Insatisfação com a economia domina eleição no Reino Unido
Arthur Sullivan
2 de julho de 2024
Custo de vida e financiamento de serviços públicos, como saúde, preocupam eleitores no Reino Unido e impulsionam oposição trabalhista, que deve voltar ao poder depois 14 anos.
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Às vésperas das eleições gerais no Reino Unido, a serem realizadas nesta quinta-feira (04/07), as pesquisas apontam para um resultado claro: a derrota do Partido Conservador, atualmente no poder com o premiê Rishi Sunak. Depois de 14 anos na oposição, o Partido Trabalhista, liderado por Keir Starmer, parece estar prestes a voltar ao governo com uma grande maioria.
Pesquisas eleitorais sugerem que a frustração com a situação da economia é um dos principais motivos a impulsionar a mudança. De acordo com o think tank americano Pew Research Center, apenas 22% dos eleitores acham que a economia do Reino Unido está em boa forma.
Até mesmo apoiadores convictos do Partido Conservador concordam. Há não muito tempo atrás, em 2017, cerca de 75% dos apoiadores do partido tinham uma opinião positiva sobre a economia. Hoje esse número está em 27%.
"Coisas começam a melhorar"
Essa não é uma boa notícia para uma legenda que teve uma década e meia para implementar sua visão econômica no país. No entanto, o governo está se apegando a alguns dados econômicos moderadamente positivos dos últimos meses, considerando-os um motivo pelo qual os eleitores ainda podem confiar nos conservadores para administrar a sexta maior economia do mundo.
"Depois de dois anos difíceis que o país teve, sem dúvida, agora as coisas estão começando a melhorar", disse o premiê Sunak em maio. "A confiança está voltando à economia e ao país."
A economia do Reino Unido saiu da recessão no primeiro trimestre de 2024, com um crescimento melhor do que o esperado de 0,7%. A inflação também caiu pela primeira vez em três anos para a meta de 2% do Banco da Inglaterra, fortalecendo as expectativas de que o banco central do país venha a cortar as taxas de juros no final do verão britânico.
O analista Andrew Goodwin, da Oxford Economics, diz que há sinais preliminares de recuperação econômica. "No contexto dos últimos dois anos, a economia está indo razoavelmente bem", avalia. "Há um crescimento sustentado, embora não no ritmo que normalmente se veria nos estágios iniciais de uma recuperação."
Preocupações dos eleitores
No entanto, ele diz que detalhes de políticas econômicas não têm sido um grande ponto de discussão durante a campanha eleitoral. "As políticas econômicas tendem a não ter muito apelo entre os eleitores, e os partidos se concentraram principalmente em outras questões", diz. "Mesmo assim, as pressões sobre o custo de vida e o subfinanciamento dos serviços públicos são dois fatores fundamentais por trás do desejo de mudança dos eleitores."
O analista Creon Butler, diretor de economia e finanças globais do think tank londrino Chatham House, avalia que a situação da economia está motivando os eleitores, principalmente a questão da inflação. Ele também diz que o financiamento dos serviços públicos é uma questão muito importante para os eleitores.
"Eles podem ver as consequências do fraco desempenho da economia no Serviço Nacional de Saúde (NHS, na sigla em inglês) e em toda uma série de outros serviços, desde a polícia até as autoridades locais, gastos com estradas e assim por diante", comenta.
"Ou seja, o que o público vê é são as consequências do fraco desempenho econômico, que o governo não tem dinheiro suficiente para gastar em serviços públicos essenciais."
Uma questão importante para o próximo governo será o investimento público. Um estudo recente do Institute for Fiscal Studies, um instituto de pesquisa econômica sediado no Reino Unido, prevê que o investimento do setor público, como percentual do PIB, diminuirá de uma estimativa de 2,4% para este ano para 1,8% até 2028.
"Não acho que o público esteja ouvindo a história completa dos partidos políticos sobre as escolhas realmente difíceis que temos de fazer", diz Butler. "As consequências da fraqueza da economia, especialmente o crescimento da produtividade, não foram realmente explicadas ao público na medida necessária", avalia.
Goodwin concorda. "O formato da política fiscal pós-eleitoral está em debate, mas ambos os partidos estão ignorando amplamente a herança ruim que terão de enfrentar no próximo governo", afirma.
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Poucas diferenças quanto à política econômica
Embora haja uma grande debate entre ambos os partidos, inclusive sobre como aumentar a produtividade e o crescimento do PIB, muitos comentaristas dizem que as políticas econômicas de trabalhistas e conservadores não diferem muito.
Desde o desastroso e curto governo de 49 dias da conservadora Liz Truss, o Partido Trabalhista tem se apresentado como a opção estável para administrar a economia.
O governo de Truss entrou em colapso devido às suas políticas econômicas pouco ortodoxas. Isso destruiu a imagem dos conservadores como um partido com competência econômica. Mas, desde a posse do também conservador Jeremy Hunt no cargo de ministro das Finanças do Reino Unido, os trabalhistas não se opuseram a muitas de suas posições econômicas.
A trabalhista Rachel Reeves, que deverá ser a ministra das Finanças num governo trabalhista, tem posições semelhantes às de Hunt sobre tributação e regras fiscais, dois aspectos cruciais nos gastos públicos.
