Publicado 1 de setembro de 2014Última atualização 1 de setembro de 2024
Em 1° de setembro de 1939, a Wehrmacht invadiu a Polônia, aparentemente sem aviso prévio. A guerra, porém, não era uma surpresa, mas algo que Hitler planejava desde que chegara ao poder, em 1933.
Anúncio
Esta guerra não chegou de surpresa. Hitler nunca fez segredo de seus agressivos planos de expansão, mesmo que de vez em quando tenha tocado o "disco pacifista", como ele mesmo dizia, segundo o historiador Klaus Hesse, do centro de documentação Topografia do Terror, de Berlim.
"Desde que chegou ao poder, em janeiro de 1933, Hitler fez toda a preparação em direção à guerra. Desde então, tudo se prestava à revisão da ordem imposta pelo Tratado de Versalhes, à recuperação da hegemonia na Europa por uma Alemanha ampliada, tudo se direcionava para a criação de um espaço econômico europeu que tornasse possível à Alemanha a realização de uma grande e prolongada guerra na Europa", afirma.
Guerra interna contra a oposição e os judeus
O Tratado de Paz de Versalhes de 1919 havia colocado toda a responsabilidade pela eclosão da Primeira Guerra Mundial sobre o Império Alemão e seus aliados e o obrigou a fazer concessões territoriais, a se desarmar e a indenizar as potências vencedoras. No entendimento de Hitler, uma humilhação que deveria ser revista.
A chamada "lenda da apunhalada", segundo a qual os social-democratas e os judeus estariam dispostos a dar uma "punhalada no país pelas costas", vinha bem a calhar para as intenções do ditador. Assim, o caminho para a nova guerra começou dentro da Alemanha.
Apenas poucos dias depois de sua tomada do poder, Hitler fez com que fosse organizado o primeiro boicote nacional de negócios judeus, em 1° de abril de 1933. Depois, veio a "Lei para restabelecimento da carreira do funcionalismo público", que, na prática, determinou a exclusão de todos os judeus de atividades do serviço público.
E essa perseguição também visou desde o início conseguir recursos financeiros para financiar a guerra. Mesmo antes de o governo regulamentar abrangentemente por lei o confisco de propriedades judias, empresários judeus foram colocados sob pressão, tendo de pagar mesmo por sua fuga da Alemanha.
Emigrantes tinham que abrir mão de 25% de seus ativos tributáveis para o Estado, que, dessa forma, conseguiu arrecadar 153 milhões de marcos só nos primeiros dois anos do regime nazista. A transferência de divisas ao exterior também era taxada. Até setembro de 1939, essa taxa foi subindo, chegando a abocanhar 96% do valor transferido.
Anúncio
Berlim 1936 – Olimpíadas e declaração de guerra
A maioria dos alemães, no entanto, via Hitler como o salvador até 1939. Para muitos, a ditadura trouxe uma melhora nas condições econômicas. O desemprego caiu, o consumo individual subiu. "Hitler era populista o suficiente para saber que tinha que, além de canhões, também tinha que oferecer manteiga", diz Klaus Hesse.
Os canhões, entretanto, eram o verdadeiro objetivo. Enquanto o mundo se apresentava nos Jogos Olímpicos de Berlim, Hitler consolidava seus planos de guerra. Em quatro anos, as Forças Armadas deveriam estar operacionais para a guerra no leste.
O plano secreto de Hitler, escrito em seu Memorando sobre o plano de quatro anos: a Alemanha deveria ser autossuficiente no maior número possível de áreas e, assim, se isolar do mercado mundial para poder investir todos os recursos na indústria bélica. Não demorou muito para que metade de todos os gastos estatais fossem dedicados a esse setor.
Naquele mesmo ano, a Wehrmacht (Forças Armadas) ocupou a Renânia, que era desmilitarizada, cometendo uma clara violação do Tratado de Versalhes, ao qual Hitler vinha se opondo desde o início de seu governo. Em novembro de 1937, Hitler revelou em segredo seus planos aos mais graduados oficiais da Wehrmacht: a Alemanha precisava, segundo ele, de mais espaço "para a preservação da população e sua proliferação".
Setembro 1938 – a guerra não é impedida, mas adiada
Em 1938, Hitler anexou seu país natal, a Áustria, no que ficou conhecido como Anschluss. Logo depois ameaçou invadir a Tchecoslováquia, alegando que a população de língua alemã que vivia nos Sudetos estava sendo vítima de discriminação.
Os políticos britânicos e franceses temiam uma guerra europeia e tentaram impedir um ataque através de uma política de apaziguamento. A esperança era: "se você der a Hitler o que entende como direito nacional, ele sossegará". Pelo Acordo de Munique, a região dos Sudetos é incorporada pela Alemanha. "Chamberlain deixou Hitler obter toda uma série de ampliações territoriais sem que ocorresse uma guerra", frisa o historiador Antony Beevor, se referindo ao então primeiro-ministro britânico.
