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Estudos latino-americanos

Júlia Neves25 de dezembro de 2008

Institutos latino-americanos em universidades alemãs têm atraído a atenção de vários estudantes. Em Berlim, Hamburgo e Colônia, estão os maiores centros de pesquisa da região.

Universidade Livre de Berlim sedia o maior instituto de estudos latino-americanosFoto: picture-alliance/dpa

O interesse pela cultura latino-americana teve o seu auge na década de 70, com as ditaduras militares e os exílios de políticos e artistas na Europa. Atualmente, a procura de cursos sobre a região deve-se também ao crescimento econômico e ao contraste político e social que a região representa no contexto mundial.

Os estudos geralmente pertencem ao curso de Romanistik, relacionado às línguas românicas português, espanhol, francês e italiano. No entanto, algumas universidades possuem centros específicos sobre a América Latina, nos quais desenvolvem conhecimentos sobre o espanhol e o português, história, geografia, economia e literatura. Os institutos de América Latina de Berlim, Hamburgo e Colônia são os maiores da Alemanha e apresentam especificidades quanto às linhas de pesquisa.

Em Colônia, história é ponto forte de pesquisaFoto: picture-alliance /dpa

Berlim

O Instituto de Estudos Latino-Americanos (LAI) da Universidade Livre de Berlim é conhecido por suas pesquisas na área de estudos culturais, sendo o único a oferecer uma cadeira específica para literatura brasileira. Nos outros, geralmente a matéria está ligada a estudos da América Latina ou de letras em português.

Na graduação, o instituto se encarrega das cadeiras de língua, literatura e cultura da América Latina de três cursos: Língua e Literatura Espanhola com Estudos de Literatura e Cultura em Hispano-América e Brasil, Estudos Portugueses e Brasileiros, e Antropologia Social e Cultural.

Já o mestrado é interdisciplinar e tem seu enfoque exclusivamente na América Latina. A pesquisa da pós-graduação está concentrada em três linhas: Modernidade Fragmentada e Processos de Transformações Sociais, Global e Local em Intercâmbios Transnacionais e Transcontinentais, e Pesquisa de Gênero.

Fundado em 1970, o LAI é o mais tradicional da Alemanha e sedia a maior biblioteca ibero-americana no país, além de arquivos e museus que fazem do instituto referência em estudos latino-americanos. As pesquisas desenvolvidas tratam de temas diversificados, do estudo sobre povos pré-colombianos à elaboração de um dicionário português-alemão de idéias afins em Ciência Cultural.

Hamburgo: matérias de economia e ciências políticas têm parceria com GIGAFoto: picture-alliance / dpa

Segundo o professor do instituto, Marcel Vejmelka, o LAI tenta criar uma dinâmica nas pesquisas, situando a América Latina dentro do contexto mundial e das Américas. "Para entender melhor a região, temos que colocá-la em contraste com os países da América do Norte, por exemplo. É impossível entender a América Latina isoladamente", explica.

Colônia

O Departamento de História Ibero-Latino-Americana da Universidade de Colônia é o único a oferecer a matéria História do Brasil. Nas outras disciplinas, os alunos estudam a história do país comparada às de outros latino-americanos. A professora de História do Brasil, Débora Alves, leciona a cadeira há sete anos e ressalta serem exatamente as diferenças entre o Brasil e outros países da América Latina que atraem a atenção dos estudantes.

Foi por este interesse que alunos do curso de graduação Regionalwissenschaft Lateinamerika (Estudos Regionais em América Latina) – o único da Alemanha – pediram a Alves que oferecesse uma disciplina em português sobre a ditadura militar no Brasil. "Embora a língua, às vezes, fosse uma barreira, o resultado foi positivo, pois eles puderam ter uma visão brasileira da ditadura e não comparada às outras da América Latina", comenta a professora.

Hamburgo

Assim como o instituto de Berlim, o Centro de Estudos Latino-Americanos (LAST) da Universidade de Hamburgo também é conhecido por sua interdisciplinaridade. Na área de economia, por exemplo, o centro trabalha em parceria com o Instituto Alemão de Estudos Globais (German Institute of Global Studies – GIGA), que desenvolve pesquisas em desenvolvimento político, econômico e social da América Latina, África e Ásia.

"O interesse pela cultura latino-americana vem, muitas vezes, do interesse dos estudantes pelo estilo de vida que a região simboliza, muito diferente da Alemanha", aponta o professor do LAST, Markus Schäffauer. Segundo ele, estudar a América Latina é também uma maneira de se aproximar dela e melhor entendê-la.

Para incentivar esta aproximação, o centro realiza encontros com pesquisadores brasileiros. O projeto "Machado de Assis e a Escravidão", por exemplo, reuniu cientistas brasileiros e alemães para discutir a obra do escritor. Coordenada por Schäffauer e pelo também professor Joachim Michael, ambos da Universidade de Hamburgo, a pesquisa discute diversos aspectos da representação da sociedade escravista na obra de Machado de Assis e envolve pesquisadores brasileiros de Minas Gerais e do Rio de Janeiro.

O professor Eduardo Duarte, da Universidade Federal de Minas Gerais, descreve a iniciativa como "um momento histórico para os estudos machadianos na Alemanha, dado o caráter inovador e interdisciplinar do evento". Segundo ele, o encontro não somente expõe os projetos desenvolvidos nas duas universidades, mas também abre portas para futuras cooperações acadêmicas entre os dois países.

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