Instabilidade política na Itália gera preocupação na União Europeia
15 de dezembro de 2012Abalar os mercados financeiros não é nada difícil nesses dias de crise do euro. Por isso, quando o premiê italiano, Mario Monti, anunciou a sua renúncia após perder o apoio do partido do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, era de se esperar que a notícia fosse gerar instabilidade, o que de fato aconteceu.
A Itália ainda sente os efeitos da recessão. Em outubro, por exemplo, a produção industrial caiu 1% em relação ao mês anterior.
No início desta semana, os negócios com as ações dos bancos Monte Paschi di Siena, UBI e Banca Popolare di Milano tiveram que ser interrompidos depois de elas despencarem 5%, acionando a suspensão temporária automática.
Também as manchetes no principal jornal de economia da Itália, Il Sole 24 Ore, são as mais pessimistas possíveis nos últimos dias.
Até as eleições, só especulação
O jornalista Morya Longo, analista do Il Sole 24 Ore, afirmou que os maiores riscos deverão vir após as eleições de fevereiro. Até lá, segundo Longo, tudo o que se vê agora não passa de especulação, e ele diz haver sinais para permanecer otimista.
Na análise dele, a renúncia de Monti não foi nenhuma surpresa, uma vez que seu governo era, desde o início, provisório. A agenda de estabilidade que ele iniciou está indo bem e precisaria apenas ser mantida pelo próximo governo para que os mercados se acalmassem.
Ao comentar a situação por que passa a Itália, o ministro alemão do Exterior, Guido Westerwelle, também usou um tom tranquilizador. Em entrevista ao site de notícias Spiegel Online, ele disse que a Itália está indo bem e não deveria interromper sua política de austeridade.
Westerwelle observou que a interrupção do processo de reformas traria turbulências não apenas para a Itália, mas para toda a Europa.
Longo também observou que, na comparação com 18 meses atrás, a maior parte da dívida pública italiana está agora em mãos de italianos, o que a deixa potencialmente menos volátil. Mas também alertou que o teste de verdade virá após as próximas eleições.
Se o partido vencedor não conseguir uma maioria sólida, todas as medidas de austeridade dos últimos 11 meses poderão ir por água abaixo. Este, segundo o analista, seria o "verdadeiro teste de fogo" dos mercados.
"Vim para ganhar"
Poucos acreditam que Berlusconi deva voltar ao poder, apesar de ele já ter conseguido esse feito outras vezes. Ele mesmo relativizou suas declarações nesta quinta-feira, em entrevista televisiva, sugerindo que talvez não concorra.
Mas o "relançamento" da sua candidatura, no sábado passado (08/12), durante uma partida de futebol, lembrou a sua primeira incursão na política, em 1994, quando ele conquistou o poder utilizando na campanha o coro futebolístico "Forza Italia!".
Nos anos seguintes ele voltaria ao poder por mais duas vezes, apesar de seu envolvimento numa série de escândalos e processos judiciais.
Desta vez, ele declarou à imprensa que "veio para ganhar", mas muitos acham difícil a sua vitória nas próximas eleições. Para o analista político James Walston, da Universidade Americana de Roma, a tarefa é até mesmo impossível. Pesquisas recentes indicam que Berlusconi deverá receber apenas 15% dos votos.
Mas a Itália não costuma eleger seus líderes com ampla maioria. Pierluigi Bersani, o candidato do Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, aparece na frente com o dobro das intenções de voto do ex-premiê, o que está longe de ser uma maioria estável para governar.
Berlusconi, como a voz dos antieuropeus, poderia angariar mais votos do que o esperado devido à impopularidade das medidas de austeridade. Sem dúvida, esse seria um motivo de grande preocupação para os demais lideres europeus.
Outra pedra no sapato dos políticos sérios é o Movimento 5 Stelle (Movimento 5 Estrelas) do comediante Beppe Grillo, que pode levar até 20% dos votos nas próximas eleições.
O historiador e especialista em política italiana da Universidade de Colônia, Rudolf Lill, afirmou à DW que Grillo é o típico antipolítico, mas alertou que caso o Movimento 5 Stelle consiga uma boa margem de votos no ano que vem, poderá dificultar a vida do próximo premiê.
O detonador da zona do euro?
A sociedade italiana atravessa, nos últimos dois anos, uma de suas piores crises. De acordo com dados do Istat, o centro de pesquisas nacionais da Itália, quase três em cada dez italianos correm o risco de cair abaixo da linha da pobreza. Quase a metade das famílias italianas vive com menos de 2 mil euros por mês.
O premiê Monti chegou a afirmar ao jornal La Reppublica que estava muito preocupado com o futuro do país, e alertou que a Itália deveria fazer o possível para "evitar ser o detonador que explodiria a zona do euro".
O que é bom para a Europa não é necessariamente o que faz sucesso entre os italianos. A política austera de Monti acabou isolando-o tanto da população quanto dos demais políticos italianos. Os candidatos à sua sucessão irão sem dúvida considerar com muito cuidado até onde vai a paciência dos eleitores, dentro desse quadro de austeridade econômica.
Stefano Ceccanti, senador do PD, afirmou ao jornal Corriere della Sera que uma aliança de seu partido com Monti poderia ser benéfica para ambos. Se Monti liderar as forças de centro ao lado do PD, Bersani poderia ser o novo premiê, enquanto Monti assumiria a presidência.
Walston alerta que, mesmo se Berlusconi não voltar ao poder, ele tem recursos suficientes para dificultar muito a vida de quem for eleito e certamente irá tentar atrapalhar qualquer coalizão de centro e centro-esquerda que Bersani puder estabelecer, assim como fez durante o mandato de Monti.
Autora: Emma Wallis (rc)
Revisão: Alexandre Schossler