A questão sobre o que teria acontecido se um adversário da estratégia de apaziguamento, Winston Churchill, fosse o primeiro-ministro britânico é mais complicada. "Será que, em setembro de 1939, britânicos e franceses estavam em uma posição mais forte contra a Wehrmacht? Para isso, nunca vamos ter uma resposta."
Desde 1938 havia um perceptível medo da guerra na Alemanha, ressalta Hesse. "Ficou claro que esse desenvolvimento alemão na Europa – de uma Alemanha vencida para um novo fator de poder – não era mais possível sem o risco de uma guerra." O Acordo de Munique foi vendido pela propaganda nazista como um grande sucesso da política de paz de Hitler, mas, na verdade, ele ficou até irritado, porque preferia já ter começado a guerra.
Em setembro de 1939 não dava para se pensar em golpe
O realmente trágico em setembro de 1938 é que, naquele momento, Hitler estava isolado com seus planos de guerra. Seus generais queriam evitar a qualquer custo uma guerra prematura. O chefe do Alto Comando do Exército, Franz Halder, comandantes importantes de Berlim e arredores, assim como o chefe da polícia de Berlim já haviam discutido sobre um novo governo com funcionários governamentais críticos e ex-políticos social-democratas.
Uma tropa de choque secreta ficou de prontidão para invadir a Chancelaria do Reich assim que Hitler desencadeasse a guerra. Um ano depois, já não dava mais para se pensar em golpe. Mesmo que a população não tenha comemorado aquele 1° de setembro de 1939, a maioria dos alemães apoiava Hitler, apesar de tudo, e estava disposta a ir à guerra por ele.
A Segunda Guerra Mundial mataria 60 milhões de pessoas. Os nazistas assassinaram seis milhões de judeus. Para Beevor, a Segunda Guerra Mundial foi "o maior desastre provocado pelo homem de toda a história".
Cronologia da Segunda Guerra Mundial
Em 1° de setembro de 1939, as Forças Armadas alemãs atacaram a Polônia, sob ordens de Hitler. A guerra que então começava duraria até 8 de maio de 1945, deixando um saldo até hoje sem paralelo de morte e destruição.
Foto: U.S. Army Air Forces/AP/picture alliance
1939
No dia 1° de setembro de 1939, as Forças Armadas alemãs atacaram a Polônia sob ordens de Adolf Hitler – supostamente em represália a atentados poloneses, embora isso tenha sido uma mentira de guerra. No dia 3 de setembro, França e Reino Unido, que eram aliadas da Polônia, declararam guerra à Alemanha, mas não intervieram logo no conflito.
1939
A Polônia mal pôde oferecer resistência às bem equipadas tropas alemãs – em cinco semanas, os soldados poloneses foram derrotados. No dia 17 de setembro, o Exército Vermelho ocupou o leste da Polônia – em conformidade com um acordo secreto fechado entre o Império Alemão e a União Soviética apenas uma semana antes da invasão.
Foto: AP
1940
Em abril de 1940, a Alemanha invadiu a Dinamarca e usou o país como base até a Noruega. De lá vinham as matérias-primas vitais para a indústria bélica alemã. No intuito de interromper o fornecimento desses produtos, o Reino Unido enviou soldados ao território norueguês. Porém, em junho, os aliados capitularam na Noruega. Nesse meio tempo, a Campanha Ocidental já havia começado.
1940
Durante oito meses, soldados alemães e franceses se enfrentaram no oeste, protegidos por trincheiras. Até que, em 10 de maio, a Alemanha atacou Holanda, Luxemburgo e Bélgica, que estavam neutros. Esses territórios foram ocupados em poucos dias e, assim, os alemães contornaram a defesa francesa.
Foto: picture alliance/akg-images
1940
Os alemães pegaram as tropas francesas de surpresa e avançaram rapidamente até Paris, que foi ocupada em meados de junho. No dia 22, a França se rendeu e foi dividida: uma parte ocupada pela Alemanha de Hitler e a outra, a "França de Vichy", administrada por um governo fantoche de influência nazista e sob a liderança do general Pétain.
Foto: ullstein bild/SZ Photo
1940
Hitler decide voltar suas ambições para o Reino Unido. Seus bombardeios transformaram cidades como Coventry em cinzas e ruínas. Ao mesmo tempo, aviões de caça travavam uma batalha aérea sobre o Canal da Mancha, entre o norte da França e o sul da Inglaterra. Os britânicos venceram e, na primavera europeia de 1941, a ofensiva alemã estava consideravelmente enfraquecida.
Foto: Getty Images
1941
Após a derrota na "Batalha aérea pela Inglaterra", Hitler se voltou para o sul e posteriormente para o leste. Ele mandou invadir o norte da África, os Bálcãs e a União Soviética. Enquanto isso, outros Estados entravam na liga das Potências do Eixo, formada por Alemanha, Itália e Japão.
1941
Na primavera europeia, depois de ter abandonado novamente o Pacto Tripartite, Hitler mandou invadir a Iugoslávia. Nem a Grécia, onde unidades inglesas estavam estacionadas, foi poupada pelas Forças Armadas alemãs. Até então, uma das maiores operações aeroterrestres tinha sido o ataque de paraquedistas alemães a Creta em maio de 1941.
