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Influências africanas sobre a língua e a literatura no Brasil em palestra

Carlos Ladeira, de Berlim1 de junho de 2002

Yeda Pessoa de Castro e Moema Parente Augel, falaram em Berlim respectivamente sobre os vestígios das línguas africanas no português falado no Brasil e obras literárias de autoria de afrodescendentes.

Influências lingüísticas – Babá, bagunça, cachaça, caçula, cafuné, capenga, quitute, samba, bunda, sunga, tanga, lengalenga, fubá, fungar, xingar, zangar, xodó... seria possível prosseguir quase interminavelmente a lista de vocábulos utilizados no Brasil que derivam de línguas africanas. Só na Bahia, registram-se 5000 desses vocábulos, afirmou em sua palestra a professora Yeda de Castro, autora do livro Falares Africanos na Bahia, publicado pela Editora Lidador.

Doutora em Línguas Africanas e pioneira nas pesquisas de campo realizadas tanto no Brasil como na África sobre as línguas africanas no Brasil, a professora-titular da Universidade Federal da Bahia falou das famílias lingüísticas africanas que deixaram vestígios no português falado no Brasil e dos níveis socioculturais da linguagem de origem africana. Além da linguagem popular na Bahia, por exemplo, ressalta-se aqui a chamada língua-de-santo. As origens remontam em especial ao banto, mas também ao kwa, ewe-fon, iorubá, aos falares dos grupos ambundos, congos e ovimbundos, que chegaram ao Brasil provenientes da Costa dos Escravos, no oeste do continente africano.

Em reconhecimento a seu trabalho pioneiro, Castro, que já atuou também como professora visitante nas Universidades da Nigéria, Zaire e Trinidad-Tobago, foi homenageada pela Câmara Municipal de Salvador com a Comenda Maria Quitéria e condecorada pelo Ministério das Relações Exteriores no grau de Comendadora da Ordem de Rio Branco.

Poesia e prosa negras –

A professora Moema Parente Augel, da Universidade de Bielefeld, apresentou uma série de textos de autoria de intelectuais brasileiros negros, tais como Cuti, Márcio Barbosa, Oswaldo Camargo, Oliveira Silveira, Semog, José Carlos Limeira, Paulo Colina e Abdias Nascimento.

Em sua opinião, "a poesia e literatura negras, isto é, escritas por negros, podem ser entendidas como uma espécie de ferramenta utilizada nas discussões sobre o passado coletivo dos negros nascidos no Brasil – os afrodescendentes – e uma tentativa dos intelectuais negros de fazer frente às desigualdades sociais e discriminações ainda sofridas, hoje, pelos negros brasileiros". Daí "a presença constante da África nos diferentes temas e textos, como um elemento de afirmação e identificação coletivas".

Mas ela não deixou de salientar que "sem dúvida, o negro brasileiro está solidamente integrado em sua pátria, o Brasil". A referência à Mãe-África não é um desejo explícito de volta e sim "a decisão, diante das desigualdades existentes, de construir o futuro com as próprias 'mãos negras'". "Eu estou preparado, não para fugir / eu estou pronto, não para me esconder numa volta geográfica à África", como Cuti deixou claro em sua poesia intitulada "Para ficar".

A palestra, iniciativa do Instituto Cultural Brasileiro na Alemanha e do Setor Cultural da Embaixada do Brasil, foi pronunciada inicialmente na Embaixada Brasileira e no Museu de Etnologia de Berlim. As professoras falaram sobre o tema ainda em Potsdam, capital do estado de Brandemburgo, e na Universidade de Leipzig.