo parlamentar encarregado da política externa e de diretos humanos, já admitiu que ainda não se pode falar em "degelo" nas conversações entre os dois países.

Os indultos concedidos por Putin podem ser apenas de caráter estratégico, além ter extensão limitada. Em apenas sete semanas – no dia 7 de fevereiro – terão início os Jogos Olímpicos de Inverno. As controvérsias em torno do evento têm gerado enormes críticas ao presidente russo, além de ter causado alguns abalos na diplomacia entre Alemanha e Rússia. A relação entre a proximidade dos Jogos em Sochi e a libertação de Khodorkovsky, na visão de Steinmeier, é bastante óbvia.

Khodorkowski (esq.) é recebido em Berlim pelo ex-ministro alemão das Relações Exteriores Hans-Dietrich GenscherFoto: Reuters

O político da CDU Andreas Schockenhoff, por exemplo, lembra que o perdão ao ex-magnata não apaga a forma como seu julgamento foi realizado. "A condenação de Khodorkovsky violou princípios constitucionais fundamentais", afirma. Para Schockenhoff, as críticas ao sistema judiciário russo, fortemente influenciado pela política, têm que continuar.

Na melhor das hipóteses, a situação na Rússia deve permanecer a mesma. O próprio Khodorkovsky afirmou ao jornal The New Times – para o qual ele mesmo escreve – que ainda existem muitos "reféns" nas prisões aguardando libertação.

Entre eles, Platon Lebedev, ex-parceiro de negócios de Khodorkovsky na petrolífera Yukos. Ele foi condenado juntamente com Khodorkovsky, em dois processos que geraram controvérsia internacional, por acusações de fraude e evasão fiscal.

Outros casos

Schockenhoff ressalta que, além dos casos mais conhecidos, como os de Khodorkovsky, das integrantes do Pussy Riot e dos ativistas do Greenpeace, existem "incontáveis prisioneiros sentenciados de modo constitucionalmente questionável e que têm direito a um julgamento justo".

Um destes casos seria o do geólogo Evgeny Vitischko, que pertence a uma organização de ambientalistas que protestou contra os Jogos Olímpicos em Sochi. O processo público contra o grupo Observatório Ambiental do Norte do Cáucaso está em andamento já há algum tempo.

Khodorkowski e seu ex- parceiro na petrolífera Yukos Platon LebedevFoto: picture-alliance/dpa/RIA Nowosti

No mesmo dia em que Khodorkovsky foi libertado, a corte de Tuapse, no sul da Rússia, sentenciou Vitischko a três anos de reclusão em uma colônia penal. A corte argumentou que ele teria violado sua liberdade condicional. A organização declarou que Vitischko se tornou um "preso político dos Jogos Olímpicos".

Portas abertas

"Essas são questões humanitárias às quais devemos prestar atenção", diz Mützenich. "Por outro lado, "precisamos tentar de qualquer modo discutir com os líderes políticos os interesses comuns na política internacional e dar continuidade à implementação dos acordos que fizemos na modernização da parceria."

Schockenhoff concorda que os desenvolvimentos atuais são uma oportunidade que deve ser aproveitada, independentemente da motivação que possa haver por trás das novas medidas do governo russo. "Devemos sempre nos abrir ao entendimento com a Rússia, sempre reforçar a cooperação", declarou.

A abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno em Sochi será no dia 7 de fevereiro de 2014Foto: picture-alliance/dpa

Segundo o político da CDU, Alemanha e União Europeia desejam um Estado russo que combata de fato a corrupção. "E se há alguma evolução na Rússia, devemos exaltar cada passo dado e sempre oferecer nossa parceria na modernização do país." Talvez o mais importante no momento atual seja a disposição das duas partes em melhorar as relações bilaterais.

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