Foto: picture-alliance/akg-images
1941
O ataque dos alemães à União Soviética no dia 22 de junho de 1941 ficou conhecido como Operação Barbarossa. Nas palavras da propaganda alemã, o objetivo da campanha de invasão da União Soviética era uma "ampliação do espaço vital no Oriente". Na verdade, tratava-se de uma campanha de extermínio, na qual os soldados alemães cometeram uma série de crimes de guerra.
Foto: Getty Images
1942
No começo, o Exército Vermelho apresentou pouca resistência. Aos poucos, no entanto, o avanço das tropas alemãs chegou a um impasse na Rússia. Fortes perdas e rotas inseguras de abastecimento enfraqueceram o ataque alemão. Hitler dominava quase toda a Europa, parte do norte da África e da União Soviética. Mas no ano de 1942 houve uma virada.
1942
A Itália havia entrado na guerra em junho de 1940, como aliada da Alemanha, e atacado tropas britânicas no norte da África. Na primavera de 1941, Hitler enviou o Afrikakorps como reforço. Por muito tempo, os britânicos recuaram – até a segunda Batalha de El Alamein, no outono de 1942. Ali a situação mudou, e os alemães bateram em retirada. O Afrikakorps se rendeu no dia 13 de maio de 1943.
Foto: Getty Images
1942
Atrás do fronte leste, o regime de Hitler construiu campos de extermínio, como Auschwitz-Birkenau. Mais de seis milhões de pessoas foram vítimas do fanatismo racial dos nazistas. Elas foram fuziladas, mortas com gás, morreram de fome ou de doenças. Milhares de soldados alemães e da SS estiveram envolvidos nestes crimes contra a humanidade.
Foto: Yad Vashem Photo Archives
1943
Já em seu quarto ano, a guerra sofreu uma virada. No leste, o Exército Vermelho partiu para o contra-ataque. Vindos do sul, os aliados desembarcaram na Itália. A Alemanha e seus parceiros do Eixo começaram a perder terreno.
1943
Stalingrado virou o símbolo da virada. Desde julho de 1942, o Sexto Exército alemão tentava capturar a cidade russa. Em fevereiro, quando os comandantes desistiram da luta inútil, cerca de 700 mil pessoas já haviam morrido nesta única batalha – na maioria soldados do Exército Vermelho. Essa derrota abalou a moral de muitos alemães.
Foto: picture-alliance/dpa
1943
Após a rendição das tropas alemãs e italianas na África, o caminho ficou livre para que os Aliados lutassem contra as potências do Eixo no continente europeu. No dia 10 de julho, aconteceu o desembarque na Sicília. No grupo dos Aliados estavam também os Estados Unidos, a quem Hitler havia declarado guerra em 1941.
Foto: picture alliance/akg
1943
Em setembro, os Aliados desembarcaram na Península Itálica. O governo em Roma acertou um armistício com os Aliados, o que levou Hitler a ocupar a Itália. Enquanto os Aliados travavam uma lenta batalha no sul, as tropas de Hitler espalhavam medo pelo resto do país.
No leste, o Exército Vermelho expulsou os invasores cada vez mais para longe da Alemanha. Iugoslávia, Romênia, Bulgária, Polônia... uma nação após a outra caía nas mãos dos soviéticos. Os Aliados ocidentais intensificaram a ofensiva e desembarcaram na França, primeiramente no norte e logo em seguida no sul.
1944
Nas primeiras horas da manhã do dia 6 de junho, as tropas de Estados Unidos,Reino Unido, Canadá e outros países desembarcaram nas praias da Normandia, no norte da França. A liderança militar alemã tinha previsto que haveria um desembarque – mas um pouco mais a leste. Os Aliados ocidentais puderam expandir a penetração nas fileiras inimigas e forçar a rendição de Hitler a partir do oeste.
Foto: Getty Images
1944
No dia 15 de agosto, os Aliados deram início a mais um contra-ataque no sul da França e desembarcaram na Provença. As tropas no norte e no sul avançaram rapidamente e, no dia 25 de agosto, Paris foi libertada da ocupação alemã. No final de outubro, Aachen se tornou a primeira grande cidade alemã a ser ocupada pelos Aliados.
Foto: Getty Images
1944
No inverno europeu de 1944/45, as Forças Armadas alemãs reuniram suas tropas no oeste e passaram para a contra-ofensiva em Ardenne. Mas, após contratempos no oeste, os Aliados puderam vencer a resistência e avançar inexoravelmente até o "Grande Império Alemão" – a partir do leste e do oeste.
Foto: imago/United Archives
1945
No dia 8 de maio de 1945, os nazistas se renderam incondicionalmente. Para escapar da captura, Hitler se suicidou com um tiro no dia 30 de abril. Após seis anos de guerra, grande parte da Europa estava sob entulhos. Quase 50 milhões de pessoas morreram no continente durante a Segunda Guerra Mundial. Em maio de 1945, o marechal de campo Wilhelm Keitel assinava a ratificação da rendição em Berlim.