Mesmo assim, Butler avalia que um governo trabalhista após 14 anos de governos conservadores pode levar a uma mudança econômica fundamental. "É importante não subestimar o fato de a abordagem geral ser muito diferente porque a filosofia é diferente", observa.
Ele diz que o Partido Trabalhista difere fundamentalmente dos conservadores em três áreas da política econômica: o papel do setor público, a regulamentação e a atitude em relação à União Europeia.
É nas relações com a UE que o impacto de um governo trabalhista provavelmente seria sentido mais rapidamente. Embora o líder dos trabalhistas, Keir Starmer, tenha cuidadosamente evitado falar sobre o Brexit desde que assumiu a liderança, os conservadores tentam retratar uma vitória trabalhista como "ruim para o Brexit".
"O Brexit estaria em perigo com os trabalhistas", resumiu Sunak recentemente.
Butler diz que os trabalhistas têm menos "bagagem" do que os conservadores com relação à UE e que, embora não queiram necessariamente reabrir as negociações para, por exemplo, voltar a participar da união alfandegária, eles estariam interessados em desenvolver relações mais cordiais e produtivas entre a UE e o Reino Unido do que as dos últimos anos.
No entanto, ele enfatiza que, independentemente de quem vencer as eleições, o impacto de longo prazo da saída da UE continuará a ser muito grande. Vários estudos mostraram que o PIB do Reino Unido está hoje entre 2% e 3% menor do que ele seria se o Brexit não tivesse acontecido.
O mês de julho em imagens
O mês de julho em imagens
Foto: Evan Vucci/AP Photos/picture alliance
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Foto: Hannes P Albert/dpa/picture alliance
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Foto: Ministry Of Sport, Olympic And Paraolympic Games/AP/picture alliance
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Foto: Alain Jocard/AFP [M]
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Reagindo ao anúncio de que a Alemanha abrigará bases de mísseis americanos de longo alcance a partir de 2026, a Rússia disse que avalia medidas para frear a "séria ameaça à segurança" do país por parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). "Essa decisão foi preparada por muito tempo e não é uma surpresa", afirmou o chanceler alemão, Olaf Scholz. (11/07)
Foto: Evan Vucci/AP Photo/picture alliance
Perigo de vida no Vale da Morte
O Death Valley, no deserto do leste da Califórnia e condado de Nevada, já é considerado o local mais quente do planeta. Em meio à atual onda de calor, então, as temperaturas nesse parque nacional americano têm ultrapassado diariamente os 50ºC. As autoridades dos EUA expediram alertas aos visitantes. (10/07)
Foto: Mario Tama/Getty Images
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Foto: Efrem Lukatsky/AP Photo/picture alliance
Esquerda e centro conseguem frear ultradireita na França
A esquerda e o centro conseguiram frear o que parecia uma ascensão implacável da ultradireita francesa no segundo turno da eleição legislativa francesa. A aliança de esquerda Nova Frente Popular (NFP) e a coligação de centro Juntos, do presidente Emmanuel Macron, conseguiram formar as maiores bancadas de deputados, ficando à frente da ultradireitista Reunião Nacional (RN). (07/07)
Foto: Christophe Ena/AP/picture alliance
Reforma vence pleito presidencial do Irã
O reformista Masud Pezeshkian se impôs no segundo turno do pleito presidencial do Irã, que teve uma participação nas urnas de 49,9 %. Ele obteve 53,6 % dos votos, contra 44,3 % para o ultraconservador Saeed Jalili. Em seus primeiros comentários após o resultado eleitoral, o presidente eleito definiu a votação como o início de uma "parceria" com o povo iraniano. (06/07)
Foto: Vahid Salemi/AP/picture alliance
Após 14 anos com conservadores no poder, Reino Unido tem premiê trabalhista
Consagrado com uma maioria esmagadora na eleição legislativa antecipada, Keir Starmer, 61, é o sétimo primeiro-ministro do Partido Trabalhista. Ele substitui o conservador Rishi Sunak, que ficou menos de dois anos no cargo. O Partido Conservador perdeu as eleições ao conquistar apenas 121 assentos na Câmara dos Comuns (baixa), contra 412 do Trabalhista. (05/07)
Foto: JUSTIN TALLIS/AFP/Getty Images
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Foto: Eraldo Peres/AP/picture alliance
Furacão Beryl avança pelo Caribe
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Foto: Curlan Chrissey Campbell/Reuters
Tumulto em cerimônia hindu na Índia deixa mais de 100 mortos
Mais de uma centena de pessoas, incluindo mulheres e crianças, morreram após um tumulto ocorrido ao final de uma cerimônia religiosa hindu no norte da Índia. Forte calor e falta de ar no local do evento podem ter contribuído para a tragédia. Pessoas que participaram da cerimônia disseram que cerca de 50 mil devotos estavam presentes no local. (02/07)
Foto: Manoj Aligadi/AP/picture alliance
Suprema Corte dos EUA diz que Trump tem imunidade contra processos criminais em ações oficiais como presidente
A Suprema Corte dos EUA decidiu que o ex-presidente Donald Trump tem direito a blindagem parcial contra acusações criminais. A corte entendeu que ex-chefes de Estado têm imunidade contra processos por ações tomadas como presidente, mas que o mesmo não se aplica a atos como pessoa física. Assim, diminui a chance de que seja julgado em três processos antes das eleições, em 5 de novembro. (01/07)