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Iniciativa privada investe na cultura

10 de agosto de 2007

Falta de verbas públicas para a cultura – ou a má vontade em aplicá-las – força os alemães a abandonar sua tradição secular de patrocínio estatal. Principal interesse das empresas é melhoria de imagem.

O que seria da Filarmônica de Berlim sem o Deutsche Bank?Foto: Berliner Philharmoniker

Até alguns anos, na Alemanha e outros países europeus, não se discutia que financiar cultura é assunto do Estado. Por tradição e história, a aproximação entre artistas ou instituições culturais e a iniciativa privada era quase tabu, envolvendo conflitos de interesse, medos de ingerências e contaminação entre o erudito e o comercial, além de outros tantos preconceitos e/ou temores palpáveis.

Em tempos de caixas estatais vazias, faz-se necessária uma mudança de paradigma. Só assim é possível a montadora de automóveis Audi ser atualmente a principal patrocinadora do Festival de Música de Salzburgo, na Áustria. Uma boa notícia para artistas e organizadores, pois os cofres públicos não liberaram mais de 13 milhões de euros para o prestigioso evento, ou seja, cerca de 30% de seus gastos totais.

Questão de prestígio

Audi à frente do Festival de SalzburgoFoto: picture-alliance / dpa/dpaweb/Fotomontage/DW

Está claro que as firmas não disponibilizam recursos financeiros por puro altruísmo. "Apoio cultural é um negócio bem definido: dinheiro em troca de vantagens", explicita Manfred Schwaiger, professor de economia da Universidade de Munique. "E a vantagem, no caso, é o patrocinador ser associado ao artista ou evento cultural."

A decisão sobre quem recebe ou não o apoio depende do perfil mercadológico da empresa em questão. Assim, financiando a Filarmônica de Berlim, o Deutsche Bank pretende enfatizar "tradição e alta qualidade". Por outro lado, ao investir na mostra de arte contemporânea documenta, em Kassel, o grupo das caixas econômicas da Alemanha segue uma tendência nacional.

A prática também melhora a imagem da empresa diante de seus funcionários, pois em especial os mais dedicados têm altas exigências em relação a seus empregadores. "O patrocínio cultural em si não aumenta a motivação, porém sua ausência resulta em menor satisfação com o emprego", comenta Manfred Schwaiger.

Parte do "leão" ainda cabe ao Estado

O assunto não é novo no Brasil, onde há já alguns anos se fazem sentir os efeitos positivos de iniciativas como a Lei de Incentivo à Cultura. E, em comparação com os Estados Unidos, a participação dos patrocinadores particulares na Alemanha é antes modesta.

O grupo de trabalho Kultursponsoring calcula que a iniciativa privada alemã reverte 350 milhões de euros por ano no apoio cultural, cerca de 10% das verbas totais do setor. Incluídas as fundações particulares, a soma chega aos 600 milhões de euros anuais.

Ainda assim, 80% do dinheiro continua vindo dos cofres públicos, enquanto nos EUA esta proporção é de apenas 10%. Segundo Schwaiger, tal se explica, em parte, devido às diferentes políticas de benefícios fiscais para o patrocínio da cultura.

Tendência crescente

"Porém há também um segundo motivo: é que na Alemanha estamos acostumados a clamar pelo Estado. Sempre que sentimos falta de algo e queremos oferta cultural, vêm as exigências, sempre contendo a implicação de que o Estado cuide do assunto", explica o economista.

Stefan Frucht, diretor gerente do Círculo Cultural do Empresariado Alemão, vê, contudo, uma clara tendência. "Embora em nível federal o patrocínio à cultura se haja mantido estável, as verbas públicas diminuem, enquanto o engajamento privado cresce decididamente."

No momento, o apoio cultural privado privilegia as artes plásticas e as diversas formas de música, continua Frucht, citando ainda a literatura e a arquitetura como setores significativos.

Má informação é a alma do negócio

Obra de Peter Friedl na 'documenta' 12Foto: AP

Embora as empresas em geral divulguem com coletivas de imprensa, campanhas e outros eventos publicitários suas iniciativas de apoiar a cultura, nunca se fica sabendo quanto investiram exatamente. Isso faz parte do negócio, assegura o professor Schwaiger.

"Um dos fatores de sucesso neste setor consiste em empregar 'x' euros e os jornalistas especularem que foram duas vezes 'x'. Dar a impressão de que se fez muito mais [pela cultura] do que realmente foi o caso é um critério de sucesso." (av)

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