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Insegurança domina o Mali antes de pleito parlamentar

Dirke Köpp (av)23 de novembro de 2013

Apesar de afirmativas das autoridades locais, efeitos da guerra civil ainda são sentidos no país africano. Atentados direcionados durante o pleito são improváveis, mas saques por gangues e milícias continuam.

Foto: DW/S. Martineau

Pouco a pouco a República do Mali procura retornar à democracia. Neste domingo (24/11), 6,5 milhões de eleitores decidem a composição da Assembleia Nacional, entre um total de 1.141 candidatos para 147 assentos. Muitos esperam que o novo parlamento contribua para dar fim à crise que abala o país há mais de um ano e meio.

Em 21 de março de 2012, o Exército deu um golpe de Estado, derrubando o então presidente Amadou Toumani Touré. Em reação, rebeldes tuaregues e fundamentalistas islâmicos tomaram o norte malinês. Seu avanço em direção ao sul, no início de 2013, foi sustado graças à intervenção militar da França, com a Operação Serval. Mais de 3 mil soldados franceses ainda se encontram no país, e em julho uma missão da ONU se uniu a eles. Até hoje, os efeitos da guerra se fazem sentir.

Probabilidade de atentados

Para Alexander Stroh, especialista em Mali do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (Giga), em Hamburgo, a situação no norte do país africano continua indefinida.

"Depois dos sucessos militares da França e de alguns aliados africanos, conseguiu-se, de fato, fazer recuar os fundamentalistas e, durante algum tempo, até mesmo estabelecer uma espécie de negociação com os rebeldes não islamistas." No entanto, os fronts seguem pouco claros, e recentemente também as tropas francesas tiveram que voltar a intervir.

Na última quinta-feira lançaram-se granadas em Gao, a maior cidade no norte do Mali e importante centro de negócios. Dois dias antes, perto dali, foram assassinados familiares de um general do Exército. Como o militar é da etnia tuaregue, supõem-se que os autores do atentado o considerem um traidor.

Enquanto isso, prosseguem na região os confrontos entre rebeldes e fundamentalistas, de um lado, e tropas malinesas e seus aliados, do outro. Diante desse quadro, muitos olham com apreensão o pleito parlamentar iminente.

"Em janeiro, conseguiu-se expulsar com relativa rapidez os rebeldes e jihadistas. Mas eles não foram todos mortos ou presos: em algum lugar ainda têm que estar", comenta Alexander Stroh. "Portanto o cenário de ameaça ainda está presente, e eleições como esta oferecem uma plataforma para tal."

Ainda assim, o analista do instituto Giga considera improvável que ocorram ataques direcionados, por exemplo, contra as seções eleitorais. Também antes das eleições presidenciais, em agosto, esperavam-se atentados, porém a situação permaneceu estável, contrariando as expectativas. E, numa democracia presidencial como a do Mali, o pleito presidencial é incomparavelmente mais importante do que o legislativo.

Gao é maior cidade do norte do Mali e importante centro de negóciosFoto: Katrin Gänsler

Autoridades alegam estabilidade

Mesmo em áreas como Gao, ou a região de Kidal, no nordeste do país, os políticos malineses partilham esse ponto de vista. Na cidade de Kidal, capital regional, há cerca de três semanas foram mortos dois jornalistas franceses. Ainda assim, o governador Adama Kamissoko considera a situação segura. Segundo ele, a população está feliz de poder votar.

"Nós aqui em Kidal estamos prontos para o pleito", afirmou, em entrevista à Deutsche Welle. Afinal, segurança absoluta é algo que não existe. "A situação está calma, é certo, mas não se pode esquecer que estamos saindo de uma crise que ainda não chegou ao fim."

Da mesma forma, o prefeito de Gao, Sadou Diallo, considera a situação suficientemente estável em sua cidade, apesar dos atentados com granadas. "A campanha eleitoral está em pleno andamento. As pessoas se sentem em segurança: para tal, estão cuidando a missão de estabilização Minusma, da ONU, o Exército malinês e as tropas da missão francesa Serval."

Acusações e contra-acusações

Porém, mesmo que a população não tenha que temer ataques direcionados ao comparecer às urnas, ela continua sentindo a crise em seu país. Numerosos cidadãos seguem sofrendo a ação de gangues de saqueadores e milícias armadas, queixa-se Cheick Doukouré, prefeito da comunidade rural Télé, na região de Goundam.

Ele enfatiza que são grandes a desconfiança e o temor popular diante desses grupos armados. "Eles escondem suas armas por toda parte: na areia, numa tenda, debaixo de uma túnica larga. Em dias de feira, eles pegam as armas pesadas, ocupam as ruas de acesso e esperam. Quando as pessoas estão voltado da feira, os bandos armados tomam tudo o que elas têm."

O prefeito critica tanto o Exército nacional como os soldados da Minusma por nada empreenderem contra as milícias. No entanto, Ambeyri Ag Rhissa, porta-voz da organização de rebeldes tuaregues MNLA, em Kidal, rechaça toda acusação de assalto.

"A MNLA não rouba a população, pois está justamente lutando para libertar as pessoas dos saques e da malversação de verbas", disse à DW. Segundo ele, foram os próprios soldados do Mali que recentemente saquearam a população de Goundam.

Este é um velho jogo: acusações e contra-acusações, com cada lado apontando o erro na parte oposta.

Nem todos os rebeldes tuaregues depuseram armas, apesar de armistícioFoto: picture alliance/AP Photo

Eleições de resultado incerto

Como uma das causas da continuada crise no Mali, Alexander Stroh, do instituto Giga, aponta o fato de o governo não saber exatamente com quem deve negociar. Pois os rebeldes não são um bloco homogêneo, mas sim "divididos entre fundamentalistas islâmicos e os que não seguem um programa político islamista".

No entanto, mesmo dentro desses grupamentos, eles não estão inteiramente de acordo entre si. Assim, ressalva o especialista, permanece totalmente em aberto se as eleições legislativas, independentemente de seu resultado, vão ajudar a trazer um pouco de paz ao país africano.